domingo, 24 de junho de 2018

OS MÓRMONS - IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS (1)


         A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, popularmente conhecida como Igreja Mórmon é uma igreja de fundamentação crista com características restauracionistas, e a maior denominação originária do Movimento dos Santos dos Últimos dias.

         Restauracionismo ou Primitivismo Cristão é a postura histórico-teológica presente em algumas denominações religiosas que creem que o cristianismo histórico apostatou, ou seja, renunciou aos princípios que acreditava, em algum ponto da sua existência, sendo necessário restaurar o cristianismo primitivo da era apostólica.


         O nome oficial da igreja se refere a Jesus Cristo como seu líder e à conversão dos fiéis, ou santos, à igreja, na última dispensação – de onde surge a referência aos “últimos dias”. O termo “santos” é a mesma denominação usada na época de Jesus Cristo no Novo Testamento. A Igreja está sediada em Salt Lake City, nos Estados Unidos e estabeleceu congregações em todo o mundo. Em 2015, a igreja relatou contar com pouco mais de 15,6 milhões de adeptos em todo o mundo, um crescimento de 27,4 % comparado ao ano de 2006, onde eram 12,5 milhões de adeptos mundialmente, enquanto em 1990 registravam-se 7,7 milhões. Atualmente, se converte numa das maiores denominações religiosas cristãs do mundo, fazendo-se presente em cerca de 206 países e territórios dependentes. No Brasil, de acordo com estimativas dos registros da instituição religiosa, esta possui pouco mais de 1,2 milhão de adeptos, caracterizando-se no terceiro país em número de fiéis no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e México.


  Países e territórios com pelo menos um templo mórmon em 2007
  Países e territórios sem Templos mórmons, mas com congregações organizadas e missionários em 2007
  Países e territórios sem presença oficial da Igreja em 2007

         Os adeptos, habitualmente referidos como Santos dos Últimos Dias ou Mórmons, são cristão restauracionistas e conservadores, e não se encaixam em nenhuma vertente do cristianismo atual. À semelhança de outras organizações restauracionistas, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias adota o relato de que, após eventos descritos no Novo Testamento, houve uma grande apostasia da verdadeira fé cristã e do sacerdócio, com esta verdadeira fé e sacerdócio tendo sidos restaurados por Joseph Smith Júnior, através da profecia e da visitação de Deus, o Pai Celestial, e seu filho Jesus Cristo, como sendo mensageiros celestiais. Assim, a Igreja afirma ser a única organização na Terra com autoridade para realizar ordenanças válidas (como batismo e outros sacramentos), além de outras ordenanças já praticadas antigamente, que foram reveladas novamente por Deus por intermédio de Joseph Smith Júnior, como o casamento eterno e o batismo vicário.


Presidente Russel M. Nelson
         Sob uma doutrina de contínua revelação, os Santos dos Últimos Dias acreditam que Jesus Cristo, sob a direção de Deus, o Pai, leva à igreja revelações sobre a sua vontade, dadas ao seu presidente, a que os adeptos consideram como um moderno “profeta, vidente e revelador”. O presidente atual é Russel M. Nelson. Os membros individuais acreditam que eles também podem receber uma revelação pessoal de Deus na condução de suas vidas. O presidente lidera uma estrutura hierárquica com vários níveis, descendo até as congregações locais. Bispos são considerados os líderes de congregações locais. Os membros masculinos, depois de terem atingido os doze anos de idade, podem ser ordenados para o sacerdócio, desde que estejam vivendo dentro dos padrões da igreja. As mulheres não ocupam posições dentro do sacerdócio, mas ocupam cargos de liderança na igreja em organizações auxiliares.

         Tanto homens como mulheres podem servir como missionários, e a igreja mantém um grande programa missionário de proselitismo religioso, além de realizar serviços humanitários em todo o mundo. Os membros fiéis devem aderir à leis sobre a pureza sexual, saúde, jejum e a observância do dia sagrado (para a igreja, o domingo). Além disso, a igreja realiza ordenanças sagradas por meio do qual os aderentes fazem convênios com Deus, incluindo o batismo, a confirmação, o sacramento (comunhão santamente), investidura e casamento celestial (bênçãos matrimoniais que se estendem para além da mortalidade), todos de grande importância para os membros da igreja.

