HISTÓRIA
(texto da
Enciclopédia Novo Conhecer)
Pode-se
imaginar que o homem quando aprendeu a se comunicar e passou de curtas frases
guturais (gemidos) à construção de uma linguagem, logo começou a contar
estórias. Podemos visualizar, ao redor de uma ancestral fogueira, homens
semivestidos a relatar uns aos outros as experiências das últimas caçadas. As
narrativas mais impressionantes, por seus aspectos heróicos ou trágicos,
permaneciam vivas à força de serem repetidas. Sua transmissão de pais para filhos
criava e reforçava os sentimentos de solidariedade entre o grupo. Embora
misturada à lenda, estava se iniciando a História.
Hoje
ela significa a reconstrução da vida das sociedades, em suas formas
organizativas e culturais, o que exige métodos especiais de trabalho e
pesquisa. As sociedades vivem sua própria História. Aos historiadores compete
reconstruí-las em sua forma original, para submetê-la a uma análise cujo
objetivo último é compreender o homem, em sua ação e em seu relacionamento
dentro da sociedade.
A pré-história da História
Os
relatos orais acompanharam as gerações desde tempos imemoriais até a antiga
Grécia. E os séculos transformaram os personagens históricos em deuses e
heróis, até que, durante o esplendor de Atenas (século V a.C.), Heródoto
resolveu fixar no papel os fatos reais das guerras entre gregos e persas
ocorridas alguns anos antes (500-479
a .C.) Para isso viajou pelos locais em que se
desenvolvera o conflito, pesquisando documentos e ouvindo pessoas. O resultado
foi um livro a que chamou “História”, onde apresentou uma nova forma para o
estudo de documentos. Embora revelasse certo exagero e alguma imprecisão, sua
obra permaneceu até nossos dias como um texto básico para o conhecimento
daquele período. Pelo seu trabalho, a posteridade o consagrou como o “Pai da
História’.
Quase
na mesma época, Atenas produziu um segundo historiador, Tucídides (471? – 400?
A.C.), que participou da luta entre Atenas e Esparta e escreveu depois a
“História da Guerra do Peloponeso”. Nela, desenvolveu uma análise crítica que
lhe valeu ser considerado como um dos maiores historiadores da antiguidade.
Heródoto de Halicarnasso e Tucídides lançaram as bases metodológicas da
História, iniciando o seu desenvolvimento como disciplina específica.
A História da pré-história
Durante
um longo tempo, as culturas antigas que não conheceram a escrita permaneceram
inacessíveis aos historiadores. Supunha-se a existência dessas civilizações
unicamente pelos vestígios encontrados de armas e utensílios. Entretanto, o
progresso das pesquisas logrou estabelecer algumas conclusões sobre esse
período, que ficou conhecido como a pré-história. Conforme o grau de
aperfeiçoamento técnico dos restos de objetos encontrados, a pré-história foi
dividida em quatro idades representativas dos estágios de desenvolvimento
dessas civilizações.
Os
tempos mais remotos foram chamados de Idade da Pedra Lascada (ou Paleolítico),
quando armas e utensílios eram feitos com lascas de pedras trabalhadas
rusticamente. Na fase seguinte (Pedra Polida ou Neolítico), os objetos já são
mais elaborados. O polimento da pedra indica um progresso técnico,
correspondente a uma organização social mais complexa. Depois, o homem
apropriou-se dos metais, aperfeiçoando a fundição do cobre e do estanho, cuja
liga deu nome ao período (Idade de Bronze). O bronze foi, inclusive, usado como
meio de troca (moeda). A última fase da pré-história foi denominada Idade do
Ferro. Suas formas de organização social são complexas e nela surge a escrita. Com
os primeiros documentos escritos saímos da pré-história. Naturalmente, essa
sucessão de fases é mais exata para algumas regiões que para outras. E a
cronologia varia muito. Os Egípcios inventaram a escrita antes mesmo de usar o
bronze e vários povos tribais dos nossos dias não chegaram sequer a desenvolver
uma cultura material do tipo neolítico. Não se trata, portanto, de fases
necessárias, mas de etapas que ocorreram na maior parte do Velho Mundo.
A História dividida
Para
facilidade de estudo, a História foi classificada em períodos ou idades,
obedecendo a uma seqüência cronológica. Segundo tal orientação, a História
divide-se em Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Dentro deste critério,
adotado para a História Ocidental, cada uma das idades revela um sistema social
padrão, sujeito a constantes transformações.
Isso
quer dizer que as divisões da História não são arbitrárias. Quer dizer, também,
que as civilizações não desmoronam, nem se acabam repentinamente. Estão, isto
sim, sempre se modificando. Cada fato histórico é conseqüência de fatos
anteriores e será causa de novos fatos que virão a seguir. Embora a divisão da
História nos mostre sistemas sociais diferentes, a História é toda ela um só
conjunto de fatos inter-relacionados.
Das pirâmides à queda de Roma
A
Idade Antiga começa com a própria História. Nela incluem-se os povos de origens
mais remotas, como os sumérios, egeus, egípcios, assírios, caldeus e persas.
Entretanto, seu apogeu é a Antiguidade Clássica, que abrange as fases
hegemônicas da Grécia e de Roma.
Iniciando-se
cerca de 3.500 a .C.,
a Antiguidade chegou ao seu fastígio na Atenas do século V a.C.. Nele viveram
Péricles, Sócrates e Platão. No século seguinte Alexandre Magno e Aristóteles.
Com a decadência grega, a supremacia se deslocou para Roma, onde atingiu seu
esplendor no século anterior a Cristo, época de César e Augusto.
Na
era cristã, Roma sofreu um lento ocaso, com a degeneração de seus costumes e
instituições, enquanto se fortaleciam as novas doutrinas espirituais.
