domingo, 2 de julho de 2017

A MORTE SEGUNDO ARTHUR SCHOPENHAUER


A Morte
O Grande Desengano. O laço formado com inconstância pela criação é desfeito pela morte, sendo a penosa aniquilação o principal erro do nosso ser; o grande desengano.
A Filosofia; Filha da Morte. Morte, gênio inspirador, a musa da filosofia. Sem a qual dificilmente se teria filosofado.
A Noite Eterna. Quão longa é a noite da eternidade comparada com o curto sonho da vida.
Não Sobreviver; Persistir. A indestrutibilidade que a duração infinita da matéria oferece, poderia consolar aquele que não pode conceber outra imortalidade.
“O quê?” – dir-se-á – “a persistência de uma matéria bruta, de um pouco de pó, seria a continuidade do nosso ser?”
Sim, um pouco de pó. Conhecem o que é esse pó? Aprendam a conhecê-lo antes de o desprezar. Essa matéria, pó e cinza, dentro em pouco dissolvida na água, brilhará no esplendor dos metais, projetará faíscas elétricas, manifestará o seu poder magnético, converter-se-á em animal e em planta, e no mistério de sua essência criará essa vida, cuja perda chora amargamente nosso espírito acanhado. Não será nada, então, persistir na indestrutível matéria?

Dogma da Imortalidade. A natureza nos ensina a doutrina da imortalidade, quando se observa, no Outono, o pequeno mundo dos insetos, e se nota que um prepara o leito para o longo sono do Inverno, que outro prepara o casulo onde se transforma em crisálida, para renascer na Primavera, e que, enfim, esses insetos se contentam, quando próximos da morte, em colocar os ovos em lugar favorável para renascerem um dia rejuvenescidos, num novo ser? A natureza nos expõe a esses exemplos com o intuito de demonstrar que não há diferença fundamental entre a morte e o sono; ambos, perigo algum constituem à existência. O cuidado com que o inseto prepara a célula, o buraco, o ninho e o alimento para a larva, que há de nascer na Primavera, e morre, uma vez isso feito, – assemelha-se muito ao cuidado com que o homem, à noite, arruma a roupa, prepara o almoço para o dia seguinte, indo depois dormir sossegadamente. E isto não sucederia se o inseto que morre no Outono não fosse exatamente igual ao que deve nascer na Primavera, assim como o homem que se deita, é o mesmo que se levanta no dia seguinte.
A Vida e a Morte. Nascimento e morte são condições da vida, e se equilibram, formando os dois polos, as duas extremidades da existência, e ao seu redor giram todas as suas manifestações. Um símbolo da mitologia hindu, a mais sábia de todas, dá como atributo a Shiva, o Deus da morte e da destruição, um colar de caveiras e o “lingam”, órgão e símbolo da geração, pois o amor é a compensação da morte, e um ao outro se neutralizam.