Templo em Salt Lake City

HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

         Segundo relato do próprio Joseph Smith Júnior, aos catorze anos de idade, após querer saber a qual igreja de sua época deveria se filiar, retirou-se para ler a Bíblia em seu quarto quando leu em Tiago 1:5: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada. Refletindo sobre o que lera Joseph retirou-se em oração e afirmou ter recebido uma visão na manhã de primavera de 1820, num bosque próximo à sua casa, na qual Deus e Jesus Cristo lhe ordenaram que não se filiasse a nenhuma das igrejas existentes, mas que restaurasse a verdadeira Igreja de Cristo. Este acontecimento é conhecido como a Primeira Visão. A tradição da igreja diz que Joseph Smith Júnior recebeu do anjo Morôni a informação sobre o local onde estavam enterradas uma coleção de placas de ouro gravadas, que continham um registro da comunicação de Deus com os antigos habitantes das Américas e que também continha a plenitude do evangelho eterno. Mais tarde este registro nas placas seria traduzido por Joseph Smith Júnior alegadamente pelo dom e poder de Deus, dando origem ao Livro de Mórmon, mais um livro testificando do evangelho de Jesus Cristo. O termo mórmon, geralmente usado para referir-se aos autores e compiladores das escrituras que formaram o livro.
          É dito ainda que, em 22 de setembro de 1827, o anjo Morôni, na Colina Cumorah (localizado no Condado de Ontário, no estado de Nova Iorque nos Estados Unidos) entregou a Joseph Smith Júnior as placas de ouro a fim de que ele as traduzisse. Joseph e Oliver Cowdery concluíram a alegada tradução em 1830 e o Livro de Mórmon foi publicado no dia 26 de março deste mesmo ano.
         Ainda em 1830, em 6 de abril na cidade de Fayett, no estado de Nova Iorque, foi instituída a igreja, que rapidamente cresceu, gerando contra si fortes perseguições que culminaram no assassinato de Joseph Smith Jr. E seu irmão Hyrum Smith em 1844, no cárcere de Cartage, em Nauvvo, Illinois. A perseguição não obteve sucesso, pois a nova religião continuou a se expandir, apesar da morte do primeiro profeta. Nos dias atuais, impulsionada pela obra de missionários, que são jovens solteiros entre 18 a 26 anos (para os homens) e a partir de 19 anos (para as mulheres), a igreja realiza sua pregação pelo mundo.
         A organização da igreja a partir de então até hoje, consiste e um profeta e dois conselheiros, compondo a Primeira Presidência, e doze apóstolos. Seguidos então por uma grande variedade de líderes locais, todos servindo voluntariamente. Lembrando que a igreja ensina que o cabeça da organização é Jesus Cristo (Efésios 2:20).
         Joseph Smith Júnior, alegando ter recebido uma revelação divina de que a igreja deveria construir templos, ordenou que fosse construído o templo em Kirtland, no estado de Ohio. Assim sendo em 27 de março de 1836, foi dedicado o Templo Kirtland, o primeiro templo mórmon. Entretanto, o templo foi abandonado algum tempo depois, devido à perseguição imposta aos Santos dos Últimos Dias, que abandonaram a cidade. Com a evacuação de Kirtland, os Santos se abrigaram em povoados no estado vizinho do Illinois. Isso culminou, em 16 de dezembro de 1840, na criação da cidade de Nauvoo, fundada pelos Santos. Com a contínua perseguição, Nauvoo também foi abandonada pelos mórmons, em 1846, dois anos depois da morte de Joseph Smith Júnior. Expulsos de Missouri e Illinois, muitos refugiados mórmons, liderados por Brigham Young, colocaram todos seus pertences em carroções e migraram para o oeste do país. Esses migrantes ficaram conhecidos como pioneiros mórmons. A mãe de Joseph Smith Júnior, Lucy Mack Smith, foi uma das que abandonaram Nauvoo e seguiram rumo ao oeste, juntamente com os pioneiros. Todavia, Emma Smith, viúva de Joseph e então presidente da Sociedade de Socorro, recusou-se a migrar para o oeste permanecendo em Kirtland, onde morreu em 1879.

