sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O FORO DE SÃO PAULO... QUE BICHO É ESSE?

   





          Em meio de uma campanha presidencial ouvimos e lemos tanta besteira que é preciso parar para esclarecermos alguns conceitos.
   
            Tanto se fala do Foro de São Paulo que resolvi escrever sobre o mesmo, da forma mais imparcial que pude. 
   
Quando vemos os que o atacam entendemos a real necessidade de uma organização popular que abranja toda a esquerda latino-americana, pois não vejo os mesmos rumores com as organizações de centro e direita, liberais e conservadores que procuram promover suas causas, sendo que a grande maioria destas são financiadas pelo Tio Sam. Sendo assim aproveitem a leitura...e, claro nesta hora é impossível ser imparcial.






FORO DE SÃO PAULO


PROPÓSITO: 

aprofundar o debate e procurar avançar com propostas de unidade de ação consensuais na luta anti-imperialista e popular, promover intercâmbios especializados em torno dos problemas econômicos, políticos, sociais e culturais que a esquerda continental enfrenta.




MEMBROS: 111 partidos políticos e organizações de esquerda de toda a América Latina



        
O Foro de São Paulo (FSF) é uma conferência de partidos políticos e organizações de esquerda criada em 1990, a partir de um seminário internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), do Brasil, que convidou outros partidos e organizações da América Latina e do Caribe para discutir alternativas às políticas dominantes na região durante a década de 1990, chamadas de “neoliberais”, e para promover a integração latino-americana no âmbito econômico, político e cultural.
        

Segundo a organização, atualmente mais de 100 partidos e organizações políticas de diversos países participam dos encontros. As posições políticas variam dentro de um largo espectro, que inclui partidos socialdemocratas, extrema-esquerda, organizações comunitárias, sindicais e sociais, esquerda cristã, grupos étnicos e ambientalistas, organizações nacionalistas e partidos comunistas.


        
A primeira reunião do Foro foi realizada em São Paulo em 1990. Desde então, o Foro tem acontecido a cada um ou dois anos, em diferentes países da América Latina. Até julho de 2018, foram 24 encontros no total.

         Os encontros aconteceram em 1) 1991 – México; 2) 1992 – Manágua – Nicarágua; 3) 1993 – Havana – Cuba; 4) 1995 – Montevidéu – Uruguai; 5) 1996 – San Salvador – El Salvador; 6) 1997 – Porto Alegre – Brasil; 7) 1998 – Cidade do México – México; 8) 2000 – Niquinohomo, Nicarágua; 9) 2001 – Havana – Cuba; 10) 2002 – Antígua – Antígua e Barbuda; 11) 2003 – Quito – Equador; 12) 2005 – São Paulo – Brasil; 13) 2007 – San Salvador – El Salvador; 14) 2008 – Montevidéu – Uruguai; 15) 2009 – Cidade do México – México; 16) 2010 – Buenos Aires – Argentina; 17) 2011 – Manágua – Nicarágua; 18) 2012 – Caracas – Venezuela; 19) 2013 – São Paulo – Brasil; 20) 2014 – La Paz – Bolívia; 21) 2015 – Cidade do México – México; 22) 2016 – San Salvador – El Salvador; 23) 2017 – Manágua – Nicarágua e; 24) 2018 – Havana – Cuba.



HISTÓRIA
        
O primeiro encontro foi numa reunião ocorrida de 02 a 04 de julho de 1990, no extinto Hotel Danúbio, na cidade de São Paulo, Brasil, e conseguiu reunir 48 partidos e organizações de 14 países latino-americanos e caribenhos, atendendo o convite do Partido dos Trabalhadores. Essas organizações reuniram-se visando debater a nova conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim, em 1989, e elaborar estratégias para fazer face ao embargo dos Estados Unidos a Cuba. O encontro chamava-se “Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe”.
        

No encontro seguinte, realizado na Cidade do México, em 1991, com a participação de 68 organizações e partidos políticos de 22 países, examinou-se a situação e a perspectiva da América Latina e do Caribe frente à reestruturação hegemônica internacional. Na ocasião, consagrou-se o nome “Foro de São Paulo”.



         Após esse encontro, o Foro não parou de crescer. No ano seguinte em Havana (Cuba), já contava com a participação de 30 países e o número de participantes havia aumentado exponencialmente.

