A pedagogia libertária é um modo diferente do qual estamos acostumados de conceber a educação. Por educação entendemos a assimilação pelas pessoas de uma sociedade dos valores e comportamentos que regem seu funcionamento. Portanto, as sociedades e seus modelos de funcionamento dependem da educação para se perpetuar durante o tempo. Mas a sociedade predominante pretende manter certas estruturas e formas de poder que nós acreditamos injustas já que não permitem o desenvolvimento igualitário das pessoas, forjando classes dominantes tanto política quanto economicamente. Este autoritarismo se manifesta na sociedade desde a educação para criar pessoas dependentes,autoritárias e competitivas que assumem as injustiças do sistema como algo natural à humanidade, integrando-nos em um sistema instável e que mantém desigualdades, violência, enfrentamentos e exploração.
Buscamos uma transformação global da sociedade. Para isso devemos mudar muitos valores da sociedade atual, através da educação buscando apoio mútuo, solidariedade, liberdade, igualdade ético coletiva, dignidade e responsabilidade, isto é, a felicidade e bem estar do ser humano.
Toda a sociedade influi na educação e por isso devemos desejá-la na transformação da escola, já que a vida principal é a escola. Não devemos nos centrar somente na idade infantil para introduzir essas idéias e comportamentos, ainda que é a idade mais importante para introduzir valores quando, de qualquer forma, a sociedade, a família, o poder e os meios de comunicação não nos influenciaram negativamente. Esta educação deve ser uma forma de funcionamento contínua em nossas vidas.
O anarquismo pretende criar uma sociedade justa, solidária e participativa e é por isso que suas idéias pedagógicas tentam ser “CONDIZENTES?” com essas máximas. A pedagogia libertária deve ser compreendida junto a todo um movimento social. A educação existe para reproduzir as relações sociais e culturais geradas pelo sistema capitalista. Baseando-se nos princípios da disciplina e autoridade, fazendo com que as pessoas, desde pequenas, se habituem a pensar e atuar de forma conivente ao sistema estabelecido. Os princípios, que em maior ou menor medida, segue a educação libertária são:
- Liberdade do indivíduo. Liberdade individual mas coletiva significa levar em conta aos demais desde a responsabilidade de viver em grupo.
- Contra a autoridade. Ninguém manda em ninguém, tudo se faz por compromissos assumidos e a partir da decisão coletiva, aberta e sincera.
- Autonomia do individuo, contra as dependências hierarquizadas e assumidas, cada indivíduo tem direitos e obrigações assumidas voluntariamente, responsabilidade coletiva e respeito. As pessoas enfrentam seus próprios problemas, criam suas convicções e raciocínios.
- O jogo como acesso ao saber. Partindo do jogo é mais fácil desenvolver a solidariedade e o trabalho coletivo, a socialização e o ambiente positivo, alegre e sincero.
- Co-educação de sexos e social. A educação é igual e conjunta, sem discriminação de nenhum tipo por razões de gênero econômico ou sociais. Mas para especificar mais explicaremos algumas das formas de funcionamento concreto para conseguir que essas idéias se desenvolvam dia a dia, em algo estável e assumido por todas as pessoas.
Para criar pessoas livres e auto-geridas é preciso que cada individuo decida, escolha e trate aquilo que lhe interessa sem necessitar das ordens de ninguém, sendo consciente de suas próprias limitações, que a pessoa eleja o que, como, quando e onde quer trabalhar os conceitos, atividades e atitudes necessários para sua educação.
O auto-didatismo é importante nesse ponto, permitindo o acesso à informação que permita aprender por ele mesmo aquilo que quer aprender, fomentando além de tudo a cooperação didática ao solicitar auxílio de outras pessoas. Criando dinâmicas de trabalho coletivo e igualitário, permitindo o acesso aos cadernos de trabalho, livros e outros materiais impressos ou audiovisuais, que são escolhidos por cada um. Além disso se conta com o apoio de outros companheir@s ou dos educador@s que são iguais porém com mais conhecimentos e experiências educativas, mas atuando como meros informadores e conselheiros sem nenhum poder sobre ninguém. Cada pessoa decide quais são seus compromissos didáticos pessoais e do grupo, que tentará cumprir um determinado trimestre. Esses compromissos incluem não somente elementos intelectuais mas também afetivos e de relação com os demais.
A auto-avaliação com registros de observação e prova de maturidade comprova as atitudes internas e com o grupo, além de interesses, necessidades e relações tanto intelectuais como afetivas e sociais. Rompendo com os exames como formas repressivas e competitivas de saber como está sendo o processo educativo. Além de tudo, se dividem entre todas as pessoas as tarefas cotidianas como limpar, recolher ou administrar materiais e dinheiro do coletivo, mantendo responsabilidades coerentes às suas capacidades e possibilidades etárias.
A assembleia se converte no marco para tomar as decisões do grupo sem autoritarismo buscando a melhor solução para os problemas, e onde se assumem compromissos e se auto comprova seu cumprimento, onde nos comunicamos sinceramente com as demais pessoas do coletivo e onde geramos nossa participação, nossa relação com os outros, nossa crítica, nossa autoavaliação.
Falando com liberdade de nossas dúvidas, sentimentos e propostas. A assembléia se converte no referencial de tomada de decisões por isso é necessário de um registro escrito de seus pareceres e decisões, além de um sistema transparente de tomada de decisões coletivas, por consenso se possível e se não por votação.
As assembleias podem ser de grupos mais pequenos para temas pontuais que afetam um pequeno número de pessoas ou gerais nas quais toda a coletividade participa. A assembléia é a pedra angular da educação libertária já que nela surge a espontaneidade, a liberdade e a comunicação livre entre as pessoas. Certamente essas são algumas idéias para por em prática formas libertárias de educação, o caminho é largo e contínuo, sendo muitos os problemas que tenderemos a enfrentar se quisermos criar práticas pedagógicas libertárias. Cada assembléia, cada decisão, cada discussão, e cada tentativa são um passo a mais para contar positivamente. Se não tentarmos não conseguiremos.
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