Lucy Mack Smith
         A igreja encontrou paz e espalhou-se fortemente na região oeste dos Estados Unidos, e rapidamente foi crescendo pelo mundo. A cidade fundada pelos membros da igreja, Salt Lake City, é vista hoje como uma das melhores cidades do mundo para se viver.

A ERA PIONEIRA
Brigham Young
         Em 1846, após as dificuldades enfrentadas no Missouri (culminando em uma ordem de extermínio decretada contra os mórmons) e com a perseguição contínua em Illinois, Brigham Young conduziu seus seguidores, os pioneiros mórmons, na maior migração forçada da História dos Estados Unidos. Os pioneiros mórmons migraram para o oeste do país e estabeleceram-se na região do Vale do Lago Salgado. No dia 24 de julho de 1847, após chegarem ao Vale de Salt Lake, Brigham Young afirmou que “aquele seria o lugar para o descanso dos mórmons”. Assim, em 1850, os mórmons que se instalaram no local criaram o Território de Utah em busca de liberdade religiosa.
         O grupo ramificou-se e colonizou uma grande região conhecida como “Corredor dos Mórmons”. Ainda jovem, Brigham Young integrou-se à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e passou a dedicar-se a ela. Após a morte de Joseph Smith Júnior, inicialmente, regeu tanto a igreja como o Estado, já que o mesmo foi indicado governador, tornando-se um líder teocrático. Ele também propôs a prática do casamento plural, uma forma de poligamia, devido a existência de diversas mães e crianças abandonadas na comunidade decorrente da grande quantidade de homens que lutaram na Guerra Civil Americana. Afirmou ter recebido esta lei como um mandamento de Deus da mesma forma que os antigos profetas do Antigo Testamento, mas esta prática, posteriormente, foi descontinuada devido a uma suposta nova revelação a Wilford Woodruff em 1890 em que Deus pediria para que a prática fosse cessada. Isto porque o número de viúvas já não era o mesmo e as famílias já haviam encontrado um lar e abrigo seguros e também porque o governo dos Estados Unidos promoveu ações contra polígamos.

         Por volta de 1857, houve novamente um escalada das tensões entre os mórmons e outros americanos, em grande parte como resultado das denúncias envolvendo a poligamia e da condição de Estado teocrático do território de Utah por Brigham Young, que fora indicado governador do Território pelo governo federal. A chamada Guerra Mórmon seguiu de 1857 a 1858, e resultou, relativamente pacífica, na invasão de Utah pelo Exército dos Estados Unidos. Após o fato, os mórmons da região aceitaram a renúncia de Brigham Young e passaram a ser liderados por um governador não-mórmon, Alfred Cumming. No entanto, a igreja ainda exercia o poder político significativo no Território de Utah, por serem mais da metade da população da região.
Joseph Fielding Smith
         Com a morte de Brigham Young, em 1877, na Casa de Leão, Utah passou a ser governado por outros presidentes mórmons, sendo que alguns membros resistiram aos esforços do Congresso dos Estados Unidos em proibir casamentos polígamos no estado de Utah e foram excomungados da igreja. O conflito entre os ex-mórmons e o governo americano agravou-se a tal ponto que, em 1890, o Congresso propunha a desintegração da igreja e apreendeu todos os seus bens. Logo depois, o presidente da igreja, Wilford Woodruff, publicou um manifesto que suspendeu oficialmente a prática da poligamia por todos os membros da Igreja em todo os Estados Unidos e outros países com presença oficial da igreja até o momento. O manifesto melhorou as relações da igreja com os EUA e aumentou de forma acentuada a convivência pacífica entre ambos após 1890, tal que Utah foi admitido como um estado americano em 1896. As relações melhoraram ainda mais após 1904, quando o presidente da igreja, Joseph F. Smith, desmentiu a poligamia perante o Congresso dos Estados Unidos e emitiu um "“segundo manifesto” contra a continuação da poligamia entre os mórmons do país. Eventualmente, a igreja adotou uma política de excomungar os membros encontrados praticando a poligamia e, hoje, procura ativamente distanciar-se de grupos autodenominados “fundamentalistas”, que continuam a praticar a poligamia.


