Lembro-me
que Cristovam Buarque em sua declaração eleitoral colocou seu maior bem: sua
biblioteca.
Posso
dizer-lhes também que um dos maiores bem que possuo é minha biblioteca, devo
ter mais de 5.000 livros, depois dos 3.000 parei de contar. Desde que comecei
estudar História, comecei a montar minha biblioteca que começou com três livros
que ainda lembro-me e dois deles ainda tenho, um sumiu no meio das emprestadas.
Meus
três primeiros livros, que comprei e li-os nas férias de 1986 (neste ano eu já
possuía minha enciclopédia Novo Conhecer) foram: As Veias Abertas da América
Latina do Eduardo Galeano, A História da Riqueza do Homem do Léo Huberman e
Brasil, Nunca Mais! Encabeçado pelo querido Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns.
É
claro que antes deles, no primeiro ano de História, foram imprescindíveis os
livros da coleção primeiros passos, O que é História? O que é Sociologia? E o
que é Dialética. Depois destes não lembro mais a ordem das compras, mas foram
muitos os ataques a sebos e também não me esqueço da delícia que era comprar na
livraria Prosa & Verso do grande amigo Rafael. Bons tempos.
Minha
biblioteca atual é muito diversificada, é claro que a maioria dos livros são de
História Mundial e do Brasil, porém tenho muitos livros de literatura, tanto
brasileira quanto estrangeira, filosofia, e os mais diversos. Tenho mais de dez
bíblias, várias obras em Inglês, Espanhol e até em francês. Possuo até livros
repetidos, porém de edições diferentes, ter uma primeira edição é algo
glorioso. Tenho um livro autografado pessoalmente pelo Jorge Amado, que enviou
para mim, ABC de Castro Alves, e diz o
seguinte: “Para Cláudio Maffei, com os votos para sua ???? e sua ficção. O
abraço de JAM, Bahia 1995 ou 1997”
Eta, letrinha danada!
Muito
bem, agora tire o olho, que sou muito cioso com meus livros e só empresto
realmente para quem é de minha confiança, mesmo assim, vivo levando alguma
pernada, pois dois dos livros que citei acima (As veias abertas e O que é
Historia) foram e não voltaram.
É
isso aí, um dia se a Luiza ou o Luiz Otávio não quiserem ficar com meus livros,
após meu passamento (o palavrinha feia), espero que a mesma seja doada para uma
boa biblioteca, que pode ser a municipal de Porto Feliz. Tive a chance de
visitar a Biblioteca do Florestan Fernandes em São Carlos na UFSCAR é
fantástico você ver livros onde o nobre sábio riscava e deixava suas anotações.
Só não quero que minha biblioteca acabe indo para a reciclagem. Para terminar
deixo um exemplo do que falei neste parágrafo do Eduardo Galeano:
1984
Rio de Janeiro
Desandanças da memória coletiva
na América Latina
O
contador público João David dos Santos deu um pulo de alegria quando conseguiu
receber seus muitos salários atrasados. Não foi em dinheiro, mas conseguiu
receber. Na falta de dinheiro, um centro de investigação em ciências sociais
pagou-lhe com uma biblioteca completa, de nove mil livros e mais de cinco mil
jornais e folhetos. A biblioteca era dedicada à história contemporânea do
Brasil. Continha materiais muito valiosos sobre as ligas camponesas do
Nordeste, os governos de Getúlio Vargas e muitos temas.
Então
o contador Santos pôs a biblioteca à venda. Ofereceu-a aos organismos
culturais, aos institutos de história, aos diversos ministérios. Nenhum tinha
fundos. Tentou as universidades, oficiais e privadas, uma após outra. Não
adiantou nada. Numa universidade deixou a biblioteca emprestada, por alguns
meses, até que lhe exigiram que começasse a pagar aluguel. Depois tentou os
particulares. Ninguém mostrou interesse: a história nacional é enigma ou
mentira ou bocejo.
O
infeliz contador Santos sente um grande alívio quando finalmente consegue
vender sua biblioteca à Fabrica de Papel Tijuca, que transforma todos esses
livros e jornais e folhetos em papel higiênico colorido.
(extraído de Eduardo Galeano, O
Século do Vento, 1988)
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