Convencionou-se marcar a passagem para a Idade Média no ano de 476, em que o
Império Romano do Ocidente se desmembrou com a invasão de bárbaros, de origem
germânica.
O tempo dos cavaleiros
Nossa
visão de Idade Média é toda ela povoada de castelos e de cavaleiros andantes. É
a época dos barões, dos senhores feudais, das Cruzadas. Essa organização feudal
se estruturou ao fim das investidas dos bárbaros, após a unificação e
cristianização da Europa, realizada por Carlos Magno (coroado em 800).
Cristalizou-se, a partir de então, um grande fervor religioso, cuja expressão
máxima está consubstanciada na filosofia de Santo Agostinho e de Santo Tomás de
Aquino.
A
grande fase das cavalarias ocorre por ocasião das Cruzadas, que tinham como
meta libertar Jerusalém da dominação turca, sem ignorar objetivos comerciais.
Mas a estrutura econômica medieval baseava-se principalmente na agricultura e
nas relações entre os servos e senhores feudais. O aparecimento e a
intensificação do comércio urbano levaram ao enfraquecimento da organização
agrária e à decadência do feudo. Duas datas são apontadas como críticas: 1453,
quando os turcos tomam Constantinopla (com a conseqüente migração dos sábios
bizantinos para a Europa), e 1492, com a descoberta da América.
Depois, os Reis poderosos
De
modo geral, quando pensamos em uma corte luxuosa, de onde um rei dirige
despoticamente seu país, estamos pensando na História Moderna. Ela se
caracteriza pela centralização do Estado nas mãos de soberanos poderosos,
ficando a maioria das nações sob o regime da monarquia absoluta. Iniciado com o
Renascimento e as Grandes Navegações (que seriam marcos de transição), o
absolutismo teve seu apogeu na Inglaterra com Henrique VIII e Elisabeth I, e na
França dos luíses.
Mas
o evoluir do conhecimento humano e o enriquecimento da burguesia começaram a
minar o absolutismo. Consolidam-se os anseios democráticos, com a divisa de que
todos os homens são iguais, e eclode a Revolução Francesa (1789), que derruba
do trono Luís XVI. Assim termina praticamente o absolutismo, e com ele a Idade
Moderna, iniciando-se a Idade Contemporânea.
A História vai à lua
Embora
tenha apenas duzentos anos a História Contemporânea está repleta de fatos
importantíssimos. No século XIX houve Napoleão, e depois dele o surto de
nacionalismo que inspirou a independência de quase todos os países da América
Latina e Europa.
No
século XX ocorreram duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) e o
aparecimento do mundo socialista. Além disso, um sopro de liberdade percorreu
os países africanos e outras regiões que eram colônias do Ocidente.
Durante
todo o período desenvolveu-se a Revolução Industrial, que a partir da
Inglaterra se espalhou pelo mundo, atingindo hoje os países menos
desenvolvidos.
Em
nossos dias, a exploração das possibilidades da energia atômica, o advento dos
foguetes espaciais e mudanças sociais profundas com o avanço dos computadores e
da internet são alguns dos fatos marcantes que vivemos. E o desenvolvimento
tecnológico tem provocado ora euforia, ora sérias apreensões.
O Ofício de Historiador
Atualmente,
a tarefa do historiador é submeter os fatos Históricos a uma análise, a mais
ampla e objetiva possível. Seu trabalho desenvolve-se a partir da escolha e
pesquisa dos materiais necessários ao estudo do assunto.
A
natureza desse material é a mais diversa. As fontes escritas são documentos
políticos, diários, anais, inscrições fúnebres, obras literárias, etc. Como
exemplo teríamos os “Comentários” de Julio César sobre a guerra da Gália, as
crônicas do florentino Dino Compagni na Idade Média, ou ainda os hieróglifos
egípcios deixados na pedra de Roseta e decifrados por Champollion.
As
fontes não escritas compõem-se dos remanescentes materiais das culturas, como
as pinturas do homem das cavernas, ruínas de cidades e templos, objetos de uso
doméstico, jóias, moedas, armas, cidades e templos, objetos de uso domésticos,
jóias, moedas, armas, e o que mais tenha desafiado a ação do tempo.
A
variedade enorme desses documentos faz com que o historiador sozinho nem sempre
possa interpretá-los. Para uma visão correta, existem outras ciências
auxiliares, às quais deve recorrer a História.
Se
o historiador precisa decifrar uma inscrição incisa em uma pedra, tumba ou
edifício publico, apela para a Epigrafia. Se seus escritos estiverem em papiros
ou tabuinhas de cera e cerâmica, ele se volta para a Papirologia ou a
Paleografia.
Para
os documentos oficiais que foram conservados, existe a Diplomática. Brasões de
família antigas, moedas e medalhas, selos e sinetes, são objeto,
respectivamente, do estudo da Heráldica, da Numismática e da Esfragística.
A
descoberta e análise de todas essas fontes deve-se a uma ciência mais geral, a
Arqueologia, cujo trabalho valioso trouxe à tona culturas e civilizações que
permaneciam desconhecidas.
Após
haver coletado os subsídios de que necessita, o historiador inicia a segunda
parte de seu trabalho, quando submete suas fontes a uma análise crítica e
começa a formar um quadro de interpretação dos dados a seu dispor.
Até
esse momento, o historiador procurou ser o mais objetivo possível. Mas agora
não poderá mais manter tal isenção de ânimo. Por mais que o historiador procure
visualizar a História com os olhos puros do cientista, sua análise final
resultará filtrada por sua própria realidade. Sendo impossível alcançar a total
objetividade, ele interpreta os fatos históricos sob essa consciência,
imprimindo à História uma nova orientação, que extrai do passado as lições para
o futuro.