TEMPLOS ATUAIS
         Na primeira metade do século XX, a igreja expandiu-se para diversos países e territórios, principalmente para a América do Sul, onde criou missões e enviou missionários para países como Chile, Argentina, Peru, Brasil e Equador. A igreja expandiu-se ainda para países da Europa Ocidental, tendo como destaques a Suíça, onde localiza-se o Templo de Berna, primeiro templo mórmon construído no continente europeu, e o Reino Unido, que possui a maior comunidade mórmon da Europa

Berna - Suiça

         Atualmente, a igreja mantém 144 templos funcionando no mundo, espalhados por todos os continentes. Há outros 12 em construção e mais 14 já anunciados. No Brasil, são seis templos em operação: São Paulo, Recife, Porto Alegre, Campinas, Curitiba e Manaus. Um novo templo está sendo construído em Fortaleza e outro foi anunciado para a cidade do Rio de Janeiro e em Belém, no Pará.
Porto Alegre - RS - Brasil

Recife - PE - Brasil

sexta-feira, 22 de junho de 2018

TAOISMO (2)



HISTÓRIA

         Tradicionalmente o taoismo é atribuído a três fontes principais:

1.   A mais antiga, o mítico “Imperador Amarelo”, que teria vivido entre 2697 a.C e 2597 a.C;

2.   A mais famosa, o livro de aforismos místicos Tao Te Ching (Dao De Jing), supostamente escrito por Laozi (Lao Tsé), que segundo a tradição foi um contemporâneo mais velho de Confúcio (551 a.C – 479 a.C.);

3.   Aos trabalhos do filósofo Zhuangzi (Chuang-Tsé) 369 a.C. – 286 a.C.


        
          Outros livros ampliaram o taoismo, como o Tratado do Vazio Perfeito de Leizi, e a compilação Huainanzi. Além destes, o antigo I Ching, “O Livro das Mutações”, é tido como uma fonte extra do taoismo, assim como práticas de adivinhação da China Antiga.


         Algumas formas de taoismo podem ser rastreadas até as religiões tradicionais na China pré-histórica, que, mais tarde, se uniram em uma tradição taoista. Laozi é tradicionalmente considerado como o fundador do taoismo e está intimamente associado nesse contexto, com o taoismo “original” ou “primordial”.

         Laozi recebeu o reconhecimento imperial como uma divindade, em meados do século II a.C. O taoismo ganhou status oficial na china durante a Dinastia Tang, cujos imperadores alegaram que Laozi era seu parente. Vários imperadores Song, mais notavelmente Huizong, estavam ativos na promoção do taoismo, coletando textos taoistas e edições publicadas do Daozang. Aspectos do confucionismo, taoismo e do budismo foram sintetizados conscientemente na escola neoconfucionista, que, eventualmente, se tornou a ortodoxia imperial para os fins burocráticos do Estado.





         A Dinastia Qing, no entanto, muito favoreceu clássicos confucionistas e rejeitou os trabalhos taoistas.Durante o século XVIII, a biblioteca imperial foi construída, mas excluiu praticamente todos os livros taoistas. No início do século XX, o taoismo tinha caido tanto, que apenas uma cópia completa do Daozang ainda permanecia no Mosteiro Nuvem Branca, em Pequim. Atualmente, o taoismo é uma das cinco religiões reconhecidas pela República Popular da China, que regula suas atividades através de uma estatal burocrática, a Associação Taoista da China.