POSICIONAMENTOS
        
Os objetivos iniciais do Foro São Paulo estão expressos na “Declaração de São Paulo”, documento que foi aprovado no final do primeiro encontro, na cidade de São Paulo, em 1990. O texto deste documento ressalta que o objetivo do foro é aprofundar o debate e procurar avançar com propostas de unidade de ação consensuais na luta anti-imperialista e popular, promover intercâmbios especializados em torno dos problemas econômicos, políticos, sociais e culturais que a esquerda continental enfrenta após a queda do Muro de Berlim. O documento afirmou que o encontro foi inédito por sua amplitude política e pela participação das mais diversas correntes ideológicas da esquerda.

         Por fim, a Declaração diz encontrar “a verdadeira face do império” nas renovadas agressões à Cuba e também à Revolução Sandinista na Nicarágua, no aberto intervencionismo e apoio ao militarismo em El Salvador, na invasão e ocupação militar norte-americana do Panamá, nos projetos e passos dados no sentido de militarizar zonas andinas da América do Sul sob o pretexto de lutar contra o “narcoterrorismo”. Assim eles reafirmaram sua solidariedade em relação à Revolução Cubana e à Revolução Sandinista, e também seu apoio em relação às tentativas de desmilitarização e de solução política da guerra civil de El Salvador, além de se solidarizarem com o povo panamenho e com os povos andinos que “enfrentam a pressão militarista do imperialismo”.
        
Um dos temas centrais previstos para o encontro do Foro de São Paulo em Montevidéu (dias 22 a 25 de maio de 2008) foi a reivindicação de renegociação do tratado de criação da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, membro do Foro São Paulo, desejou aumentar a receita paraguaia proveniente da Usina de Itaipu, fixada no tratado de constituição da hidrelétrica, de 1973.
         Em Janeiro de 2010, o Partido da Esquerda Europeia – uma coalizão de partidos de esquerda na Comunidade Econômica Europeia – expressou na abertura de seu terceiro congresso seu interesse em estreitar os laços com o Foro São Paulo.

ORGANIZAÇÃO
        
O Foro funcionou sem um grupo executivo apenas na sua primeira edição. No segundo encontro, realizado na Cidade do México, em 1991, foi criado o chamado “Grupo de Trabalho”, encarregado de “consultar e promover estudos e ações unitárias em torno dos acordos do Foro”. Já na reunião realizada em Montevidéu (1995), foi criado o Secretariado Permanente do FSP.
         Essas instâncias têm sua composição decidida a cada encontro e já foram integradas por organizações como: Partido dos Trabalhadores (Brasil); Izquierda Unida (Peru); Partido Comunista de Cuba; Partido da Revolução Democrática (México); Movimiento Bolivia Libre (Bolívia), entre diversos outros.
        
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foram excluídas do Foro a partir de 2002, após abandonarem as negociações para um acordo de paz na Colômbia e enveredaram pelo caminho dos sequestros, como da senadora Ingrid Betancourt, e do narcotráfico para financiar sua causa. O grupo tentou participar de duas reuniões subsequentes (em 2004 e 2008), porém não obteve sucesso. No ano de 2008 sua presença foi barrada pelo Partido dos Trabalhadores (Brasil), que ocupava a secretaria-executiva da entidade.

MEMBROS OFICIAIS
         Relação de membros mais notórios do Foro São Paulo:
·        Partido Comunista da Argentina
·        Partido do Empoderamento do Povo (Barbados)
·        Partido Comunista da Bolívia
·        Movimento para o Socialismo (Bolívia)
·        Partido dos Trabalhadores (Brasil)
·        Partido Comunista do Brasil
·        Partido Democrático Trabalhista (Brasil)
·        Partido Comunista Brasileiro
·        Partido Socialista Brasileiro
·        Partido Pátria Livre (Brasil)
·        Esquerda Cidadã (Chile)
·        Movimento Amplo Social (Chile)
·        Partido Comunista do Chile
·        Partido Humanista do Chile
·        Partido Socialista do Chile
·        Polo Democrático Alternativo (Colômbia)
·        Partido Comunista Colombiano
·        Marcha Patriótica (Colômbia)
·        Presentes por el Socialismo (Colômbia)
·        Frente Ampla (Costa Rica)
·        Partido Comunista de Cuba
·        Partido Trabalhista da Dominica
·        Partido da Libertação Dominicana (República Dominicana)
·        Alianza País (Equador)
·        Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (El Salvador)
·        União Revolucionária Nacional Guatemalteca
·        Aliança do Povo Trabalhador (Guiana)
·        Liberdade e Refundação (Honduras)
·        Partido Unificação Democrática (Honduras)
·        Partido Comunista para a Independência e o Socialismo (Martinica)
·        Conselho Nacional de Comitês Populares (Martinica)
·        Movimento Regeneração Nacional – MORENA (México)
·        Partido da Revolução Democrática (México)
·        Partido do Trabalho (México)
·        Partido Popular Socialista (México)
·        Partido Comunista do México
·        Partido dos Comunistas Mexicanos
·        Frente Sandinista de Libertação Nacional (Nicarágua)
·        Partido Comunista Paraguaio
·        Partido País Solidário (Paraguai)
·        Partido Comunista Peruano
·        Partido Socialista (Peru)
·        Partido Nacionalista Peruano
·        Partido Nacionalista de Porto Rico
·        Frente Socialista (Porto Rico)
·        Movimento Independentista Nacional Hostosiano (Porto Rico)
·        Frente Ampla (Uruguai)
·        Partido Socialista Unido da Venezuela