Para tornar mais evidente o contraste da morte do homem com a vida imortal da natureza, os gregos e os romanos adornavam os seus sarcófagos com baixos relevos figurando danças, caças, lutas entre animais, bacanais e, numa palavra, todos os espetáculos de uma vida mais forte, mais agradável e alegre, e até mesmo sátiros unidos a cabras.
Necessidade da Morte. A individualidade do homem tem tão pouco valor que nada perde com a morte; há alguma importância nos característicos gerais da humanidade, que são indestrutíveis. Se concedessem ao homem uma vida eterna, sentiria tanta repugnância por ela que acabaria desejando a morte, farto da imutabilidade de seu caráter e de seu ilimitado entendimento. Se exigíssemos a imortalidade perpetuaríamos um erro porque a individualidade não deveria existir, e o verdadeiro fim da vida é livrar-nos dela. Se não houvesse penas e trabalhos, acabaria o homem por enfastiar-se, e voltaria a sofrer as dores do mundo em tudo o que se encontrasse ao seu alcance. Num mundo melhor o homem não se sentiria feliz, o essencial seria fazer com que ele seja o que não é, isto é, transformá-lo completamente. A morte realiza a principal condição; deixar de ser o que é; tendo isto em conta, concebe-se lhe a necessidade moral.
Ser colocado noutro mundo, e mudar inteiramente de ser, é no fundo uma só e mesma coisa. Seria conveniente que a morte, que destruiu uma consciência individual, a reanimasse de novo dando-lhe uma vida eterna? Qual o conteúdo, quase invariável desta consciência? Uma torrente de ideias e preocupações mesquinhas, acanhadas, terrenas. Melhor seria deixá-la repousar eternamente.
Supremo Consolo. Contemplando a expressão de suave serenidade refletido no rosto da maioria dos mortos, parece que o fim de toda a atividade da vida, seja um consolo para a força que a mantém.
Indiferença da Natureza perante a Morte. A vida e a morte, o nascer e o morrer, é o maior jogo de dados que conhecemos; ansiosos, interessados, agitados assistimos a cada partida, porque a nossos olhos tudo se resume nisso. A natureza, pelo contrário, que é sempre sincera e nunca mente, contempla a partida com ar indiferente, não se preocupa com a morte ou a vida do indivíduo, entregando a vida do animal e também a do homem a todos os acasos, não fazendo o mínimo esforço para os salvar. Esmagamos sem querer o inseto que se acha em nosso caminho; a lesma necessita de todo meio para se defender, não pode fugir, esconder-se, nem enganar, está condenada a ser presa de todos os seus inimigos; o peixe saltita tranquilamente na rede ainda aberta; o sapo devido a sua moleza não pode salvar-se; o pássaro não vê o falcão voar sobre sua cabeça, nem a ovelha vê o lobo que a espreita oculto na mata. Todos esses animais inofensivos e fracos, vivem no meio de perigos ignorados, dos quais podem ser vítimas a todo momento.
A natureza exprime com esse procedimento, no seu estilo lacônico, oracular, que lhe é indiferente a destruição de seus seres, não podendo ser por eles prejudicada, e que em casos semelhantes tão indiferente é o efeito como a causa. Por isso abandona sem defesa esses organismos, obras de uma arte eterna, à vontade do mais forte, aos caprichos da sorte, à crueldade da criança, ao mau humor de um imbecil.
A natureza, mãe soberana e universal de todo o criado, sabe que quando seus filhos sucumbem, voltam ao seu seio, onde os conserva ocultos, expondo-os a mil perigos sem temor algum; a sua morte é para ela um divertimento, um jogo. A natureza é indiferente no que se relaciona ao homem ou ao animal; não se deixa impressionar conosco, durante a vida ou na morte. Tampouco devíamos nos comover porque fazemos parte dela.

A Folha Seca Interroga o Destino. Se dirigíssemos o pensamento para um longínquo futuro e procurássemos representar-nos às futuras gerações com os milhões de homens distintos e diferentes de nós pelos usos e costumes, perguntaríamos a nós mesmos: “De onde vieram? Onde estão agora? Onde se achará o profundo seio do nada, produtor do mundo, que os oculta?” Mas a esta pergunta, devíamos sorrir, por onde se poderá achar senão onde toda a realidade é, e será, no presente em tudo o que este representa e contém, em ti, insensato que interrogas, pois ignorando a tua própria essência, assemelhas-te a uma folha seca que oscila no ramo de uma árvore, e, no Outono, pensando na sua próxima queda, lamenta sua sorte, sem querer consolar-se com a ideia dos tenros brotos que na Primavera virão adornar a árvore. E a folha seca se queixa: “Já não sou eu, serão outras folhas”. Oh! folha insensata onde queres tu ir? De onde poderiam vir as outras folhas? Onde está esse nada em que temes sucumbir? Reconhece, pois, o teu próprio ser oculto na força íntima, sempre ativa da árvore, nessa energia que não acarreta a morte nem o nascimento de todas as suas gerações de folhas. Não sucede com as gerações de homens o mesmo que com as folhas de uma árvore?


quarta-feira, 28 de junho de 2017

LEANDRO KARNAL CONTINUA A CONTAR SUAS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DE PROFESSOR INICIANTE.