Yu Zengsheng presidente nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês felicita a Associação Taoista da China pelo seu 60.º aniversário



O TAO DO TAOISMO




         O ideograma tao (ou dao) pode ser traduzido como “via”, “caminho”, mas assume um significado mais abstrato para a religião e para a filosofia chinesa. É o que há de mais profundo e misterioso na realidade e que faz com que tudo seja como é. É o conjunto indiferenciado de tudo o que existe, mas também o princípio supremo que gera e está na origem do seu “devir”, ou seja, é também o seu “caminhar”. Embora seja invisível, inaudível e intangível, manifesta-se pela sua influência, a que se chama “virtude” – o te (, dé). Mas essa influência é espontânea, ou seja, faz parte da sua própria natureza, do seu próprio fluir natural. Como se diz no Tao Te King: o tao “age sem agir” (為無為,wu wei). Um tema no pensamento chinês primitivo é tian-dao ou “caminho da natureza” (tian, também traduzido como “céu” e, às vezes, “deus). Corresponde aproximadamente á ordem das coisas de acordo com a lei natural. Tanto o “caminho da natureza” quanto o “grande caminho” inspiram o afastamento estereotípico taoista das doutrinas morais e normativas. Assim, pensado como o processo pelo qual cada coisa se torna o que ela é (a “mãe de todas as coisas”), parece difícil imaginar que temos que escolher entre quaisquer valores de seu conteúdo normativo, portanto, pode ser visto como um princípio eficiente de “vazio” que sustenta confiavelmente o funcionamento do universo.


FILOSOFIA TAOISTA
·        Do “caminho”, surge “um” (aquele que esta consciente) de cuja consciência, por sua vez, surge o conceito de “dois” (yin e yang), dos quais o número “três” está implícito (céu, Terra, humanidade): produzindo, finalmente, por extensão, a totalidade do mundo como o conhecemos, “as 10.000 coisas”, através da harmonia do wu xing. O “caminho”, enquanto passa pelos cinco elementos do wu xing, é também visto como circular, agindo sobre si mesmo através da mudança para simular um ciclo de vida e morte nas “10.000 coisas” do universo fenomênico.

·        Aja de acordo com a natureza e com sutileza, em lugar da força.
·        A perspectiva correta será encontrada pela atividade mental da pessoa, até chegar a uma fonte mais profunda que guie sua interação pessoal com o universo. O desejo obstrui a habilidade pessoal de entender o caminho, moderar o desejo gera contentamento. Os taioistas acreditam que, quando um desejo é satisfeito, outro, mais ambicioso, brota para substituí-lo. Em essência, a maioria dos taoistas sente que a vida deve ser apreciada como ela é, em lugar de forçá-la a ser o que não é. Idealmente, não se deve desejar nada, “nem mesmo não desejar”.
·        Unidade: ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são interdependentes e constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias, passamos a ver todas as coisas como elas são e a nós mesmos como apenas uma parte do momento presente. Essa compreensão da unidade nos leva a uma apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles como simples momentos miraculosos que “apenas são”.

·        Dualismo: a oposição e combinação dos dois princípios básicos – yin e yang – do universo é uma grande parte da filosofica básica. Algumas das associações comuns com yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. São, em última análise, uma distinção artificial baseada em nossa percepção das “10.000  coisas”, portanto é só nossa percepção delas que realmente muda

WU WEI


         Muito da essência do tao está na arte do wu wei (agir pelo não agir). No entanto, isso não significa “espere sentado que o mundo caia no seu colo”. Essa filosofia descreve uma prática de se realizarem coisas através da ação mínima. Pelo estudo da natureza da vida, você pode influenciar o mudo do modo mais fácil e menos disruptivo (usando a sutileza em vez da força). A prática de seguir a corrente em vez de ir contra ela é uma ilustração: uma pessoa progride muito mais não por lutar e se debater contra a água, mas permanecendo quieta e deixando o trabalho nas mãos da correnteza.
       O wu wei funciona a partir do momento em que confiamos no nosso design humano, que é perfeitamente ajustado para nosso lugar na natureza. Em outras palavras, confiando na nossa natureza em vez de usar nossa racionalidade, nós podemos encontrar contentamento sem uma vida de luta constante contra forças reais e imaginárias.