Segundo site do Foro São Paulo, os partidos e organizações que o integram são os seguintes (observem que os nomes estão em espanhol):

Argentina

1. Frente Grande – www.frentegrande.org.ar
2. Frente Transversal Nacional y Popular – www.frentetransversal.org.ar
3. Movimiento Evita – www.movimiento-evita.org.ar
4. Movimiento Libres del Sur – www.libresdelsur.org.ar
5. Partido Comunista
6. Partido Comunista – Congreso Extraordinario
7. Partido Humanista
8. Partido Intransigente
9. Partido Obrero Revolucionario-Posadista
10. Partido Socialista
11. Partido Solidario – www.partidosolidario.org.ar
12. Unión de Militantes por el Socialismo – www.uniondemilitantes.org.ar


Aruba

1. Partido Red Democrática


Barbados

1. Partido del Empoderamiento del Pueblo


Bolivia

1. Movimiento al Socialismo
2. Movimiento Bolivia Libre
3. Partido Comunista de Bolivia


Brasil

1. Partido Democrático Trabalhista – www.pdt.org.br
2. Partido Comunista del Brasil – www.pcdob.org.br
3. Partido Comunista Brasileiro – www.pcb.org.br
4. Partido Patria Libre – www.partidopatrialivre.org.br
5. Partido Popular Socialista – www.pps.org.br
6. Partido Socialista Brasileiro – www.psb.org.br
7. Partido de los Trabajadores – www.pt.org.br


Chile

1. Izquierda Ciudadana – www.izquierdaciudadana.cl
2. Movimiento Amplio Social
3. Movimiento de Izquierda Revolucionaria
4. Partido Comunista – www.pcchile.cl
5. Partido Humanista – www.partidohumanista.cl
6. Partido Socialista
7. Partido del Socialismo Allendista – www.partidodelsocialismoallendista.cl
8. Revolución Democrática – www.revoluciondemocratica.cl


Colombia

1. Marcha Patriótica
2. Movimiento Progresista
3. Partido Alianza Verde
4. Partido Comunista Colombiano – www.pacocol.org
5. Polo Democrático Alternativo – www.polodemocratico.org
6. Presentes por el Socialismo
7. Unión Patriótica
8. Movimiento Poder Ciudadano


Costa Rica

1. Partido Frente Amplio – www.frenteamplio.org
2. Partido Vanguardia Popular – Partido Comunista


Cuba

1. Partido Comunista de Cuba – www.pcc.cu


Curazao
1. Partido Pueblo Soberano


Ecuador

1. Movimiento de Unidad Plurinacional Pachakutik – Nuevo País
2. Movimiento Alianza PAIS – www.movimientoalianzapais.com.ec
3. Movimiento Popular Democrático
4. Partido Comunista del Ecuador
5. Partido Comunista Marxista-Leninista del Ecuador
6. Partido Socialista-Frente Amplio
7. Partido Comunista Ecuatoriano


El Salvador

1. Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional – www.fmln.org.sv


Guatemala

1. CONVERGENCIA, CPO-CRD
2. Movimiento Político Winaq
3. Unidad Revolucionaria Nacional Guatemalteca – www.urng-maiz.org.gt


Haití

1. Organización del Pueblo en Lucha


Honduras

1. Partido Libertad y Refundación – LIBRE


Martinica

1. Partido Comunista por la Independencia y el Socialismo
2. Consejo Nacional de Comités Populares – www.m-apal.com


México

1. Partido de la Revolución Democrática
2. Partido del Trabajo – www.partidodeltrabajo.org.mx
3. MORENA


Nicaragua

1. Frente Sandinista de Liberación Nacional

Panamá

1. Partido del Pueblo
2. Partido Revolucionario Democrático
3. Frente Amplia por la Democracia


Paraguay

1. Frente Guasú
2. Partido Comunista Paraguayo
3. Partido Convergencia Popular Socialista – www.convergenciapopular.blogspot.com.br
4. Partido del Movimiento Patriótico Popular
5. Partido del Movimiento al Socialismo – www.pmas.org.py
6. Partido País Solidario
7. Partido de la Participacion Ciudadana
8. Partido Popular Tekojoja


