sábado, 29 de janeiro de 2022

A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO DE PAULO FREIRE

 


    Na conjuntura atual, onde graças ao reacionarismo reinante, a obra de Paulo Freire vem sendo severamente atacada e questionada, vale a pena revermos (re-vermos, re-lermos, re-discutirmos) seu legado. Sugerimos para começar uma releitura da obra "Pedagogia do Oprimido", pois diferentemente daqueles que o atacam, mas não o leem e muito menos conhecem suas ideias e práticas, devemos conhecê-lo e reconhecê-lo (do verbo re-conhecer, conhecer novamente). Inclusive, os brutos neoconservadores de plantão, precisam entender que a educação brasileira apresenta baixo níveis, não por causa de Paulo Freire, mas sim por não seguir os ensinamentos do grande humilde mestre! 


 

Escrito pelo professor brasileiro mais conhecido em todo o mundo e um dos livros mais influentes dentro da pedagogia, a pedagogia do oprimido mudou a concepção de educação para milhares de pessoas.





Pedagogia do Oprimido

O livro “Pedagogia do Oprimido'' foi escrito entre 1964 e 1968 enquanto Paulo Freire estava exilado no Chile por proibição da ditadura civil-militar do Brasil, onde permaneceu até 1974. Esse livro traz situações concretas, desvelando as relações que sustentam uma ordem social injusta, responsável pela violência dos opressores e pelo medo da liberdade que os oprimidos sentem. É um livro radical (no sentido de ir às raízes dos problemas), sobre o conhecer solidário, a vocação ontológica, o amor, o diálogo, a esperança e a humildade. Aborda a luta pela desalienação, pelo trabalho livre, pela afirmação dos seres humanos como pessoas, e não coisas.



    De acordo com a pedagogia do oprimido, sendo uma pedagogia humanista e libertadora, podem ser observados dois momentos distintos: o primeiro, no qual os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se com a sua transformação, e o segundo, no qual transformada a realidade opressora, a pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente evolução.

 

Medo da Liberdade



Dentre as principais ideias do livro “Pedagogia do Oprimido”, temos o medo da liberdade, um medo de que não tem consciência de quem o possui. Segundo o autor, no caso dos opressores há até aqueles que se dizem a favor da liberdade, mas buscam justificativas para negá-la aos oprimidos. No caso dos oprimidos, que pensam e se comportam de acordo com o que lhes prescrevem os opressores, a liberdade significaria substituir a prescrição dos opressores por outro conteúdo — e este conteúdo seria elaborado pelos próprios oprimidos, agora autônomos. Em resumo, um sujeito teme a liberdade porque prefere a estabilidade (mesmo que desfavorável) a uma liberdade arriscada, a uma situação à qual não se sente preparado.


Contradição do Opressor/Oprimido

Nessa concepção, os opressores agem sobre os oprimidos através da imposição de sua consciência, suas idéias, suas vontades. Exploram, violentam, desumanizam os outros e, ao mesmo tempo, se desumanizam nessa desumanização.



Já os oprimidos hospedam os opressores em si mesmos, já que não se veem como sujeitos da sua própria história, dos acontecimentos do mundo, muitas vezes sendo levados a acreditar em destino ou na vontade de Deus como explicação para sua miséria, sofrimento e injustiças das quais são vítimas.

 

Educação Bancária

Um conceito muito conhecido de Paulo Freire, a educação bancária se refere à prática de ensino que reproduz a sociedade opressora, em que o educador se coloca em posição superior, como dono do saber, que transfere e “deposita” nos educandos. Aos educandos (os recipientes) não resta outra coisa a não ser arquivar os depósitos, memorizá-los, sem qualquer possibilidade de pensar autenticamente e de criar. Só lhes resta se adaptar.

 

Educação Dialógica e Libertadora

Esse tipo de prática educativa se fundamenta em uma relação horizontal entre educador e educandos, superando a contradição entre os dois. Nesse contexto, educadores e educandos, por meio do diálogo e em comunhão, se tornam educadores-educandos e educandos-educadores, mediados pelo mundo.

Assim, a pedagogia do oprimido é, no fundo, a pedagogia dos homens se empenhando na luta por sua libertação. Nenhuma pedagogia realmente libertadora pode ficar distante dos oprimidos, quer dizer, pode fazer deles seres desditados, objetos de um “tratamento” humanitarista, para tentar, através de exemplos retirados de entre os opressores, modelos para a sua “promoção”. Os oprimidos hão de ser o exemplo para si mesmos, na luta por sua redenção. 


Os Homens se Libertam em Comunhão

 

Segundo Paulo Freire, só quando os oprimidos descobrem, com nitidez, o opressor, eles se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando sua “convivência” com o regime opressor. A ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para a liberdade, por si mesmo, ação com eles. A sua dependência emocional, fruto da situação concreta de dominação em que se acham e que gera também a sua visão inautêntica do mundo, não pode ser aproveitada a não ser pelo opressor, devida à baixa resiliência do oprimido. Este é que se serve desta motivação de dependência para criar mais dependência.

 

 

Abdias Nascimento organizando o povo.


Educação Dialógica e Diálogo

Assim, o autor considera que não há diálogo sem um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que a infunda. Não há, por outro lado, diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante. Sem o diálogo, não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.



Por isto é que não podemos, a não ser ingenuamente, esperar resultados positivos de um programa, seja educativo num sentido mais técnico ou de ação política, se, desrespeitando a particular visão do mundo que tenha ou esteja tendo o povo, se constitui numa espécie de invasão cultural, ainda que feita com a melhor das intenções.

 

Manipulação

Freire diz que, através da manipulação, as elites dominadoras tentam conformar as massas populares a seus objetivos. E quanto mais imaturas politicamente seja, mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras com o fim de um tipo inautêntico de “organização” que evite o seu contrário. As massas têm duas possibilidades: ou são manipuladas pelas elites ou se organizam verdadeiramente para sua libertação.



Assim, a educação deve ser ferramenta de estimulação de pensamento crítico, reflexão e libertação para uma sociedade mais justa e com maior qualidade de vida para todos.



 

Referência:

FREIRE, Paulo Reglus Neves. Pedagogia do oprimido. 67ª edição. Editora Paz & Terra. São Paulo, 2013. 