TEXTOS


1.   道德經 – O Tao Te Ching ou Dao De Jing, é amplamente considerado como o mais influente texto taoista. É uma escritura de fundação de importância central no taoísmo, supostamente escrita por Laozi entre 350 e 250 a.C. No entanto, a data exata em que foi escrito é ainda objeto de debate: há aqueles que a colocam em qualquer lugar entre os séculos VI a.C e III d.C. Ele tem sido usado como um texto ritual ao longo da história do taoismo religioso. Os comentadores taoistas poderaram profundamente nos primeiros versos do Tao Te Ching. Eles são amplamente discutidos, tanto na literatura acadêmica quanto na mais popular. Uma interpretação comum é semelhante à observação de Korzybski de que “o mapa não é o território”. As linhas de abertura, com a tradução literal e a comum são:


·        Tao, literalmente, significa “caminho” ou “o caminho” e pode significar figuradamente “natureza essencial”, “destino”, “princípio”, ou “caminho verdadeiro”. O filosófico e religioso tao é infinito, sem qualquer limitação. Um ponto de vista afirma que a abertura paradoxal destina-se a preparar o leitor para os ensinamentos sobre o tao não ensinável. Acredita-se que o tao é transcendente, indistinto e sem forma. Por isso, não pode ser nomeado ou categorizado. Mesmo a palavra “tao” pode ser considerada uma perigosa tentação de fazer do tao um nome limitador.
·        O Tao Te Ching não é tematicamente ordenado. No entanto, os principais temas do texto são repetidamente expressos em formulações variantes, muitas vezes com apenas uma pequena diferença entre elas. Os temas principais giram em torno da natureza do tao e como alcançá-lo. O tao é dito ser inominável e capaz de realizar grandes coisas através de meios pequenos. Há um debate importante sobre qual tradução do Tao Te Ching é a melhor. Discussões e disputas sobre várias traduções do Tao Te Ching podem tornar-se amargas, envolvendo visões profundamente arraigadas. Os comentários antigos sobre o Tao Te Ching são textos importantes por direito próprio. O comentário Heshang Gong, provavelmente, escrito no século II d.C. e é, talvez, o mais antigo comentário. Ele contém a edição do Tao Te Ching que foi transmitida até os dias atuais. Outros comentários importantes incluem o Xiang’er, um dos textos mais importantes do Caminho do Mestre Celestial eo Wang Bi.




2.   庄子 – Zhuangzi é, tradicionalmente, atribuido a um sábio taoista de mesmo nome, mas isso foi recentemente contestado no meio acadêmico ocidental. Zhuangzi também aparece como um personagem na narrativa do livro. O Zhuangzi contém prosa, poesia, humor e disputa. O livro é, frequentemente, visto como complexo e e paradoxal quanto aos argumentos e temas de discussão, que não são aqueles comuns à filosofia clássica ocidental, como a doutrina do nome de retificação (zhengming) e fazer distinções “isso/não presente” (shi/fei). Entre o elenco de personagens das histórias do Zhuangzi, está Laozi, o autor do Tao Te Ching, bem como Confúcio.

3.   – Dàozang (Tesouro dos Tao) é, por vezes, referido como o cânon taoista. Foi, originalmente, compilado durante as dinastias Jin, Tang e Song. A versão publicada sobreviveu durante a dinastia Ming. O Ming Daozang inclui quase 1.500 textos. Seguindo o exemplo do budista Tripitaka, é dividido em três dong (buracos, cavernas, grutas). Eles estão organizados do mais alto para o mais baixo.
1.   O Zhen - (real ou verdade) inclui o Shangging;
2.   A Xuan - (mistério) inclui o Lingbao;
3.   O Shen - (divino) inclui textos anteriores a Maoshan.
·        Um daoshi, geralmente, não consulta versões publicadas do Dàozang, mas escolhem individualmente, ou herdam, os textos incluídos no Dàozang. Estes textos foram passados por gerações de professor para aluno. A escola Shangging tem uma tradição de se aproximar do taoismo através do estudo das escrituras. Acredita-se que, recitando alguns textos muitas vezes, se será recompensado com a imortalidade.