Perú

1. Ciudadanos por el Cambio
2. Partido Comunista del Perú-Patria Roja
3. Partido Comunista Peruano
4. Partido Nacionalista del Perú
5. Partido del Pueblo
6. Partido Socialista del Perú
7. Tierra y Libertad


Puerto Rico

1. Frente Socialista – www.frentesocialistapr.org
2. Movimiento Independentista Nacional Hostosiano – www .minhpuertorico.org
3. Partido Nacionalista de Puerto Rico – www.partidonacionalistapuertorico.blogspot.com.br


República Dominicana

1. Alianza por la Democracia
2. Fuerza de la Revolución
3. Movimiento Izquierda Unida
4. Partido Alianza País
5. Partido Movimiento Patria para Tod@s
6. Partido Comunista del Trabajo
7. Partido de la Liberación Dominicana
8. Partido de los Trabajadores Dominicanos
9. Partido Revolucionario Dominicano
10. Partido Revolucionario Moderno


Trinidad y Tobago

1. Movimiento por la Justicia Social


Uruguay

1. Asamblea Uruguay
2. Compromiso Frenteamplista
3. Frente Amplio
4. Movimiento 26 de marzo
5. Movimiento de Liberación Nacional Tupamaros
6. Movimiento de Participación Popular
7. Movimiento Popular Frenteamplista
8. Partido Comunista del Uruguay – www.pcu.org.uy
9. Partido Obrero Revolucionario Troskista-Posadista
10. Partido por la Victoria del Pueblo
11. Partido Socialista de los Trabajadores
12. Partido Socialista del Uruguay
13. Vertiente Artiguista


Venezuela

1. Liga Socialista
2. Movimiento Electoral del Pueblo
3. Partido Comunista de Venezuela
4. Partido Socialista Unificado de Venezuela
5. Patria para Todos



quinta-feira, 6 de setembro de 2018

PRÉ-SOCRÁTICOS (4)







DEMÓCRITO



         
Demócrito de Abdera, cujo nome significa em grego “escolhido do povo” nasceu cerca de 460 a.C. e morreu cerca de 370 a.C., nasceu na cidade de Mileto, viajou pela Babilônia, Egito e Atenas, e se estabeleceu em Abdera no final do século V a.C. É tradicionalmente considerado um filósofo pré-socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates, e, além disso, do ponto de vista filosófico, a maior parte de suas obras (segundo a doxografia – relato das ideias de um autor quando interpretadas por outro autor) tratou da ética e não apenas da physis (cujo estudo caracterizava os pré-socráticos como filósofos da natureza).
        
Foto de um átomo de Hidrogênio
Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (do grego “a”, negação e “tomo”, divisível. Átomo = indivisível). Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Todavia parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito que de fato sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Demócrito avançou também o conceito de um universo infinito, onde existem muitos outros mundos como o nosso.



        

Embora amplamente ignorado em Atenas durante sua vida, a obra de Demócrito foi bastante conhecida por Aristóteles, que comentou extensivamente. É famosa a anedota de que Platão detestava tanto Demócrito que queria que todos os seus livros fossem queimados. Há anedotas segundo as quais Demócrito ria e gargalhava de tudo e dizia que o riso torna sábio, o que levou a ser conhecidos, durante o Renascimento como “o filósofo que ri”.

        

Na Grécia Antiga, Protágoras de Abdera teria sido discípulo direto e, posteriormente o principal filósofo influenciado por ele foi Epicuro. No Renascimento muitas de suas ideias foram aceitas (por exemplo, por Giordano Bruno), e tiveram um papel importante durante o Iluminismo. Muitos consideram que Demócrito é “o pai da Ciência Moderna”.





OBRA
        
A obra de Demócrito sobreviveu apenas na forma de relatos de segunda mão, algumas vezes sendo contraditórios e não confiáveis. Muitos desses relatos vêm de Aristóteles, seu principal crítico, mas que reconhecia o valor de sua obra em filosofia natural. Aristóteles escreveu um relato único, cujas mensagens foram encontradas em outros relatos. Diógenes listou um grande número de obras de Demócrito em diversas áreas, incluindo ética, física, matemática, música e cosmologia. Duas obras, A Grande Ordem do Mundo e A Ordem do Micro Mundo são às vezes tidas como de Demócrito.


