terça-feira, 11 de abril de 2017

CABO VERDE: UMA NOVA PAIXÃO


          A receptividade dos naturais de Cabo Verde tem sido tão grande, que cada dia, procuro estudar mais este povo irmão. E cada dia fico mais apaixonado. Tanto que vou colocar aqui uma linda lenda:

Rosa Alexandra Fortes, natural da ilha de S. Antão, contou-me que sua avó “nha Zabel” lhe narrara que “Mãe Joana” (bisavó de Rosinha) era parteira jurada de Sereias!

 Foi chamada muitas vezes, a prestar os seus serviços, por uma pessoa que vinha do mar com aspecto de homem. Acompanhou-o sempre de boa vontade e sempre que chegavam à beira de água o homem tirava uma vara da sua capa e com ela batia nas ondas e o mar abria-se mostrando uma bela estrada seca e segura! Então o homem desaparecia e só a sua voz se ouvia guiando os passos de “Mãe Joana”, até ao Palácio onde se encontrava a Sereia parturiente.

Tudo era maravilhoso, jardins com plantas desconhecidas bordavam a estrada e rodeavam o palácio! Luzes de todas as cores iluminavam-no por fora e por dentro!

No quarto da Sereia, ouviam-se muitas vozes mas não se via ninguém e a parteira só via a parte do corpo em que tinha que trabalhar, por vezes uma perna, um braço, a barriga, alguns cabelos de outro, mas nunca a forma completa! Depois do bebé-sereia ter nascido, ofereciam a “Mãe Joana” um autêntico banquete, uma mesa com tudo o que havia de melhor, comidas raras e saborosas, tudo isto acompanhado de risos e cantos, mas sem que ela conseguisse ver alguém! De novo na presença da Sereia e do seu bebé, aquela oferecia-lhe algumas pedrinhas do mar como recompensa, com a recomendação de, assim que chegasse a casa, as guardar no canto da mala.

Vinham então trazê-la até à praia pela mesma estrada, no meio do mar, e o homem aparecia só para se despedir, agradecer-lhe a boa vontade e dar-lhe as ditas pedras. Logo despois desaparecia e o mar fechava-se!

A mulher, assim que chegou a casa, fez aquilo que sempre fazia, deitou fora as pedrinhas para o quintal, nunca respeitando as recomendações da Sereia e ficando assim mais pobre mas de coração contente por ter cumprido o seu dever humanitário.

Aqui termina a história da Rosinha.

Mas !nha! Amélia que me contara uma outra história e que também sabe esta, disse-me que a parteira, um dia, por desfastio, trouxe duas das tais pedrinhas do mar que a Sereia lhe ofertara, para casa e deitou-as no canto do quarto. No dia seguinte, as pedras tinham-se transformado em duas bolas de ouro! A reacção de “Mãe Joana” foi de alegria mas também de arrependimento por ter desperdiçado todas as outras ofertas e não ter acreditado na palavra da amiga Sereia. Ainda correu à beira-mar gritando pelos “encantados” para pedir perdão e também algumas pedrinhas do mar. mas ninguém lhe respondeu e, pior ainda, nunca mais a chamaram para ir ao fundo do mar ajudar bebés-sereias a nascer”.

Lenda (adaptada)


(do livro HISTÓRIAS DE LONGE E DE PERTO, Sec. Coordenador dos Programas de Educação Multicultural, Lisboa, 1997).


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