OUTROS TEXTOS
         Enquanto o Tao Te Ching é o mais conhecido, há muitos outros textos importantes no taoismo tradicional. Taishang Ganying Pian (Tratado Abençoado na Resposta e Retribuição) discute pecado e ética e tornou-se uma referência de moralidade popular nos últimos séculos. Afirma que aqueles em harmonia com o tao vão viver longas e frutíferas vidas. Que os ímpios e seus descendentes vão sofrer e ter encurtada vidas. Tanto a Taiping Jing (Escritura de Grande Paz) eo Baopuzi (Livro do Mestre que Conserva a Simplicidade) contêm fórmulas alquímicas taoista que se acreditavam poder conduzir à imortalidade.



         Além disso, o Huainanzi é uma compilação da escrita de oito acadêmicos da Dinastia Han que combina taoismo, confucionismo e os conceitos legalistas, incluindo as teorias, tais como o yin-yang e cinco fases. O patrono Liu An (180 a 122 a.C.) foi governador do estado de Huainan e neto do fundador da Dinastia Han. O discurso em sua corte. O discurso em sua corte, favoreceu o pensamento taoista e trouxe filósofos, poetas e mestres de práticas esotéricas para a sua corte. Isso resultou no Huainanzi.

TAOISMO E CONFUCIONISMO
         O taoismo é uma tradição que, dialogando com seu tradicional contraste, o confucionismo modelou a vida chinesa por mais de 2.000 anos. O taoismo enfatiza a espontaneidade ou liberdade da manipulação sociocultural pelas instituições, linguagem e práticas culturais. Manifesta o anarquismo, defendendo essencialmente a ideia de que não precisamos de nenhuma orientação centralizada. Espécies naturais seguem caminhos apropriados a elas e os seres humanos são uma espécie natural. Seguimos todos por processos de aquisição de diferentes normas e orientações da sociedade, mas poderíamos viver em paz mesmo se não procurássemos unificar todas estas formas naturais de ser.

         Como conceito confucionista de governo consiste em fazer todos seguirem a mesma moral, o taoismo representa de certa forma, a antítese do conceito confucionista referente a deveres morais, coesão social e responsabilidades governamentais (embora o pensamento de Confúcio inclua valores taoista e o inverso também ocorra, como se pode observar lendo o Analectos de Confúcio.

RELIGIÃO TAOISTA
         Embora Laozi nunca tenha pregado nenhuma religião no Tao Te Ching e tenha sempre se mantido no terreno filosófico e moral, cerca de mil anos depois da sua morte, formou-se um corpo de doutrias e de práticas religiosas e culturais que constituíram a religião taoista. A religião taoista conserva apenas uns traços da filosofia de Laozi, com empréstimos de ideias e práticas culturais do budismo com a introdução de vários deuses, deusas e gênios, e uma mistura com algumas crenças preexistentes, como a teoria dos cinco elementos, a alquimia e o culto aos ancestrais.


         Tentativas de alcançar maior longevidade eram um tema frequente na magia e alquimia taoista, com vários feitiços e poções, ainda existentes, com esse propósito. Muitas versões antigas da medicina tradicional chinesa foram enraizadas no pensamento taoista e a medicina chinesa moderna, bem como as artes marciais chinesas, são ainda de várias formas baseadas em conceitos taoistas, como o tao, o gi e o balanço entre o yin e o yang.


         Com o tempo, a absoluta liberdade dos seguidores do taoismo pareceu ameaçadora à autoridade de alguns governantes, que incentivaram o crescimento de seitas mais comprometidas com as tradições confucionistas. Uma escola taoista foi formada ao fim da Dinastia Han, por Zhang Daoling. Muitas seitas evoluíram através dos anos, mas a maioria traça suas origens a Zhang Daoling, e grande parte dos templos taoistas modernos pertence a uma ou outra dessas seitas. As escolas taoistas incorporam panteões inteiros de divindades, incluindo Laozi, Zhang Daoling, o Imperador Amarelo, O Imperador de Jade, Lei Gong (o deus do trovão), entre outros.
         As duas maiores escolas taoistas da atualidade são a Seita Zhengyi (evoluída de uma seita fundada por Zhang Daoling) e o Taoismo Quanzhen, fundado por Wang Chongyang.


