AUGUSTO
COMTE
(*19/01/1798,
Montpellier, França - + 05/09/1857, Paris, França)
Estudante
da Politécnica aos 16 anos, Comte é nomeado em 1832 explicador de análise e de
mecânica nessa mesma escola e, depois, em 1837, examinador de vestibular.
Ver-se-á retirado desta última função em 1844 e de seu posto de explicador em
1851.
Apesar
de seus reiterados pedidos, não obterá o desejado cargo de professor da
Politécnica, nem mesmo a cátedra de história geral das ciências positivas no
Collège de France, que quisera criar em benefício próprio.
A
obra de Comte guarda estreitas relações com os acontecimentos de sua vida. Dois
encontros capitais presidem as duas grandes etapas desta obra. Em 1817, ele
conhece H. de Saint-Simon: O Organizador, o Sistema Industrial, e concebe, a
partir daí, a criação de uma ciência social e de uma política científica. Já de
posse, desde 1826, das grandes linhas de seu sistema, Comte abre em sua casa,
rua do Faubourg Montmartre, um Curso de filosofia positiva - rapidamente
interrompido por uma depressão nervosa - (que lhe vale ser internado durante
algum tempo no serviço de Esquirol). Retoma o ensino em 1829. A publicação do Curso
inicia-se em 1830 e se distribui em 6 volumes até 1842.
Desde
1831 Comte abrirá, numa sala da prefeitura do 3.° distrito, um curso público e
gratuito de astronomia elementar destinado aos "operários de Paris",
curso este que ele levaria avante por sete anos consecutivos. Em 1844 publica o
prefácio do curso sob o título: Discurso dobre o espírito positivo.
É em
outubro de 1844 que se situa o segundo encontro capital que vai marcar uma
reviravolta na filosofia de Augusto Comte. Trata-se da irmã de um de seus
alunos, Clotilde de Vaux, esposa abandonada de um cobrador de impostos (que
fugira para a Bélgica após algumas irregularidades financeiras). Na primavera
de 1845, nosso filósofo de 47 anos declara a esta mulher de 30 seu amor
fervoroso. "Eu a considero como minha única e verdadeira esposa não apenas
futura, mas atual e eterna". Clotilde oferece-lhe sua amizade. É o
"ano sem par" que termina com a morte de Clotilde a 6 de abril de
1846. Comte sente então sua razão vacilar, mas entrega-se corajosamente ao
trabalho.
Entre
1851 e 1854 aparecem os enormes volumes do Sistema de política positiva ou
Tratado de sociologia que intitui a religião da humanidade. O último volume
sobre o Futuro humano prevê uma reformulação total da obra sob o título de
Síntese Subjetiva.
Desde
1847 Comte proclamou-se grande sacerdote da Religião da Humanidade. Institui o
"Calendário positivista" (cujos santos são os grandes pensadores da
história), forja divisas "Ordem e Progresso", "Viver para o
próximo"; "O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por
fim", funda numerosas igrejas positivistas (ainda existem algumas como
exemplo no Brasil). Ele morre em 1857 após ter anunciado que "antes do ano
de 1860" pregaria "o positivismo em Notre-Dame como a única religião
real e completa". Comte partiu de uma crítica científica da teologia para
terminar como profeta.
Compreende-se
que alguns tenham contestado a unidade de sua doutrina, notadamente seu
discípulo Littré, que em 1851 abandona a sociedade positivista. Littré - autor
do célebre Dicionário, divulgador do positivismo nos artigos do Nacional -
aceita o que ele chama a primeira filosofia de Augusto Comte e vê na segunda
uma espécie de delírio político-religioso, inspirado pelo amor platônico do
filósofo por Clotilde.
Todavia,
mesmo se o encontro com Clotilde deu à obra do filósofo um novo tom, é certo
que Comte, já antes do Curso de filosofia positiva (e principalmente em seu
"opúsculo fundamental" de 1822), sempre pensou que a filosofia
positivista deveria terminar finalmente em aplicações políticas e nas fundação
de uma nova religião. Littré podia sem dúvida, em nome de suas próprias
concepções, "separar Comte dele mesmo". Mas o historiador, que não
deve considerar a obra com um julgamento pessoal, pode considerar-se autorizado
a afirmar a unidade essencial e profunda da doutrina de Comte.
Comte,
afirmando vigorosamente a unidade de seu sistema, reconhece que houve duas
carreiras em sua vida. Na primeira, diz ele sem falsa modéstia, ele foi
Aristóteles e na segunda será São Paulo.
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