Fonte:

IBND. Disponível em:  https://www.ibnd.com.br/blog/a-pedagogia-do-oprimido.html. Acesso em: 29 de janeiro de 2022.







sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

SOBRE "O CAPITAL – DAS KAPITAL" – KARL MARX

 


 

            “Das Kapital”, “O Capital”, em português, é uma das principais obras do economista e filósofo do século XIX Karl Friedrich Marx (1818 – 1883). Obra que expôs sua teoria do sistema capitalista, seu dinamismo e suas tendências para a autodestruição. Ele escreveu que seu propósito era de expor “a lei econômica do movimento da sociedade moderna”. O primeiro volume foi publicado em Berlim em 1867; o segundo e o terceiro volumes, editados por seu amigo, colaborador e financiador Friedrich Engels (1820 – 1895), foram publicados postumamente em 1885 e 1894.


Edição de O Capital pela Boitempo

            Muito do “O Capital explicita o conceito de Marx de “mais-valia” de trabalho e suas consequências para o capitalismo. De acordo com Marx, não foi a pressão da população que levou os salários para o nível de subsistência, mas sim a existência de um grande exército de desempregados (exército de reserva de força de trabalho), que ele atribuiu aos capitalistas. Ele afirmou que dentro do sistema capitalista, o trabalho era uma mercadoria que poderia ganhar apenas salários de subsistência. Os capitalistas, no entanto, podiam forçar os trabalhadores a gastar mais tempo no trabalho do que o necessário para ganhar sua subsistência e então se apropriar do produto excedente, ou a mais-valia, um valor maior criado pelos trabalhadores.

            Porque todo o lucro resulta de uma “exploração do trabalho”, a taxa de lucro – a quantia por unidade do gasto total do capital – depende em grande parte do número de trabalhadores empregados. Como as máquinas não podem ser “exploradas”, elas não podem contribuir para os lucros totais, embora ajudem a “mão-de-obra” (força de trabalho) a produzir produtos mais úteis. Apenas o capital da folha de pagamento – “capital variável” – é produtivo devido à mais-valia e, consequentemente de lucro. A introdução de máquinas é lucrativa para o empresário individual, a quem eles dão uma vantagem sobre seus concorrentes. No entanto, à medida que as despesas com máquinas crescem em relação às despesas com salários, o lucro diminui em relação às despesas totais de capital. Assim, para cada gasto adicional de capital, o capitalista receberá cada vez menos retorno e pode tentar adiar sua falência apenas pressionando os trabalhadores. Em última análise, de acordo com “O Capital”, a classe capitalista torna-se incapaz de governar, porque incompetente para assegurar a existência de seu “escravo” (o operário – o assalariado – o proletário) dentro de sua “escravidão”. Consequentemente, o sistema capitalista entra em colapso e a classe trabalhadora herda o poder econômico e político.



            Embora Marx abordasse o capitalismo como economista e se orgulhasse do rigor conceitual de sua obra, “O Capital” – especialmente o primeiro volume – é rico em descrições empíricas. Marx elogiou o trabalho da Inspetoria de Fábrica, de cujos relatórios extraiu exemplos vívidos e assustadores do excesso de trabalho e dos maus-tratos sofridos pelos trabalhadores britânicos. Sua descrição selvagem da chamada “acumulação primitiva do capital” – processo pelo qual a Grã-Bretanha foi transformada de uma economia pré-capitalista em uma economia capitalista – é mais um dos trechos da obra que além de polêmico demonstra o conhecimento histórico e analítico de Marx.



Britannica, The Editors of Encyclopaedia. "Das Kapital". EncyclopediaBritannica, 27 de setembro de 2018, https://www.britannica.com/topic/Das-Kapital. Acessado em 23 de dezembro de 2021.


MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA (RESUMO)

 



O MANIFESTO COMUNISTA

 

            O “Manifesto Comunista”, em alemão “Manifest der Kommunistischen Partei”, é um panfleto de 1848 escrito por Karl Marx e Friedrich Engels para servir como plataforma da Liga Comunista. Tornou-se uma das principais declarações programáticas dos partidos socialistas e comunistas dos século XIX e início do século XX.

Karl Marx e Friedrich Engels

            O “Manifesto Comunista” incorpora a concepção materialista histórica dos autores: “A história de todas as sociedades até agora existentes é a história das lutas de classes”, e examina essa história desde a era do escravismo romano até o capitalismo do século XIX, que estava destinado, segundo o “Manifesto”, a ser derrubado e substituído por uma sociedade de trabalhadores. Os comunistas eram considerados a vanguarda da classe trabalhadora, e constituiriam o setor da sociedade que realizaria a “abolição da propriedade privada” e “elevaria o proletariado à posição de classe dominante”.

            O “Manifesto Comunista” começa com as palavras dramáticas: “Um espectro está assombrando a Europa – o espectro do comunismo” e termina afirmando: “Os trabalhadores não têm nada a perder, exceto suas correntes. Ele têm um mundo para vencer. Trabalhadores de todos os países, uni-vos”.



Britannica, The Editors of Encyclopaedia. "The Communist Manifesto". Encyclopedia Britannica, 25 Nov. 2019, https://www.britannica.com/topic/The-Communist-Manifesto. Acesso em: 23 Dez. 2021.




segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

I HAVE BEEN ON TOP OF THE MOUNTAIN (ESTIVE NO TOPO DA MONTANHA) MARTIN LUTHER KING - MEMPHIS 03/04/1968

 





I've Been on Top of the Mountain

(Estive no Topo da Montanha)

Martin Luther King Jr.  3 de abril de 1968 (Um dia antes de seu assassinato)

Templo Manson – Memphis, Tennessee, USA.

 



Muito obrigado, meus amigos. Enquanto ouvia a eloquente e generosa introdução de Ralph Abernathy e pensava em mim mesmo, fiquei imaginando de quem ele falava. É sempre bom ter o seu mais íntimo amigo e colaborador para falar algo de bom a seu respeito. E Ralph é o melhor amigo que tenho no mundo.

Estou encantado de vê-los todos aqui nesta noite, apesar do alerta de tempestade. Isso revela a sua determinação para prosseguir, sob quaisquer circunstâncias. Algo está acontecendo em Memphis, algo está acontecendo no mundo Sabem de uma coisa? Se eu estivesse presente no princípio do mundo e pudesse ter uma visão panorâmica de todos os tempos até os nossos dias, e o Todo-Poderoso me perguntasse: “Martin Luther King, em que época você gostaria de viver?”, eu faria mentalmente uma viagem ao Egito, e talvez prosseguisse pelo mar Vermelho e pelo deserto em direção à Terra Prometida. E, apesar de sua magnitude, eu não ficaria ali.

Eu seguiria até a Grécia e dirigiria o meu pensamento ao monte Olimpo. Encontraria Platão, Aristóteles, Sócrates, Eurípides e Aristófanes reunidos em torno do Parthenon, a discutir os grandes e eternos temas da realidade. Mas eu não ficaria ali.

Eu seguiria adiante, até o apogeu do Império Romano e veria as conquistas de tantos imperadores e líderes. Mas eu não ficaria ali.

Eu chegaria aos dias da Renascença e traçaria um rápido panorama de tudo o que ela fez pela vida cultural e artística do homem. Mas não ficaria ali.

Eu seguiria até a época em que viveu o homem em cuja homenagem me deram este nome e veria Martin Lutero fixar as suas 95 teses na porta da igreja em Wittenberg. Mas eu não ficaria ali.

Eu seguiria até o ano de 1863 e assistiria a um vacilante presidente de nome Abraham Lincoln finalmente chegar à conclusão de que tinha de assinar a Proclamação de Emancipação. Mas eu não ficaria ali.

Eu iria ainda mais longe, ao começo dos anos 1930, e veria um homem combater a falência de sua nação. E ouviria um eloqüente clamor de que “nada há a temer, senão o próprio medo”. Mas eu não ficaria ali.

Por estranho que pareço, eu me voltaria ao Todo-Poderoso e diria “Se o senhor me permitir viver apenas alguns poucos anos da segunda metade do século XX ficarei feliz”.

Que estranho pedido a se fazer, afinal o mundo está uma grande bagunça. A nação está doente, há problemas e confusão por toda parte. Que estranho pedido. Mas de algum modo sei que somente quando está suficientemente escuro podem-se ver as estrelas. E vejo Deus agindo neste momento do século XX de tal forma que os homens reagem de um modo estranho – algo está acontecendo. As massas estão se levantando. E onde quer que se reúnam hoje, em Johannesburgo, África do Sul; Nairóbi, Quênia; Acra, Gana; Nova York; Atlanta, Geórgia; Jackson, Mississippi; ou Memphis, Tennessee – o clamor é sempre o mesmo: “Queremos ser livres.

Mas tenho outra razão para ficar feliz por viver nesta época. Forçaram-nos a tal ponto que, hoje, temos de enfrentar os mesmos problemas que os homens enfrentaram ao longo de toda a história. Mas as circunstâncias não os forçavam a isso como hoje nos forçam, pois deste enfrentamento depende nossa sobrevivência. A humanidade, há muitos anos, tem falado de guerra e de paz. Só que agora não podemos simplesmente falar. Não é mais um escolha entre violência e não-violência, mas entre não-violência e inexistência. Eis onde nos encontramos hoje.

E, no que diz respeito à revolução dos direitos humanos, se algo não for feito com urgência para tirar os povos de cor de todo o mundo de seus longos anos de pobreza, longos anos de dor e negligência, todo mundo estará condenado. Por isso, eu estou muito feliz que Deus tenha permitido que eu viva nesta época, para testemunhar esses acontecimentos. Estou feliz que Ele tenha me permitido estar em Memphis.

Lembro-me, lembro-me de quando os negros apenas vagavam por aí, como Ralph costuma dizer, arrumando sarna pra se coçar e motivos para rir à toa. Mas esse dia chegou ao fim. Agora, o negócio é serio, e estamos determinados a conquistar o lugar a que temos direito no mundo de Deus.

E tudo está relacionado a isso. Não nos engajamos em nenhum protesto negativo nem nos envolvemos em discussões negativas. Dizemos que estamos determinados a ser homens. Estamos determinados a ser um povo. Dizemos, dizemos que somos filhos de Deus e que, se somos filhos de Deus, não precisamos viver como nos forçam a viver.

Mas, que tudo isso quer dizer neste grande período da história? Diz-nos que no precisamos permanecer unidos. Precisamos permanecer unidos e manter a unidade. Vocês sabem, sempre que o faraó desejava prolongar o período de escravidão do Egito, ele usava a sua fórmula favorita. Qual era? Ele mantinha os escravos em luta entre si. Mas sempre que os escravos se uniam, algo acontecia na corte do faraó e ele não podia manter os escravos no cativeiro. A união dos escravos foi o primeiro passo para a saída do cativeiro. Hoje, fiquemos unidos.

Em segundo lugar, as questões devem ser mantidas em seus devidos lugares, e a questão agora é a injustiça. A questão é a recusa de Memphis em ser uma cidade justa e honesta ao lidar com os servidores da limpeza pública. Agora, fiquemos atentos. Sempre há o problema da violência. Vocês não sabem o que aconteceu outro dia, e a imprensa noticiou apenas o quebra-quebra. Li os artigos, que praticamente não mencionaram o fato de que 1.300 trabalhadores da limpeza pública estão em greve, que Memphis não está sendo justa com eles e que o prefeito Loeb precisa urgentemente de um médico. Eles nem sequer mencionaram isso.

Agora marchemos novamente e devemos marchar novamente a fim de por essa questão em seu devido lugar. Faremos com que todos vejam que há aqui 1.300 filhos de Deus que sofrem, atravessando noites escuras e sombrias, pensando como tudo isso vai acabar. Eis a questão. E precisamos dizer à nação: sabemos como isso vai terminar. Pois, quando as pessoas desejam se sacrificar por aquilo que é justo, elas só se concentrarão com a vitória.

Não permitiremos que nenhum cassetete nos impeça. Em nosso movimento de não-violência, somos mestres em desarmar forças policiais; já os vi frequentemente em ação. Lembro fé Birgmingham, Alabama, quando estávamos naquela luta fabulosa e saíamos às centenas da igreja batista da rua 16, dia após dia. E Bull Connor soltava sobre nós os seus cachorros, que não se aproximavam. Seguíamos cantando diante dos cachorros: “Ninguém me fará recuar”. Bull Connor dizia então: “Usem os jatos d´água”. E, como lhes disse outra noite, Bull Connor não conhecia história. Ele conhecia uma física que de algum modo não se harmonizava com a metafísica que conhecíamos. Pois havia um fogo que nenhuma água poderia apagar. E parávamos diante dos jatos poderosos, pois conhecíamos a água. Se fôssemos batistas, diríamos que fomos imersos. Se fôssemos metodistas, diríamos que fomos aspergidos – mas conhecíamos a água. Ela não nos deteria.

Seguíamos diante dos cachorros e diante dos jatos d’água, seguíamos cantando “Repousa sobre mim a liberdade”. E então nos jogavam em camburões e às vezes nos amontoavam como sardinhas na lata. Jogavam-nos ali dentro, e o velho Bull dizia: “Levem todos daqui”, e eles levavam; e seguíamos no camburão cantando “Nós triunfaremos”. De vez em quando, éramos presos e víamos os carcereiros olhando pelas janelas e se comovendo com nossas preces, se comovendo com as nossas palavras e as nossas canções. E havia ali um poder que Bull Connor não podia liquidar; e, assim, terminamos por transformar o “touro” num novilho e vencemos nossa luta em Birmingham.

Agora, do mesmo modo, devemos seguir para Memphis. Clamo pela sua presença ao nosso lado na segunda-feira. Agora no que diz respeito aos mandados – há um circulando e iremos ao tribunal amanhã de manhã, para lutar contra essa decisão injusta e inconstitucional. Tudo o que pedimos à América é: “Seja fiel ao que você colocou no papel”. Se eu tivesse na China ou mesmo na Rússia, ou em qualquer país totalitário, talvez pudesse entender algumas dessas imposições ilegais. Talvez eu pudesse entender a recusa e certos privilégios básicos da Primeira Emenda, uma vez que lá eles não se comprometeram com isso. Mas, em algum lugar, li sobre a liberdade de reunião e associação. Em algum lugar, li sobre a liberdade de expressão. Em algum lugar, li sobre a liberdade de imprensa. Em algum lugar, li que a grandeza da América é o direito de protestar por direitos. E, como disse há pouco, nenhum cachorro ou jato d’água nos fará recuar, nenhuma lei nos fará recuar. Nós prosseguiremos e precisamos de todos vocês.

E vocês sabem como é bonito ver todos esses ministros do Evangelho. É um quadro maravilhoso. Quem mais é capaz de articular todos os anseios e as aspirações do povo senão um pastor? De algum modo, o pastor deve guardar um fogo em seus ossos e, sempre que a injustiça se revelar, ele deve se manifestar. Tal qual Amós, o pastor deve dizer: “Quando Deus fala, quem não profetizará?”. E, novamente como Amós, o pastor deve dizer: “Que a justiça corra como as águas, e seja a virtude uma corrente poderosa”. Como Jesus, o pastor deve dizer: “O espírito do Senhor repousa sobre mim, pois Ele me enviou, Ele me enviou para levar a Boa Nova aos humildes”.

E desejo louvar os pregadores sob a liderança destes nobres homens: James Lawson, que participa desta batalha há tantos anos; ele foi preso pela sua luta, ele foi expulso da Universidade Vanderbilt pela sua luta, mas ele não desiste de lutar pelos direitos de seu povo. Reverendo Ralph Jackson, Billy Kiles; eu poderia prosseguir com esta lista, porém o nosso tempo é curto. Mas desejo agradecer a todos. E desejo que vocês também agradeçam, porque muito frequentemente os pastores não se preocupam com mais nada a não ser consigo mesmos. E fico contente em ver um ministro valoroso. É justo falar sobre longos mantos brancos em algum lugar, com todo o seu simbolismo; mas, em última instância, as pessoas daqui querem alguns ternos, vestidos e sapatos. Tudo bem se falarmos sobre ruas cobertas de leite e mel, mas Deus nos ordenou para nos preocuparmos com os miseráveis e seus filhos, que não podem comer três refeições por dia. Tudo bem se falarmos sobre a nova Jerusalém, mas um dia pregadores de Deus terão de falar sobre a nova York, sobre a nova Atlanta, sobre a nova Filadélfia, sobre a nova Los Angeles, sobre a nova Memphis, no Tennessee. Eis o que precisamos fazer.

Há algo mais que precisamos fazer: sempre ancorar a nossa ação exterior no poder da retração econômica. Somos um povo pobre; individualmente, somos pobres quando nos comparamos com a sociedade branca da América. Somos pobres. Mas nunca se esqueçam que coletivamente, ou seja, todos nós juntos, coletivamente somos mais ricos que todas as nações do mundo, com a exceção de nove. Vocês já pensaram nisso? Fora os Estados Unidos, a União Soviética, a Grã-Bretanha, a Alemanha Ocidental, a França, e poderia mencionar alguns outros, o negro, coletivamente, é mais rico que a maioria das nações do mundo. Temos uma renda anula superior a 30 bilhões de dólares, que é maior do que toda a exportação dos Estados Unidos e maior que o orçamento anual do Canadá. Vocês sabiam disso? Esse é o poder que temos se soubermos utilizá-lo.

Não precisamos discutir com ninguém. Não precisamos de pedras nem garrafas, não precisamos de coquetéis molotov. Precisamos simplesmente circular por essas lojas e pelas grandes indústrias do nosso país e dizer: “Deus nos enviou aqui para lhes dizer que vocês não tratam bem os Seus filhos. E viemos aqui lhes pedir que o primeiro item de sua agenda seja o tratamento justo dos filhos de Deus. Mas, se vocês não estiverem preparados para isso, temos uma agenda a seguir. E nossa agenda exige que retiremos o apoio econômico que lhes damos”.

E assim, como consequência, pedimos-lhes nesta noite que saiam e digam a seus vizinhos para não comprar Coca-Cola em Memphis. Passem por suas casas e digam para não comprar leite Sealtest. Digam-lhes para não comprar – como é mesmo o nome do pão – Wonder Bread. E como é o nome daquela fábrica de pão, Jesse? Digam-lhes para não comprar o pão Hart. Como Jessé Jackson disse, até agora, apenas os lixeiros sentiram a dor; e gora de certo modo devemos retribuir essa dor. Escolhemos essas empresas porque elas não tem sido justas em suas políticas de contratação e as escolhemos porque elas podem iniciar o processo de apoio às reivindicações e aos direitos desses trabalhadores em greve. E podem ir ao centro da cidade dizer ao prefeito Loeb para fazer o que é certo.

Mas não é só isso. Precisamos ir além e fortalecer as instituições negras. Clamo a vocês que saquem o sue dinheiro dos bancos do centro da cidade e o depositem no Tri-State Bank. Desejamos um movimento “bank-in”, em Memphis. Por isso, passem pelas instituições financeiras. Não lhes peço nada que nós da SCLC já não façamos. O juiz Hooks e outros lhes dirão que temos uma conta aqui numa instituição financeira em nome da Conferência da Liderança Cristã do Sul. Apenas lhes pedimos que façam o mesmo. Depositem o seu dinheiro aqui. Vocês dispõem de seis ou sete companhias de seguro negras em Memphis. Queremos uma “insurreição”, Eis algumas medidas práticas que podemos tomar. Podemos começar um processo de construção de uma grande base econômica e, ao mesmo tempo, colocar o dedo na verdadeira ferida. Peço-lhes que trilhem esse caminho.

Permitam-me dizer, agora que me aproximo da conclusão, que devemos lutar até o fim. Nada poderia ser mais trágico do que pararmos a esta altura, em Memphis. Precisamos seguir até o fim. E, durante a nossa marcha, vocês precisam estar lá, Se necessário, faltem ao trabalho; se necessário, faltem à escola; mas estejam lá. Preocupem-se com o seu irmão. Vocês podem não estar em greve, mas venceremos todos juntos ou juntos seremos derrotados. Precisamos desenvolver um tipo perigoso de altruísmo.

Um dia um homem veio a Jesus, desejoso de questioná-lo sobre alguns temas vitais. Na verdade, ele queria enganar Jesus, mostrar que conhecia um pouco mais que Jesus e, assim, tira-lo do páreo. O questionamento poderia facilmente descambar para um debate filosófico-teológico, mas Jesus logo o tirou do plano abstrato e colocou-o numa perigosa curva entre Jerusalém e Jericó. E falou sobre certo homem que caiu nas mãos de ladrões. Vocês recordam que um levita e um sacerdote passaram a largo, mas não pararam para ajudá-lo. E finalmente um homem de outra raça apareceu. Desmontou de seu animal, decidido a não ser compassivo por procuração. Ajoelhou-se ao seu lado e, prestando-lhe os primeiros socorros, assistiu o necessitado. Jesus finalizou dizendo: esse foi um homem digno, pois teve a capacidade de projetar o seu “eu” no “outro” e de se preocupar com o seu irmão.

Vocês sabem como, em grande medida, usamos nossa imaginação para tentar determinar por que o sacerdote e o levita não pararam. Às vezes dizemos que eles estavam ocupados demais com compromissos no templo – um encontro eclesiástico – e tinham que ir a Jerusalém a fim de não se atrasarem para o encontro. Outras vezes especulamos que havia uma lei religiosa que determinava que quem estivesse envolvido em cerimônias religiosas não deveria tocar o corpo de um homem 24 horas antes da cerimônia. E de vez em quando começamos a imaginar se talvez eles não seguissem a Jerusalém, ou a Jericó, a fim de organizar uma Associação para o Progresso da Estrada de Jericó. É uma possibilidade. Talvez acreditassem ser preferível atacar o problema pela raiz a se deter num esforço individual.

Mas agora lhes contarei o que diz a minha imaginação. É possível que esses homens tivessem medo. Vejam, a estrada de Jericó é uma estrada perigosa. Lembro-me bem da primeira vez em que minha esposa e eu estivemos em Jerusalém. Alugamos um carro e seguimos de Jerusalém a Jericó. E assim que tomamos a estrada, eu disse para minha esposa: “Entendo por que Jesus usou este cenário em sua parábola”. É uma estrada sinuosa e tortuosa. É de fato muito apropriada para uma emboscada. Sai de Jerusalém, a cerca de 400 metros acima do nível do mar. E ao chegar a Jericó, quinze ou vinte minutos, está-se a 600 metros abaixo do nível do mar. É uma estrada perigosa. No tempo de Jesus era conhecida como a “passagem sangrenta”. E vocês sambem, é possível que o sacerdote e o levita tenham visto o homem caído e pensado se os ladrões ainda não estariam por perto. Ou é possível que tenham pensado que o homem caído estivesse apenas fingindo e agia como se tivesse sido roubado e ferido, a fim de atraí-los para ali e rapidamente dominá-los. Assim a primeira pergunta que o levita se fez foi: “Se eu para ajudar esse homem, o que me acontecerá?”.

Mas o bom Samaritano apareceu e ele inverteu a pergunta: “Se eu não parar para ajudar esse homem, o que acontecerá a ele?”. Está é a pergunta que lhes faço esta noite. Não se perguntem: “Se eu parar para ajudar os trabalhadores da limpeza pública, o que acontecerá com o meu emprego?” Não se pergunte: “Se eu parar para ajudar os trabalhadores da limpeza pública, o que acontecerá com as horas de todas as manhãs e de todas as semanas que consumo passar em meu escritório no meu ofício de pastor?”.

A pergunta não é: “Se eu parar para ajudar esse pobre homem, o que me acontecerá?” A verdadeira pergunta é: “Se eu não parar para ajudar os lixeiros, o que acontecerá a eles?”.

Levantemo-nos nesta noite com presteza. Fiquemos de pé com determinação. E sigamos nestes dias poderosos, nestes dias desafiadores, a fim de transformar a América naquilo que tem de ser. Temos a oportunidade de tornar a América um país melhor.

E agradeço a Deus, mais uma vez, por me permitir estar aqui com vocês. Vocês sabem que há alguns anos eu estava na cidade de Nova York, autografando o primeiro livro que escrevi. E, enquanto autografava, apareceu uma mulher negra com problemas mentais. A única pergunta que ela me fez foi: “O senhor é Martin Luther King?” Enquanto, escrevia de cabeça baixa, eu disse que sim.

No minuto seguinte, senti algo atingir o meu peito. Antes que eu pudesse perceber, havia sido esfaqueado por essa mulher desequilibrada. Fui levado às pressas para o Hospital Harlem. Era uma escura tarde de sábado. A lâmina penetrara fundo, e a radiografia revelara que a sua extremidade quase tocara a aorta, a artéria principal. Se a lâmina a perfurasse, eu me afogaria em meu próprio sangue; seria o meu fim. Na manhã seguinte, deu no New York Times que, seu eu tivesse espirrado, teria morrido.

Bom, cerca de quatro dias depois, permitiram-me, depois da operação, depois que meu peito fora aberto e a lâmina fora retirada, circular pelo hospital em uma cadeira de rodas. Permitiram-me ler um pouco da correspondência enviada para mim. De todos os estados e de todo o mundo chegava cartas gentis. Li algumas, mas uma jamais esquecerei. Recebi uma do presidente e do vice-presidente, mas esqueci o que esses telegramas diziam. Recebi uma visita e uma carta do governador de Nova York, mas também esqueci o que dizia.

Mas houve uma carta, enviada por uma menina, uma menina de 10 anos que estudava em White Plains High School. Li essa carta e jamais a esquecerei. Ela simplesmente dizia: “Querido Dr. King: sou aluna da White Plains High School. Embora não devesse importar, queria mencionar que sou uma menina branca. Li no jornal sobre o seu infortúnio e o seu sofrimento. E li que, se o senhor tivesse espirrado, teria morrido. Escrevo simplesmente para lhe dizer que estou muito feliz que o senhor não tenha espirrado”.

E quero dizer nesta noite, quero dizer que estou feliz que eu não tenha espirrado. Pois, se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1960, quando os estudantes de todo o Sul começaram os sit-ins nos balcões das lanchonetes. E sei que quando eles se sentavam, eles na realidade se punham de pé, em nome do que há de melhor no sonho americano, e levavam toda a nação de volta aos grandes poços da democracia que foram escavados profundamente pelos Pais Fundadores na Declaração da Independência e na Constituição.

Se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1961, quando decidimos viajar pela liberdade e pôr fim à segregação nos transportes interestaduais.

Se eu tivesse espirrado, não estaria aqui em 1962 quando os negros de Albany, Geórgia, decidiram levantar a cabeça. E, sempre que homens e mulheres ficam de pé, eles vão a algum lugar, pois ninguém poderá montar-lhes as costas a menos que se curvem.
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Se eu tivesse espirrado não estaria aqui em 1963 quando a população negra de Birmingham, Alabama, despertou a consciência desta nação e trouxe à luz a Lei dos Direitos Civis.

Seu eu tivesse espirrado, não teria tido a chance de, em agosto do ano seguinte, tentar contar à América um sonho que eu tivera. Se eu tivesse espirrado, não teria testemunhado o grandioso movimento de Selma, Alabama.

Se eu tivesse espirrado, não teria vindo a Memphis para ver a comunidade se mobilizar em nome de seus irmãos e irmãs que sofrem. Estou muito feliz de não ter espirrado.

E eles me diziam: agora não tem importância. Realmente agora não tem importância. Deixei Atlanta está manhã, e, quando embarcamos no avião, o piloto disse no sistema de som: “Lamentamos o atraso, mas temos o senhor Martin Luther King a bordo, E para ter certeza de que todas as malas fossem revistadas e para ter certeza de que nada sairia errado, checamos tudo com cuidado. E o avião esteve sob a proteção policial toda a noite”.

Então cheguei a Memphis e começaram a me falar das ameaças ou comentar as ameaças que vieram à tona. O que poderiam me fazer alguns de nossos doentes irmãos brancos?

Bem, não sei o que acontecerá agora. Dia difíceis virão. Mas não me importa. Pois eu estive no topo da montanha. E não me importo. Como qualquer pessoa, gostaria de vive uma vida longa. A longevidade tem o seu lugar. Mas não me preocupo com isso agora. Apenas desejo obedecer aos desígnios de Deus. E Ele me levou ao topo da montanha, olhei ao redor e contemplei a Terra Prometida. Posso não alcançá-la, mas quero que saibam, que nós, como povo, chegaremos à Terra Prometida. Estou tão feliz; não me preocupo com nada; não temo homem algum. Meus olhos viram a glória da presença do Senhor.

Blog Afrobrasilidades e Afins. Disponível em: http://omenelicksegundoato.blogspot.com/2011/02/eu-estive-no-topo-da-montanha.html. Acesso em: 24 de jan. 2022.



HOW LONG? NOT LONG - QUANTO TEMPO? NÃO MUITO!

 


“How Long? Not Long”

(“Quanto Tempo? Não Muito”)

Discurso de Martin Luther King na Marcha de Selma a Montgomery em março de 1965.

 

How long? Not long!

So I stand before you this afternoon with the conviction that segregation is on its deathbed in Alabama and the only thing uncertain about it is how costly the segregationists and Wallace will make the funeral. Our whole campaign in Alabama has been centered around the right to vote. In focusing the attention of the nation and the world today on the flagrant denial of the right to vote, we are exposing the very origin, the root cause, of racial segregation in the Southland. The threat of the free exercise of the ballot by the Negro and the white masses alike resulted in the establishing of a segregated society. They segregated Southern money from the poor whites; they segregated Southern churches from Christianity; they segregated Southern minds from honest thinking; and they segregated the Negro from everything. We have come a long way since that travesty of justice was perpetrated upon the American mind. Today 1 want to tell the city of Selma, today 1 want to tell the state of Alabama, today 1 want to say to the people of America and the nations of the world: We are not about to turn around. We are on the move now. Yes, we are on the move and no wave of racism can stop us. We are on the move now. The burning of our churches will not deter us. We are on the move now. The bombing of our homes will not dissuade us. We are on the move now. The beating and killing of our clergymen and young people will not divert us. We are on the move now. The arrest and release of known murderers will not discourage us. We are on the move now. Like an idea whose time has come, not even the marching of mighty armies can halt us. We are moving to the land of freedom. Let us therefore continue our triumph and march to the realization of the American dream. Let us march on segregated housing until every ghetto of social and economic depression dissolves and Negroes and whites live side by side in decent, safe, and sanitary housing. Let us march on segregated schools until every vestige of segregated and inferior education becomes a thing of the past and Negroes and whites study side by side in the socially healing context of the classroom. Let us march on poverty until no American parent has to skip a meal so that their children may eat. March on poverty until no starved man walks the streets of our cities and towns in search of jobs that do not exist. Let us march on ballot boxes, march on ballot boxes until race baiters disappear from the political arena. Let us march on ballot boxes until the Wallaces of our nation tremble away in silence. Let us march on ballot boxes until we send to our city councils, state legislatures, and the United States Congress men who will not fear to do justice, love mercy, and walk humbly with their God. Let us march on ballot boxes until all over Alabama God's children will be able to walk the earth in decency and honor. For all of us today the battle is in our hands. The road ahead is no altogether a smooth one. There are no broad highways to lead us easily and inevitably to quick solutions. We must keep going. My people, my people, listen! The battle is in our hands. The battle is in our hands in Mississippi and Alabama, and all over the Unite States. So as we go away this afternoon, let us go away more than eve before committed to the struggle and committed to nonviolence. I must admit to you there are still some difficulties ahead. We are still in for a season of suffering in many of the black belt counties of Alabama, many areas of Mississippi, many areas of Louisiana. I must admit to you there are still jail cells waiting for us, dark and difficult moments. We will go on with the faith that nonviolence and its power transformed dark yesterdays into bright tomorrows. We will be able to change all of these conditions. Our aim must never be to defeat or humiliate the white man but to win his friendship and understanding. We must come to see that the end we seek is a society at peace with itself, a society that can live with its conscience. That will be a day not of the white man, not of the black man. That will be the day of man as man. I know you are asking today, "How long will it take?" 1 come to say to you this afternoon however difficult the moment, however frustrating the hour, it will not be long, because truth pressed to earth will rise again. How long? Not long, because no lie can live forever. How long? Not long, because you still reap what you sow. How long? Not long. Because the arm of the moral universe is lonk but it bends toward justice. How long? Not long, because mine eyes have seen the glory of the coming of the Lord, trampling out the vintage where the grapes of wrath are stored. He has loosed the fateful lightning of his terrible swift sword. His truth is marching on. He has sounded forth the trumpets that shall never call retreat. He is lifting up the hearts of men before His judgment seat. Oh, be swift, my soul, to answer Him. Be jubilant, my feet. Our God is marching on. As the trains loaded and the busses embarked for their destinations, as the inspired throng returned to their homes to organize the .: final phase of political activity which would complete the revolution so eloquently proclaimed by the word and presence of the multitude,' in Montgomery, the scent of victory in the air gave way to the stench of death. We were reminded that this was not a march to the capital '" of a civilized nation, as was the March on Washington. We had marched through a swamp of poverty, ignorance, race hatred, and," sadism. We were reminded that the only reason that this march was possible was due to the presence of thousands of federalized troop marshals, and a federal court. We were reminded that the trot would soon be going home, and that in the days to come we had renew our attempts to organize the very county in which Mrs. Viola Liuzzo was murdered. If they murdered a white woman for standing up for the Negro's right to vote, what would they do to Negroes who attempted to register and vote?  Certainly it should not have been necessary for more of us die, to suffer failings and beatings at the hands of sadistic savages uniforms. The Alabama voting project had been total in its commitment to nonviolence, and yet people were beginning to talk more and more of arming themselves. The people who followed along the fringe of the movement, who seldom came into the nonviolence training sessions, were growing increasingly bitter and restless. For we could not allow even the thought or spirit of violence to creep into our movement. When we marched from Selma to Montgomery, Alabama, I member that we had one of the most magnificent expressions of t ecumenical movement that I've ever seen. Protestants, Catholic and Jews joined together in a beautiful way to articulate the injustices and the indignities that Negroes were facing in the state of Alabama and all over the South on the question of the right to vote had seen many clergymen come to the forefront who were not the some years ago. The march gave new relevance to the gospel. Sell brought into being the second great awakening of the church America. Long standing aside and giving tacit approval to the civil rights struggle, the church finally marched forth like a mighty am and stood beside God's children in distress. Stalwart nonviolent activists within our ranks had brought about a coalition of the nation's conscience on the infamous stretch ofhighway between Selma and Montgomery. The awakening of the church also brought a new vitality to the labor movement, and to intellectuals across the country. A little known fact was that forty of the nation's top historians took part in the march to Montgomery. One can still hear the tramping feet and remember the glowing eyes filled with determination and hope which said eloquently, "We must be free," a sound which echoed throughout this nation, a yes, even throughout the world. My mind still remembers vividly the ecumenicity of the clergy, the combined forces of labor, Civil` rights organizations, and the academic community which joined our ranks and said in essence, "Your cause is morally right, and we are with you all the way." After the march to Montgomery, there was a delay at the airport and several thousand demonstrators waited more than five hours, crowding together on the seats, the floors, and the stairways of the terminal building. As I stood with them and saw white and Negro, nuns and priests, housemaids and shop workers brimming with vitality and enjoying a rare comradeship, I knew I was seeing a microcosm of the mankind of the future in that moment of luminous and genuine brotherhood.

Quanto Tempo? Não Muito! 

Então, estou diante de vocês esta tarde com a convicção de que a segregação está em seu leito de morte no Alabama e a única coisa incerta sobre isso é quão caro os segregacionistas e Wallace farão o funeral. Toda a nossa campanha no Alabama foi centrada no direito ao voto. Ao focalizar a atenção da nação e do mundo hoje na flagrante negação do direito ao voto, estamos expondo a própria origem, a causa raiz, da segregação racial no sul. A ameaça do livre exercício do voto pelo negro e pelas massas brancas resultou no estabelecimento de uma sociedade segregada. Eles segregaram o dinheiro sulista dos brancos pobres; eles segregaram as igrejas do sul do cristianismo; separaram as mentes sulistas do pensamento honesto; e segregaram o negro de tudo. Percorremos um longo caminho desde que essa caricatura de justiça foi perpetrada na mente americana. Hoje quero dizer à cidade de Selma, hoje quero dizer ao estado do Alabama, hoje quero dizer ao povo da América e às nações do mundo: Não vamos dar meia-volta. Estamos em movimento agora. Sim, estamos em movimento e nenhuma onda de racismo pode nos parar. Estamos em movimento agora. A queima de nossas igrejas não nos deterá. Estamos em movimento agora. O bombardeio de nossas casas não nos dissuadirá. Estamos em movimento agora. O espancamento e morte de nossos clérigos e jovens não nos distrairá. Estamos em movimento agora. A prisão e a libertação de assassinos conhecidos não nos desencorajarão. Estamos em movimento agora. Como uma ideia cuja hora chegou, nem mesmo a marcha de poderosos exércitos pode nos deter. Estamos nos movendo para a terra da liberdade. Vamos, portanto, continuar nosso triunfo e marchar para a realização do sonho americano. Vamos marchar por moradias segregadas até que todo gueto de depressão social e econômica se dissolva e negros e brancos vivam lado a lado em moradias decentes, seguras e sanitárias. Vamos marchar em escolas segregadas até que todo vestígio de educação segregada e inferior se torne coisa do passado e negros e brancos estudem lado a lado no contexto socialmente curador da sala de aula. Vamos marchar sobre a pobreza até que nenhum pai americano tenha que pular uma refeição para que seus filhos possam comer. Marche sobre a pobreza até que nenhum homem faminto ande pelas ruas de nossas cidades e vilas em busca de empregos que não existem. Vamos marchar nas urnas, marchar nas urnas até que os racistas desapareçam da arena política. Vamos marchar nas urnas até que os Wallaces de nossa nação estremeçam em silêncio. Marchemos nas urnas até enviarmos aos nossos conselhos municipais, legislaturas estaduais e ao Congresso dos Estados Unidos homens que não temerão fazer justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com seu Deus. Vamos marchar nas urnas até que em todo o Alabama os filhos de Deus possam andar na terra com decência e honra. Para todos nós hoje a batalha está em nossas mãos. A estrada à frente não é totalmente suave. Não há estradas largas que nos levem fácil e inevitavelmente a soluções rápidas. Devemos continuar. Meu povo, meu povo, escute! A batalha está em nossas mãos. A batalha está em nossas mãos no Mississippi e no Alabama, e em todos os Estados Unidos. Então, enquanto vamos embora esta tarde, vamos embora mais do que antes comprometidos com a luta e comprometidos com a não-violência. Devo admitir que ainda há algumas dificuldades pela frente. Ainda estamos em uma temporada de sofrimento em muitos dos condados de faixa preta do Alabama, muitas áreas do Mississippi, muitas áreas da Louisiana. Devo admitir para você que ainda há celas esperando por nós, momentos sombrios e difíceis. Continuaremos com a fé de que a não-violência e seu poder transformaram ontem escuros em amanhãs brilhantes. Seremos capazes de mudar todas essas condições. Nosso objetivo nunca deve ser derrotar ou humilhar o homem branco, mas conquistar sua amizade e compreensão. Devemos chegar a ver que o fim que buscamos é uma sociedade em paz consigo mesma, uma sociedade que possa viver com sua consciência. Esse será um dia não do homem branco, não do homem negro. Esse será o dia do homem como homem. Eu sei que você está perguntando hoje: "Quanto tempo vai demorar?" Venho dizer-vos esta tarde, por mais difícil que seja o momento, por mais frustrante que seja a hora, não demorará muito, porque a verdade pressionada à terra ressurgirá. Quanto tempo? Não muito, porque nenhuma mentira pode viver para sempre. Quanto tempo? Não muito tempo, porque você ainda colhe o que planta. Quanto tempo? Não muito. Porque o braço do universo moral é comprido, mas se inclina para a justiça. Quanto tempo? Não muito tempo, porque meus olhos viram a glória da vinda do Senhor, pisoteando a vindima onde estão armazenadas as uvas da ira. Ele soltou o fatídico relâmpago de sua terrível espada veloz. A verdade dele está a marchar. Ele soou as trombetas que nunca chamarão a retirada. Ele está elevando os corações dos homens diante de Seu trono de julgamento. Oh, seja rápida, minha alma, para responder a Ele. Alegrem-se, meus pés. Nosso Deus está marchando. Enquanto os trens carregavam e os ônibus embarcavam para seus destinos, enquanto a multidão inspirada voltava para suas casas para organizar a: fase final da atividade política que completaria a revolução tão eloquentemente proclamada pela palavra e presença da multidão', em Montgomery, o cheiro da vitória no ar deu lugar ao fedor da morte. Fomos lembrados de que esta não era uma marcha para a capital de uma nação civilizada, como foi a Marcha sobre Washington. Marchamos através de um pântano de pobreza, ignorância, ódio racial e sadismo. Fomos lembrados de que a única razão pela qual esta marcha foi possível foi devido à presença de milhares de marechais de tropas federalizadas e um tribunal federal. Fomos lembrados de que o trote logo voltaria para casa e que nos próximos dias teríamos de renovar nossas tentativas de organizar o próprio condado em que a senhora Viola Liuzzo foi assassinada. Se eles assassinassem uma mulher branca por defender o direito do negro ao voto, o que eles fariam com os negros que tentassem se registrar e votar? Certamente não deveria ter sido necessário que mais de nós morresse, sofresse fracassos e surras nas mãos de uniformes selvagens sádicos. O projeto de votação do Alabama havia sido total em seu compromisso com a não-violência, mas as pessoas estavam começando a falar cada vez mais em se armar. As pessoas que seguiam à margem do movimento, que raramente participavam das sessões de treinamento da não-violência, estavam ficando cada vez mais amargas e inquietas. Pois não podíamos permitir que nem mesmo o pensamento ou o espírito de violência se insinuasse em nosso movimento. Quando marchamos de Selma para Montgomery, Alabama lembro-me que tivemos uma das mais magníficas expressões de movimento ecumênico que já vi. Protestantes, católicos e judeus se uniram de uma maneira bonita para articular as injustiças e as indignidades que os negros estavam enfrentando no estado do Alabama e em todo o Sul na questão do direito ao voto viu muitos clérigos virem à frente que eram não a alguns anos atrás. A marcha deu nova relevância ao evangelho. A marcha de Selma ​​trouxe à tona o segundo grande despertar da igreja na América. Por muito tempo de lado e dando aprovação tácita à luta pelos direitos civis, a igreja finalmente marchou como um poderoso am e ficou ao lado dos filhos de Deus em aflição. Ativistas não-violentos vigorosos dentro de nossas fileiras haviam criado uma coalizão da consciência da nação no infame trecho da estrada entre Selma e Montgomery. O despertar da igreja também trouxe uma nova vitalidade ao movimento trabalhista e aos intelectuais de todo o país. Um fato pouco conhecido foi que quarenta dos principais historiadores do país participaram da marcha para Montgomery. Ainda se pode ouvir os passos que caminham e lembrar os olhos brilhantes cheios de determinação e esperança que diziam com eloquência: "Devemos ser livres", um som que ecoou por toda esta nação, um sim, até por todo o mundo. Minha mente ainda se lembra vividamente da ecumenicidade do clero, das forças combinadas do trabalho, das organizações de direitos civis e da comunidade acadêmica que se juntou às nossas fileiras e disse em essência: "Sua causa é moralmente correta, e estamos com você por todo o caminho." Após a marcha para Montgomery, houve um atraso no aeroporto e vários milhares de manifestantes esperaram mais de cinco horas, amontoando-se nos assentos, nos pisos e nas escadas do terminal. Enquanto eu estava com eles e via brancos e negros, freiras e padres, empregadas domésticas e lojistas cheios de vitalidade e desfrutando de uma rara camaradagem, eu sabia que estava vendo um microcosmo da humanidade do futuro naquele momento de fraternidade luminosa e genuína.


Fonte: Standford: The Martin Luther King, Jr. Research and Education Institute. Disponível em: https://kinginstitute.stanford.edu/chapter-26-selma. Acesso em: 24 de jan. 2022. (Ver aqui)

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