A AULA - 2 - INTRODUÇÃO AO JOGO E SUAS REGRAS
(Leandro Karnal – Conversas com um Jovem Professor, pp. 16 - 18)
         Passados quase 30 anos do primeiro momento que dei aula na vida, o impacto de entrar numa nova sala, com alunos novos, no primeiro dia de aula ainda me dá medo. Não é mais o medo de antes. Comecei a dar aulas no ensino fundamental e médio antes de me formar. Eu tinha pavor que meus alunos descobrissem que eu ainda não tinha diploma. Um pouco mais tarde, aos 23 anos, comecei a dar aulas na universidade e me vestia de forma a parecer mais velho. Eu tinha um dos medos mais ancestrais de um professor: perder o controle de uma turma. Definitivamente, o medo de parecer jovem demais desapareceu e foi quase substituído pelo receio oposto. Aqueles medos sumiram. Mas o friozinho na barriga continua. Continua o incômodo de não saber os nomes no começo. Estabelecer uma relação semanal com 30, 40, 50 jovens pensando neles apenas como: o de vermelho, a menina de saia, o cabeludo (ou coisas até um pouco pejorativas...) Pior: se eu tiver 10 turmas de 50 (número comum), terei 500 seres humanos para saber o nome a cada ano, e ainda devo considerar que novos entram como se fosse uma cistite permanente pingando no meu diário.


         Aqui, nossa função tem vantagens sobre outras. Uma primeira aula ruim tem efeitos menos visíveis do que uma primeira cirurgia ruim ou uma primeira ponte mal projetada. Porém, o sutil da função de professor é que a primeira cirurgia ruim ou pontes ruins podem ter relação com... aulas ruins. Quando pego um aluno em pleno doutorado que ainda não domina regras básicas do uso da crase, penso: há uns 10 ou 15 anos um professor errou e eu noto isso só agora.
         Regressemos para a aula. Vamos imaginar uma aula típica, de 40 a 50 minutos. Você entra e aquela dúvida volta: devo ser simpático ou seco? Sorrir ou mostrar a cara de autoridade séria? Meu irmão psicólogo usa uma metáfora que aprecio: a relação profissional guarda semelhanças com o salva-vidas. Se ele se aproxima muito do afogado e o abraça fraternalmente, ambos afundam. Se ele fica muito distante, a vítima cumpre sua sina de afogar-se sem ajuda. É inútil fingir uma dureza que você não tem ou que nem quer ter. É perigoso usar de muita intimidade. A aula é um momento profissional e você não é amigo dos alunos. Amizade implica isonomia, igualdade, algo inexistente na sala de aula. Pelo mesmo motivo que você não é amigo, você não é inimigo, pois amizade e intimidade implicam relações pessoais, frequentemente íntimas. Repita para si sempre: sou o professor (porque, em muitas ocasiões, alunos, direção e pais tentarão convencê-lo de outras coisas).


         Já demos o primeiro passo. No início, talvez seja importante pensar nesse equilíbrio entre a familiaridade e a distância. Com o tempo, isso deveria tornar-se mais natural. Há variantes também de cultura para cultura e de escola para escola. É fácil ser próximo quando o aluno é adulto numa universidade e escolheu aquele curso.
         Mas... devo ser sincero. Não é fácil começar. É como aprender a andar de bicicleta: há um momento que tiram as rodinhas auxiliares ou a pessoa que nos apoiava desaparece e estamos sozinhos. É o medo do goleiro na hora do pênalti. É o medo de todo profissional: estou diante do que quero, mas não tenho certeza de como fazer o que quero. Ansiedade natural e universal, mas intensa.

         Chegou o dia: a aula começou e seus alunos sabem por instinto, como feras selvagens, se a pessoa a sua frente está segura ou não, farão uso disso. Distancie-se um pouco e deixe diminuir a importância da situação. Aquela aula não decidirá o destino do universo e, com sorte, a cada semana ela será um pouco melhor ou mais segura ao menos. Enfrente. Não tem jeito. A vítima inicial será seu orgulho, mas o mundo prosseguirá. Respire fundo e entre. É como injeção: a espera pela picada da agulha costuma causar mais angústia do que a espetada em si.


segunda-feira, 26 de junho de 2017

O INCÊNDIO FLORESTAL DE PEDRÓGÃO GRANDE E OUTRAS CATÁSTROFES EM TERRAS LUSITANAS.


O incêndio florestal de Pedrógão Grande iniciado em 17 de junho de 2017 no concelho de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, em Portugal, tendo alastrado aos concelhos vizinhos de Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Ansião e Alvaiázere (também distrito de Leiria); ao concelho da Sertã (distrito de Castelo Branco); ao concelho de Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra) e ao concelho de Góis (Coimbra). O desastre é o maior incêndio florestal de Portugal, o mais mortífero da história do país e o 11.º mais mortífero a nível mundial desde 1900.


Um balanço provisório contabilizou 64 mortos (63 civis e 1 bombeiro voluntário — Gonçalo da Conceição Correia — de Castanheira de Pera) e 254 feridos (241 civis, 12 bombeiros e 1 militar da Guarda Nacional Republicana), dos quais 7 em estado grave (4 bombeiros, 2 civis e 1 criança). Entre as vítimas mortais, 47 foram encontradas nas estradas do concelho de Pedrógão Grande, tendo 30 morrido nos automóveis e 17 nas suas imediações durante a fuga ao incêndio. O incêndio também arrasou dezenas de propriedades.


Uma das possíveis causas apontadas pelas autoridades foi uma descarga elétrica seca que, conjugada com temperaturas muito elevadas (superiores a 40 graus Celsius) e vento muito intenso e variável, fez deflagrar e propagar rapidamente o fogo. No entanto, o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, afirmou categoricamente que este incêndio não teve origem em causas naturais já que, segundo a percepção de alguns habitantes de Pedrógão Grande, o fogo já estaria ativo duas horas antes da altura em que ocorreu a descarga elétrica seca nesta zona. A Procuradoria-Geral da República confirmou que o Ministério Público está investigando as causas do incêndio.
Como resposta à catástrofe, o governo de Portugal decretou três dias de luto nacional, de 18 a 20 de junho de 2017, enquanto várias autoridades internacionais enviaram mensagens de solidariedade.
Em 2014 e 2015, Portugal registou relativamente poucos incêndios florestais. No ano de 2016, o país foi severamente atingido por eventos deste tipo, que consumiram mais de cem mil hectares apenas no seu continental.

Foto da Nasa sobre a Península Ibérica

Uma intensa onda de calor precedeu os incêndios de 2017, em Pedrógão Grande, com muitas áreas de Portugal registrando temperaturas acima de 40 °C. Durante a noite de 17–18 de junho, iniciaram-se um total de 156 incêndios em todo o país, particularmente nas áreas montanhosas a 200 km a nordeste de Lisboa. Os primeiros focos começaram na vila de Pedrógão Grande e espalharam-se rapidamente.
As descargas elétricas secas aconteceram antes do evento e inflamaram alguns incêndios. O diretor nacional da Polícia Judiciária, Almeida Rodrigues, afirmou que a Polícia, juntamente com a Guarda Nacional Republicana (GNR), descobriu a árvore que teria sido atingida por um raio, dando início ao fogo. Rodrigues também descartou que o incêndio tenha origem criminosa.
Mais da metade da região do Pinhal Interior Norte, que abrange Pedrógão Grande, estava ocupada por plantações de eucaliptos, cujo óleo é altamente inflamável, e de pinheiro-bravo, que possui as mesmas propriedades da planta citada anteriormente. O Jornal de Leiria escreveu: "a ajudar a violência do fogo pode ter estado a natureza do coberto vegetal da região, composto por mais de 90% de eucalipto, o baixo teor de humidade do dia de ontem e as altas temperaturas que, mesmo durante a noite, ainda se mantêm.
No dia 20 de junho, uma das frentes ativas do incêndio de Pedrógão Grande confluiu com a frente principal do incêndio de Góis (distrito de Coimbra) e formou uma frente de fogo única com 58 km de extensão, o que levou à evacuação de 27 aldeias. Vários meios foram concentrados em Góis, contando com cerca de 1 000 bombeiros e 7 meios aéreos no combate às chamas. Na noite de 20 de junho mantinham-se 7 frentes ativas no incêndio de Góis.
No dia 21 de Junho o incêndio de Pedrogão Grande foi dado como dominado, vindo a ser declarado extinto dia 24 de Junho. O incêndio de Góis foi dominado no dia 22 de Junho e declarado extinto igualmente no dia 24 de Junho. Ambos os incêndios, com múltiplas frentes que alastraram a diversos concelhos, lavraram durante uma semana, de 17 de Junho a 24 de Junho de 2017.
Pelo menos 64 pessoas morreram nas aldeias ou estradas do concelho de Pedrógão Grande. Outras 204 pessoas ficaram feridas, incluindo doze bombeiros; sete pessoas — cinco bombeiros e uma criança — ficaram em estado crítico.
A maior mortalidade ocorreu na estrada nacional 236-1, numa zona florestal entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, onde 47 pessoas morreram dentro dos seus carros ou perto deles, quando um incêndio atingiu a área. Trinta delas morreram presas no interior dos seus veículos enquanto as outras 17 morreram nas proximidades, ao tentarem escapar a pé. Uma pessoa morreu atropelada. Apesar de a causa da morte de 30 pessoas ter sido atribuída a carbonização, especialistas dizem que a verdadeira causa da morte poderá ter sido a inalação de fumaça e que essas mesmas pessoas só teriam sido carbonizadas muito tempo depois de terem falecido.
Esta foi a catástrofe mais mortal, desde 1989, em Portugal, ano em que ocorreu o acidente aéreo do voo Independent Air 1851, nos Açores, vitimando 144 pessoas. Tratou-se, igualmente, da catástrofe natural mais mortífera sucedida no território português desde as cheias ocorridas na Madeira em 2010 e o evento com mais vítimas mortais no mesmo território desde o desastre áereo de 1989 na ilha de Santa Maria. Também foi o incêndio florestal mais mortal na história de Portugal e um dos três maiores da Europa, consumindo mais de trinta mil hectares de floresta.
Na tarde de 20 de junho, chegou a ser noticiado que um dos aviões Canadair que combatiam o incêndio teria caido em Ouzenda, quando questionado, o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, não pôde confirmar. Mais tarde, a Autoridade Nacional de Proteção Civil desmentiu as notícias que davam conta da queda do avião, atribuindo os relatos de algumas testemunhas à explosão de um depósito de gás.
O primeiro-ministro António Costa chamou o desastre de "a maior tragédia dos últimos anos em relação a incêndios florestais", enquanto o Conselho de Ministros decretou três dias de luto nacional, a contar a partir de 18 de junho. Visivelmente abalado, o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou a Pedrógão Grande na noite 17 de junho e encontrou-se com sobreviventes evacuados para Leiria. Mais de 1.700 bombeiros foram mobilizados para combater os incêndios em todo o país, 800 deles apenas em Pedrógão Grande. Muitas pessoas foram evacuadas para a vizinha Ansião, onde os residentes lhes forneceram abrigo. A fumaça de baixa suspensão impediu que os helicópteros pudessem oferecer apoio, prejudicando os esforços de combate ao incêndio. Alguns sobreviventes criticaram a resposta, que consideraram inadequada do Governo, alegando que, horas depois de o incêndio ter começado, ainda não teriam sido ajudados por nenhum bombeiro. A Comissão Europeia acionou o Mecanismo de Proteção Civil para prestar auxílio a Portugal, enquanto França, Itália e Espanha enviaram aviões de bombardeio de água ao país. O vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, afirmou que a comissão poderia comparticipar até 95% das despesas de recobro e reconstrução necessárias, na sequência do acontecimento. O Reino de Marrocos também enviou um avião de combate a incêndios. Além de aviões de combate a incêndios, a Espanha enviou também veículos terrestres e cerca de 200 bombeiros.
Em Roma, o Papa Francisco orou e pediu que se rezasse pelas vítimas e pelo povo português durante a oração do Ângelus. Diversos outros líderes internacionais enviaram as suas condolências a Portugal, incluindo: Emmanuel Macron, presidente da França; Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha e os reis de Espanha, Filipe VI e Letícia; a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel e o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier; Xi Jinping, presidente da China; Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá;[57] Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia; Prokópis Pavlopoulos, presidente da Grécia e Aléxis Tsípras, primeiro-ministro da Grécia; Paolo Gentiloni, primeiro-ministro de Itália; Stefan Lofven, primeiro-ministro da Suécia; Michel Temer, presidente do Brasil; Francisco Guterres, presidente de Timor-Leste;  Evaristo Carvalho, presidente de São Tomé e Príncipe; Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde; José Mário Vaz, presidente da Guiné-Bissau; José Eduardo dos Santos, presidente de Angola; Fernando Chui Sai-on, Chefe do Executivo de Macau; entre outros.
Também diversos líderes de instituições europeias e mundiais enviaram os seus pesares e palavras de coragem a Portugal e ofereceram ajuda no que lhes fosse possível, incluindo: António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas; Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia; Gianni Infantino, presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA).

HISTÓRICO DOS DESASTRES OCORRIDOS EM PORTUGAL:
PERÍODO
LOCAL/TIPO DE ACIDENTE
N.º DE ATINGIDOS
01/09/1755
Terremoto de Lisboa
60 mil mortos
30/05/1961
Acidente aéreo Viasa 897
61 mortos
28/05/1963
Queda do teto do Caís de Sodré
49 mortos/61 feridos
26/06/1964
Desastre rodoviário de Custóias
90 mortos
12/07/1966
Incêndio em Sintra
25 mortos
03/07/1976
Acidente aéreo de Lajes
68 mortos
19/11/1977
Acidente aéreo do Funchal (TAP)
131 mortos
18/12/1977
Novo acidente aéreo no Funchal
36 mortos
01/01/1980
Terremoto na Ilha Terceira
71 mortos
11/09/1985
Acidente ferroviário em Alcafache
150 mortos
25/08/1988
Incêndio do Chiado
2 mortos
08/02/1989
Acidente aéreo de Santa Maria
144 mortos
21/12/1992
Acidente aéreo de Faro
56 mortos
11/12/1999
Acidente aéreo de São Jorge
56 mortos
04/03/2001
Desastre ferroviário de Entre-Rios
59 mortos
20/02/2010
Enxurradas na Madeira
47 mortos
250 desaparecidos
08/08/2016
Incêndios na Ilha da Madeira
3 mortos / 2 feridos

NOSSAS HOMENAGENS E SENTIMENTOS ÀS VÍTIMAS DO INCÊNDIO EM PEDRÓGÃO GRANDE:



domingo, 25 de junho de 2017

LEANDRO KARNAL CONTA A SUA EXPERIÊNCIA DO PRIMEIRO DIA DE AULA:

A AULA - 1 - INTRODUÇÃO AO JOGO E SUAS REGRAS
(Leandro Karnal – Conversas com um Jovem Professor, pp. 15 e 16)


         Vai começar. Você estudou anos para isto. Preparou aquela aula. Leu e debateu autores que tratam do tema. Porém, nada no planeta pode substituir a experiência de enfrentar uma turma pela primeira vez. Uso o verbo enfrentar porque é esta a sensação: dezenas de olhos colocados sobre você. Um pouco mais de silêncio se for uma turma que não se conhece ou... muito barulho se for uma turma que se reencontra depois das férias. E, finalmente, cadernos e livros na mão, ei-lo entrando para o local privilegiado da sua profissão: a sala de aula.
         A faculdade antecipa pouco essa experiência real. Onde eu enfio Piaget e Vigotsky quando vou fazer a chamada? Dúvidas banais substituem os grandes temas da psicopedagogia: coloco “P” ou “ponto” para a presença? E aqueles trabalhos imensos sobre a produção do conhecimento numa sociedade dependente periférica capitalista? Agora só ocorrem perguntas triviais e poucos nobres: é permitido rasurar o diário? Será que eu posso autorizar a ida ao banheiro daquele aluno que está de pé desde que eu entrei?

         Na verdade, o banho realístico veio antes da sua solene entrada na turma. Começou na sala dos professores. Colegas deram conselhos práticos: “Não mostre os dentes no primeiro dia”. Para quem não está acostumado a essa linguagem, significa não sorrir de imediato para não perder o controle da sala. Os mais experientes soltaram risadinhas: “Você vai ver aquela sétima B”! A advertência é quase uma praga, ou, talvez, um desejo velado de que você fracasse. Disseram-me há uns 30 anos: “Deus inventou o conhecimento e o diabo, invejoso, criou o colega...”. Na época, muito jovem, eu achava a frase amarga.
         Aqui, um conselho prático: antes de entrar em sala, ouça os colegas, desde os muito interessantes até os indiferentes. Alguns querem ajudar. Outros não toleram sua juventude ou entusiasmo. Ouça todos. Porém nunca esqueça: a fala do colega diz respeito, exclusivamente, à experiência dele e não a sua. O aluno-problema dele talvez seja apenas dele e a turma fácil talvez não flua tão bem com você.