FILOSOFIA

O VAZIO E O TURBILHÃO DE ÁTOMOS
        
Aristóteles diz que o raciocínio que guiou Demócrito (e Leucipo) para afirmar a existência dos átomos foi o seguinte: o movimento pressupõe o vazio no qual a matéria se desloca, mas se a matéria se dividisse em partes sempre menores infinitamente no vazio, ela não teria consistência, nada poderia se formar porque nada poderia surgir da diluição sempre cada vez mais infinitamente profunda da matéria no vazio. Daí concluiu que, para explicar a existência do mundo tal como o conhecemos, a divisão da matéria não pode ser infinita, isto é, que há um limite indivisível, o átomo. “Há apenas átomos e vazio”, disse ele. Observando um raio de sol que penetrou numa fresta de um recinto escuro, Demócrito viu partículas de poeira num movimento de turbilhão, levando-o a ideia de que os átomos (os indivisíveis da matéria) se comportariam da mesma maneira, colidindo aleatoriamente, alguns se aglomerando, outros se dispersando, outros ainda nunca se juntando com outro átomo.

  
Para Demócrito, os cosmos (o Universo e tudo o que nele existe) é formado por um turbilhão de infinitos átomos de diversos formatos que jorram ao acaso e se chocam. Com o tempo, alguns se unem por suas características (às vezes, as formas dos átomos coincidentemente se encaixam tão bem como peças de um quebra-cabeça) e muitos outros se chocam sem formar nada (porque as formas não se encaixam ou se encaixam fracamente). Dessa maneira, alguns conjuntos de átomos que se aglomeram tomam consistência e formam todas as coisas que conhecemos, que depois se dissolvem no mesmo movimento turbilhonar dos átomos do qual surgiram.


         A consistência dos aglomerados de átomos que faz com que algo pareça sólido, líquido, gasoso ou anímico (“estado de espírito”) seria então determinada pelo formato e arranjo dos átomos envolvidos. Desse modo, os átomos de ferro possuem um formato que se assemelha a ganchos, que os prendem solidamente entre si; os átomos de água são lisos e escorregadios; os átomos de sal, como demonstra seu gosto, são ásperos e pontudos; os átomos de ar são pequenos e pouco ligados, penetrando todos os outros materiais; e os átomos da alma e do fogo são esféricos e muito delicados.

LEGADO

NA ANTIGUIDADE
   

O epicurismo (cujos representantes principais foram Epicuro e Lucrécio), que teve uma ampla difusão na antiguidade, foi influenciado pelo atomismo de Demócrito, mas com grandes mudanças. A principal diferença foi o abandono a ideia de turbilhão de átomos e a afirmação de que os átomos possuem peso e que, por isso, os átomos percorrem linhas retilíneas paralelas, tal como objetos em queda livre. Ocasionalmente, cada átomo exibe espontaneamente um desvio mínimo da linha reta indeterminado e imprevisível, desvio chamado clinamen. Esse desvio mínimo é que explicaria o choque e encontro entre átomos.


DO RENASCIMENTO ATÉ O PRESENTE

        
Visto que, na concepção de Demócrito, o cosmos não é determinado por um poder que estivesse acima dele e o submetesse a algum plano ou finalidade (tal como divindades religiosas ou a causa final que Aristóteles defendia, mas sim pelo movimento imanente (auto criador ou emergente) do próprio cosmos, sua ideia de necessidade era intrínseca à de acaso, e a de ordem, intrínseca à de caos. Esse modo de pensar pode ser encontrado amplamente difundido desde o Renascimento e permeia toda a filosofia e ciência modernas, desde Giordano Bruno, Galileu Galilei e Espinoza até a física quântica e a cosmologia atual, passando pela teoria da evolução das espécies, mesmo que sua ideia original do átomo tenha se tornado obsoleta desde o século XVIII.


OBRAS

         Demócrito foi um escritor prolífico e Diógenes Laércio destaca as seguintes obras:

·        Pequena Ordem do Mundo;
·        Da Forma;
·        Do Entendimento:
·        Do Bom Ânimo;
·        Preceitos.
         
No entanto, nenhuma obra de Demócrito sobreviveu até os tempos presente. Assim, tudo o que se sabe dele vem de citações e comentários de outros autores. Portanto, de sua imensa obra só restaram fragmentos (que totalizam 300) de suas teorias. A coletânea de fragmentos mais conhecida é a organizada pro Hermann Alexander Diels, em sua obra Die Fragmente der Vorsokratiker (Os Fragmentos dos Pré-Socráticos).

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

PRÉ-SOCRÁTICOS (3)







PITÁGORAS

         
Pitágoras de Samos (cerca de 570 a.C. – 495 a.C.) foi um filósofo e matemático grego jônico creditado como fundador do movimente chamado Pitagorismo. A maioria das informações sobre Pitágoras foram escritas séculos depois que ele viveu, de modo que há pouca informação confiável sobre ele. Nasceu na ilha de Samos e viajou para o Egito e Grécia e talvez à Índia, em 520 a. C. voltou a Samos. Cerca de 530 a. C., se mudou para Crotona, na Magna Grécia.

BIOGRAFIA
        
Nascido na ilha grega de Samos, sua mãe se chamava Pythais e seu pai Mnesarchus era um mercador da cidade de Tiro, além de Pitágoras havia outros dois ou três filhos. Pitágoras passou a infância em Samos embora tenha viajado bastante com seu pai; ele foi treinado pelos melhores preceptores, alguns deles filósofos. Tocava lira, aprendeu aritmética, geometria, astronomia e poesia.
         Em cerca de 535 a.C., Pitágoras viajou para o Egito – alguns anos após a ocupação de Samos pelo tirano Polícrates – lá, conheceu os templos e aprendeu sobre os sacerdotes locais.
        
Cambises I
Em 525 a.C., o rei persa Cambises I atacou o Egito e Pitágoras foi capturado e enviado para a cidade de Babilônia onde conheceu o sacerdote Mago que o instruiu sobre ensinamentos espirituais.
         Em 522 a.C. ambos Polícrates e Cambises já haviam morrido, então Pitágoras retorna a Samos onde funda uma escola de filosofia chamada Semicírculo.
         Por volta de 518 a.C., para evitar conflitos políticos, viaja para o sul da Itália, para a cidade de Crotona onde funda uma escola espiritual, lá, casa-se com Theanos de Creta, filha de Pythenax com quem tem uma filha, Mya.



A ESCOLA PITAGÓRICA

         Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números. Para eles o número, sinônimo de harmonia, é constituído da soma de pares e ímpares (os números pares e ímpares expressando as relações que encontram em permanente processo de mutação), sendo considerado como a essência das coisas, criando noções opostas (limitado e ilimitado) e a base da teoria da harmonia das esferas.
        

Segundo os pitagóricos, o cosmo é regido por revelações matemáticas. A observação dos astros sugeriu-lhes que uma ordem domina o universo. Evidências disso estariam no dia e noite, no alterar-se das estações e no movimento circular e perfeito das estrelas. Por isso o mundo poderia ser chamado de cosmos, termo que contém as ideias de ordem, de correspondência e de beleza. Nessa cosmovisão também concluíram que a Terra é esférica, estrela entre as estrelas que se movem ao redor de um fogo central. Alguns pitagóricos chegaram até a falar da rotação da Terra sobre o eixo, mas a maior descoberta de Pitágoras ou dos seus discípulos (já que há obscuridades em torno do pitagorismo, devido ao caráter esotérico e secreto da escola) deu-se no domínio da geometria e se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. A descoberta foi enunciada no teorema de Pitágoras.


        



Pitágoras foi expulso de Crotona e passou a morar em Metaponto, onde morreu provavelmente em 496 a.C. ou 497 a.C. Segundo o pitagorismo, a essência, que é o princípio fundamental que forma todas as coisa é o número. Os pitagóricos não distinguem forma, lei e substância, considerando o número o elo entre estes elementos. Para esta escola existiam quatro elementos: terra, água, ar e fogo.

         Assim, Pitágoras e os pitagóricos investigaram as relações matemáticas e descobriram vários fundamentos da física e da matemática.
        


O símbolo utilizado pela escola era o pentagrama que, como descobriu Pitágoras, possui algumas propriedades interessantes. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; pelas intersecções dos segmentos desta diagonal, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original exatamente pela razão áurea.



        
Pitágoras descobriu em que proporções uma corda deve ser dividida para a obtenção das notas musicais no início, sem altura definida, sendo uma tomada como fundamental (pensemos numa longa corda presa a duas extremidades que, quando tangida, nos dará o som mais grave) – e a partir dela, gerar-se-á a quinta e a terça através da reverberação harmônica. Os sons harmônicos. Prendendo-se a metade da corda, depois a terça parte e depois a quinta parte conseguiremos os intervalos de quinta e terça em relação à fundamental. 

A chamada Série Harmônica. À medida que subdividimos a corda obtemos sons mais altos e os intervalos serão diferentes. E assim sucessivamente. Descobriu ainda que frações simples das notas, tocadas juntamente com a nota original, produzem sons agradáveis. Já as frações mais complicadas, tocadas com a nota original, produzem sons desagradáveis.


        

Seu nome está ligado principalmente ao importante teorema que afirma: em todo triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.



         A escola pitagórica era conectada com concepções esotéricas e a moral pitagórica enfatizava o conceito de harmonia, práticas ascéticas e defendia a metempsicose (transmigração da alma, de um corpo para outro). A propósito, no seu livro A Vida de Apolônio de Tiana, Filóstrato escreveu que Pitágoras não só sabia quem era como quem tinha sido.



         Durante o século IV a.C., verificou-se, no mundo grego, uma revivescência da vida religiosa. Segundo alguns historiadores, um dos fatores que concorreram para esse fenômeno foi a linha política adotada pelos tiranos: para garantir o papel de líderes populares e para enfraquecer a antiga aristocracia, os tiranos estimulavam a expansão de cultos populares ou estrangeiros.
        
Dentre esses cultos, um teve enorme difusão: o Orfismo (de Orfeu), originário da Trácia, e que era uma religião essencialmente esotérica. Os seguidores desta doutrina acreditavam na imortalidade da alma, ou seja, enquanto o corpo se degenerava, a alma migrava para outro corpo, por várias vezes, a fim de efetivar a purificação. Dionísio guiaria este ciclo de reencarnações, podendo ajudar o homem a libertar-se dele.
        
Pitágoras seguia uma doutrina diferente. Teria chegado à concepção de que todas as coisas são números e o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço basicamente intelectual. A purificação resultaria de um trabalho intelectual, que descobre a estrutura numérica das coisas e torna, assim, a alma como uma unidade harmônica. Os números não seriam, neste caso, os símbolos, mas os valores das grandezas, ou seja, o mundo não seria composto dos números 0, 1, 2, etc., mas dos valores que eles exprimem. Assim, portanto, uma coisa manifestaria externamente a estrutura numérica, sendo esta coisa o que é por causa deste valor.




PRINCIPAIS DESCOBERTAS

         Além de grandes míticos, os pitagóricos eram grandes matemáticos. Eles descobriram propriedades interessantes e curiosas sobre os números.

NÚMEROS FIGURADOS
        
Os pitagóricos estudaram e demonstraram várias propriedades dos números figurados. Entre estes o mais importante era o número triangular 10, chamado pelos pitagóricos de Tetraktys, tétrada em português. Este número era visto como um número místico uma vez que continha os quatro elementos fogo, água, ar e terra: 10 = 1 + 2 + 3 + 4, e servia de representação para a completude do todo.

a
aa
aaa
aaaa

         A tétrada, que os pitagóricos desenhavam com um a em cima, dois abaixo deste, depois três e por fim quatro na base, era um dos símbolos principais do seu conhecimento avançado das realidades teóricas.


NÚMEROS PERFEITOS
        
A soma dos divisores de determinado número com exceção dele mesmo, é o próprio número. Exemplos:

  1.   Os divisores de 6 são 1, 2. 3 e 6. 
       Então 1 + 2 + 3 = 6

   2.   Os divisores de 28 são 1, 2, 4, 7, 14 e 28. 
        Então 1 + 2 + 4 + 7 + 14 = 28.



TEOREMA DE PITÁGORAS


        
Um problema não solucionado na época de Pitágoras era determinar as relações entre os lados de um triângulo retângulo. Pitágoras provou que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.
        
O primeiro número irracional a ser descoberto foi a raiz quadrada do número 2, que surgiu exatamente da aplicação do teorema de Pitágoras em um triângulo de catetos valendo 1. Os gregos não conheciam o símbolo da raiz quadrada e diziam simplesmente: “o número que multiplicado por si mesmo é dois”. A partir da descoberta da raiz de 2 foram descobertos muitos outros números irracionais.

REITOR DA PRIMEIRA UNIVERSIDADE 

         A palavra Matemática (Mathematike, em grego) surgiu com Pitágoras, que foi o primeiro a concebê-la como um sistema de pensamento, fulcrado em provas dedutivas.