INFLUÊNCIAS DO ZEN BUDISMO
         Como há algumas afinidades entre a visão taoista e a visão budista do mundo, quando, no século I d.C., foi introduzido na China o budismo indiano, em grande parte interpretado usando-se conceitos taoistas. Já o budismo chan (chánzōng), que se desenvolveu como uma escola distinta na China medieval, refletiu estas fortes influências da filosofia chinesa e, em particular, do taoismo. Com o tempo, o chan acabou se estabelecendo na Coreia, onde recebeu o nome  seon. Havia monges que chegavam de outros países da Ásia para estudar o chan e a escola foi se espalhando pelos países vizinhos. No Vietnã, recebeu o nome de thien e, no Japão, ficou conhecida como zen. Através da história, essas escolas cresceram de maneira independente, tendo desenvolvido identidades próprias e características bastante diferentes umas das outras.
         Na China, elementos do taoismo se combindaram com elementos do budismo e do confucionismo na forma do neoconfucionismo. A adoção por parte dos confucionistas de vários conceitos taoistas deu origem durante a dinastia Song (960 -1279 d.C.), à chamada “Escola Neoconfucionista” ou “Escola da Razão”.
        
TAOISMO FORA DA CHINA
         A filosofia taoista é praticada em várias formas, em outros países além da China. Kouk Sun Do, na Coreia, é uma dessas váriações. A filosofia taoista encontrou muitos seguidores ao redor do mundo. Genghis Khan era simpático à filosofia taoista e, durante as primeiras décadas de dominação mongol, o taoismo viu um período de expansão, entre os séculos XIII e XIV. Devido a isso, muitas escolas taoistas tradicionais mantêm centros de ensino em vários países ao redor do mundo.


TAOISMO NO BRASIL


         No Brasil existem vários ramos ligados ao taoismo, tanto o religioso (taochiao) quanto o filosófico (taochia). Uma das vertentes religiosas mais importantes é representada pela Sociedade Taoista do Brasil. A Sociedade Taoista do Brasil foi instituída no Rio de Janeiro, em 15 de janeiro de 1991, com o objetivo de difundir o ensinamento do taoismo em todas as suas formas de expressão – religiosa, filosófica, científica e cultural – e contribuir para o aperfeiçoamento espiritual dos frequentadores.


         O caminho taoista propões a restauração do estado pleno de vida e consciência, chamado tao. Para isso, utilizam-se de vários meios como as práticas que provovem a boa saúde física e mental, o estudo de clássicos escritos pelos grandes mestres do passado, os métodos místicos para a restauração da ordem interna e fundamentalmente a meditação, como caminho de autotransformação e elevação espiritual.
         A Sociedade Taoista do Brasil foi fundada pro Wu Jhy Chemg (1958 -2004), sacerdote taoista Kao Kon Fa Shi (Alto Ofício, Mestre da Lei). Mestre Chemg escreveu diversos livros sobre artes taoistas e traduziu o Tao Te Ching (O Livro do Caminho e da Virtude) e o Yi Jing (I-Ching, O Livro das Mutações), entre outros clássicos do taoismo.
         Em março de 2002, foi inaugurada a sede de São Paulo, um espaço adequado para a prática e estudo do taoismo, suas artes e sabedoria, onde há palestras abertas ao público, rituais, meditação e diversos cursos. Entre as atividades de São Paulo, enfatizam-se as práticas de meditação (tao yin), I Ching (ou Yi Jing), feng shui, astrologia chinesa (zi wei dou shu), tai chi chuan, chi kung (ou qi gong) e o atendimento de acupuntura e massagem (tui na).


         Além dos grupos formalmente ligados ao taoismo, também podem ser encontrados muitos ensinamentos taoistas em várias escolas do budismo mahaiana chinês e também religiões sincréticas com o cao dai, entre outras.



Veja também:

O NOME DA ROSA

O Nome da Rosa de Umberto Eco: Análise da Obra O Nome da Rosa  é um livro de 1980 escrito pelo italiano Umberto Eco. Em 1986 foi lançado o...

Não deixem de visitar, Blog do Maffei recomenda: