PARAÍSO PERDIDO
Ainda
no século XVII, os cientistas e os artistas de toda a Europa mostram-se ligados
por um ideal estreitamente comum de tal forma que sua cooperação mal se via
influenciada pelos acontecimentos políticos. O uso universal da língua latina
ajudava a consolidar esta comunidade. Pensamos hoje nesta época como um paraíso
perdido. Depois, as paixões nacionais destruíram a comunidade dos espíritos, e
o laço unitário da linguagem desapareceu. Os cientistas, instalados,
responsáveis por tradições nacionais exaltadas ao máximo, chegaram mesmo a
assassinar a comunidade.
Hoje
estamos envolvidos numa evidência catastrófica: os políticos, estes homens dos
resultados práticos, se apresentam como os campeões do pensamento
internacional. Criaram a Sociedade das Nações!
Carta ao ministro Rocco, em Roma
“Senhor e mui digno colega,
Dois
homens, dos mais notáveis e mais afamados dentre os cientistas italianos,
dirigem-se a mim em sua angústia moral e rogam-me que vos escreva a fim de
evitar a cruel iniquidade que ameaça os sábios da Itália. De fato, deveriam
prestar um juramento em que se exalta a fidelidade ao sistema fascista. Eu vos
peço, portanto, que aconselheis o Senhor Mussolini no sentido de que evite esta
humilhação para a nata da inteligência Italiana.
Apesar
das diferenças de nossas convicções políticas, um ponto fundamental, eu sei,
nos reúne: ambos conhecemos e amamos, nas obras-primas do desenvolvimento
intelectual europeu, os valores supremos. Eles exigem liberdade de opinião e
liberdade de ensino porque a luta pela verdade dever ter precedência sobre
todas as outras lutas. Sobre este fundamento essencial, nossa civilização pôde
nascer na Grécia e celebrar sua ressurreição no tempo da Renascença na Itália.
É um Bem supremo, pago pelo sangue dos mártires, estes homens íntegros e
generosos. A Itália hoje é amada e honrada, graças a eles.
Não é
minha intenção discutir convosco os danos causados à liberdade humana e as
possibilidades de justificação pela razão de Estado. Mas o combate pela verdade
científica, afastado dos problemas concretos da vida cotidiana, deveria ser
considerado intocável pelo poder político. Não será de bom aviso deixar que os
servidores sinceros de verdade vivam em paz o tempo necessário? Não será também
este o interesse do Estado Italiano e de sua reputação no mundo?”
Albert Einstein – Como Vejo o Mundo – Editora Nova Fronteira,
6.ª Edição: p.24 e pp.25-26
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