                          Mathematike
    
Existem, no entanto, indícios de que o chamado Teorema de Pitágoras (c²= a² + b²) já era conhecido dos babilônios em 1600 a.C., com escopo empírico. Estes usavam sistemas de notação sexagesimal na medida do tempo (1 hora = 60 minutos) e na medida de ângulos (60°, 120°, 180°. 240°, 360°).

        
Pitágoras percorreu por 30 anos o Egito, Babilônia, Síria, Fenícia e talvez a Índia e a Pérsia, onde acumulou ecléticos conhecimentos de astronomia, matemática, ciência, filosofia, misticismo e religião. Ele foi contemporâneo de Tales de Mileto, Buda, Confúcio e Lao-Tsé.
         Quando retornou a Samos, indispôs-se com o tirano Polícrates e emigrou para o sul da Itália, na Ilha de Crotona, de dominação grega. Aí fundou a Escola Pitagórica, a quem se concede a glória de ser a “primeira universidade do mundo”.
        
Polícrates, o tirano de Samos e sua filha

A Escola Pitagórica e as atividades se viram desde então envoltas num véu de lendas. Foi uma entidade parcialmente secreta com centenas de alunos que compunham uma irmandade religiosa e intelectual. Entre os conceitos que defendiam, destacam-se:


·        Prática de rituais de purificação e crença na doutrina da metempsicose, isto é, na transmigração da alma após a morte, de um corpo para outros. Portanto, advogavam a reencarnação e a imortalidade da alma;
·        Lealdade entre membros e distribuição comunitária dos bens materiais;
·        Austeridade, ascetismo e obediência à hierarquia da escola;
·        Proibição de beber vinho e comer carne (portanto é falsa a informação que os discípulos tivessem mandado matar 100 bois quando da demonstração do denominado Teorema de Pitágoras);
·        Purificação da mente pelo estudo de Geometria, Aritmética, Música e Astronomia;
·        Classificação aritmética dos números em pares, ímpares, primos e fatoráveis;
·        “Criação de um modelo de definições, axiomas, teoremas e provas, segundo o qual a estrutura intrincada da Geometria é obtida de um pequeno número de afirmações explicitamente feitas e da ação de um raciocínio dedutivo rigoroso”. (George Simmons).
·        Grande celeuma instalou-se entre os discípulos de Pitágoras a respeito da irracionalidade do “raiz de dois”. Utilizando notação algébrica, os pitagóricos não aceitavam qualquer solução numérica para x² = 2, pois só admitiam números racionais. Dada a conotação mística atribuída aos números, comenta-se que, quando o infeliz Hipaso de Metaponto propôs uma solução para o impasse, os outros discípulos o expulsaram da Escola e o afogaram no mar;
·        Na astronomia, ideias inovadoras, embora nem sempre verdadeiras: a Terra é esférica, os planetas movem-se em diferentes velocidades nas várias órbitas ao redor da Terra. Pela cuidadosa observação dos astros, cristalizou-se a ideia de que há uma ordem que domina o Universo;
·        Aos pitagóricos deve-se provavelmente a construção do cubo, do tetaedro, do octaedro, do dodecaedro e a bem conhecida “seção áurea”;
·        Na música, uma descoberta notável de que os intervalos musicais se colocam de modo que admitem expressões através de proporções aritméticas. Pitágoras – assim como outros filósofos gregos pré-socráticos – também descreveu o poder do som e seus efeitos sobre a psique humana. Essa experiência musicoterápica possivelmente foi utilizada mais tarde por Aristóteles como base teórica para sua definição de música, que, segundo ele, era uma “arte medicinal”.

        Pitágoras é o primeiro matemático puro. Entretanto é difícil separar o histórico do lendário, uma vez que deve ser considerado uma figura imprecisa historicamente, já que tudo o que dele sabemos deve-se à tradição oral. Nada deixou escrito, e os primeiros trabalhos sobre o mesmo deve-se a Filolau, quase 100 anos após a morte de Pitágoras. Mas não é fácil negar aos pitagóricos – assevera Carl Boyer – “o papel primordial para o estabelecimento da Matemática como disciplina racional”. A despeito de algum exagero, há séculos cunhou-se uma frase: “Se não houvesse o ‘Teorema de Pitágoras’, não existiria a Geometria.”
         Ao biografar Pitágoras, Jâmblico (cerca de 300 d.C.) registra que o mestre vivia repetindo aos discípulos: “Todas as coisas se assemelham aos números”.


Arquimedes

         A Escola Pitagórica ensejou forte influência na poderosa verba de Euclydes, Arquimedes e Platão, na antiga era cristão, na Idade Média, na Renascença e até em nossos dias com o Neopitagorismo.




        
        

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