         Ouça sempre. A experiência tem valor, mas esteja atento a essa verdade pétrea que vale até para este texto: bons conselhos podem ser úteis, mas seu caminho será construído exclusivamente por você.


sexta-feira, 23 de junho de 2017

O IMPÉRIO DO CAFÉ


O CAFÉ E A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX


            A grave crise econômica e financeira que abalava o Brasil desde as primeiras décadas do século XIX só poderia ser superada com a rápida reativação do setor agroexportador. Afinal, o país permanecia essencialmente agrícola e escravocrata, não dispondo de capitais e técnicas próprias que pudessem ser aplicados em novas atividades. Dessa forma, o Brasil continuava dependendo diretamente dos estímulos do comércio internacional para assegurar seu crescimento econômico.
            A grande expansão alcançada pelas lavouras exportadoras de café, no decorrer do século XIX, tirou o Brasil da situação de crise.


            Durante o século XVIII o consumo do café propagou-se muito nos principais centros urbanos e culturais da Europa. Este consumo era suprido principalmente pela produção cafeeira das colônias francesas (Haiti), inglesas (Ceilão) e holandesas (Java). Neste mesmo século o café foi introduzido no Brasil, alastrando-se pelo país, desde o Pará até Santa Catarina e do litoral até o interior (Goiás) Mas o café brasileiro produzido nesta época destinou-se basicamente ao consumo local. A mineração e as exportações de açúcar, algodão, tabaco, couro e produtos nativos continuavam a absorver quase que completamente o capital e a força de trabalho disponíveis no Brasil.


            No final do século XVIII, o café, começou a ser cultivado no Rio de Janeiro, juntamente com o açúcar e o algodão, encontrando condições de clima e solo muito favoráveis para seu desenvolvimento. Na segunda década do século XIX, período de dificuldades da agricultura escravista tradicional, a produção do café na província fluminense já atingia índices apreciáveis (1818 chegaram a ser produzidas cerca de 300.000 a 400.000 arrobas). O café começava a projetar-se como um produto de grande valor comercial para o Brasil.
            A partir de 1830 a produção cafeeira desenvolveu-se plenamente:

1826 - 1830
foram produzidas 1.618.202 sacas
1831 – 1835
3.304.312 sacas
1836 - 1840
4.623.345 sacas

            Com isso, o café passou a ocupar um lugar de destaque na pauta das exportações brasileiras, atingindo 43,8% na década 1830 – 1840.

            Os principais fatores que impulsionaram a expansão da cafeicultura no Brasil foram:
  • o aumento constante da demanda na Europa e nos EUA;
  • a constante alta dos preços do café no mercado mundial, devido à desorganização da produção cafeeira das Antilhas;
  • a existência no Brasil dos recursos necessários para a implantação da lavoura cafeeira (terras, escravos, transporte animal e equipamentos), recursos que estavam sendo subutilizados nas áreas mineradoras decadentes e nas lavouras tradicionais estagnadas;
  • as condições naturais muito favoráveis para a cafeicultura (temperaturas amenas, chuvas regulares durante o ano, altitudes entre 300 e 900 metros), encontradas nas várias regiões do Sudeste Brasileiro (Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais e São Paulo). 

            
               A expansão cafeeira no Brasil no decorrer do século XIX pode ser dividida em duas etapas principais:
·        Etapa I – expansão pelas áreas fluminense e do Vale do Paraíba (1830 – 1870);

·        Etapa II – expansão pelo Oeste Paulista (1850 – 1930).


Veja também:

ARQUEOLOGIA E PALEONTOLOGIA: DOIS MUNDOS, UM MESMO FASCÍNIO PELO PASSADO

Quando falamos em escavar o solo em busca de vestígios do passado, muitas pessoas imediatamente pensam em fósseis de dinossauros e utensílio...

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