domingo, 26 de fevereiro de 2017

O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE




Seção Correio da Revista CAROS AMIGOS N.º 96 de 14 de março de 2003 


UMA GUERRA COLONIAL
por Waldir Rampinelli
Os Estados Unidos estão prestes a cometer um dos maiores massacres da história: a guerra contra o Iraque. Segundo as Nações Unidas, cerca de 10 milhões de iraquianos sofrerão diretamente as agruras desse genocídio, entre mortos, feridos, refugiados e traumatizados. Hitler é lembrado como o grande carniceiro do século 20 por ter exterminado 6 milhões de judeus.
As manifestações populares contra a guerra, nas mais diversas partes do mundo, têm acusado George W. Bush de trocar sangue por petróleo. É uma das verdades, já que em 2022 os Estados Unidos comprarão, no exterior, dois de cada três barris consumidos. Bush declarou que a segurança energética é uma das principais estratégias de sua política externa.
No entanto, o Pentágono tem uma geoestratégia muito mais importante que a dominação do petróleo iraquiano, qual seja o controle de uma região que é o centro do poder mundial: a Euronásia. Hitler e Stálin, nas negociações secretas ocorridas em novembro de 1940, já haviam acordado em excluir os Estados Unidos da Euronásia, pois não queriam encontrar obstáculos em seus planos de conquista.
A potência que dominar a Euronásia, segundo Brzezinski, poderá controlar duas das três regiões mais produtivas do mundo; 75% da população terrestre; 60% do PNB global; três quartos dos recursos energéticos conhecidos; seis das economias mais importantes da Terra; seis países com armas nucleares; dois com uma densidade demográfica enorme e aspirações hegemônicas regionais; enfim, todos aqueles Estados capazes de desafiar a supremacia estadunidense. O poder acumulado dos países da Euronásia chega a superar o do Pentágono algumas vezes. Logo, poderia estar ali um rival de Washington (Zbigniew Brzezinski, El gran Tablero Mundial, Barcelona, Paidós, 1998).
Os Estados Unidos, durante a Guerra Fria, utilizaram-se da Europa para conter e controlar parte da Ásia. O Plano Marshall, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, os acordos militares bilaterais foram algumas das estratégias usadas. No entanto, com o desmoronamento da União Soviética, o antiamericanismo francês se torna política de Estado e o desejo de independência alemã vira ousadia de alguns de seus dirigentes. Por isso, uma Europa em expansão, que se converta em uma cabeça de ponte para a dominação estadunidense da Ásia, mostra, a cada dia que passa, sinais de resistência. A queda dos símbolos de dominação dos Estados Unidos, no 11 de setembro, foi comemorada com júbilo em círculos políticos restritos europeus. Daí a necessidade de uma guerra não apenas contra o Iraque, mas também de submissão européia.
Esse genocídio - política de destruição em massa e sistemática de um povo e de sua nação - trará conseqüências imediatas no conjunto das relações internacionais: a) descrédito iraquiano generalizado dos organismos internacionais multilaterais, de modo especial as Nações Unidas; b) aumento do terrorismo de grupos em proporção direta ao terrorismo estatal; c) crescimento do sentimento antiamericano, que em um segundo momento poderá se transformar em uma consciência antiimperialista; d) possibilidade de potências regionais medianas aumentarem sua hegemonia em contraposição ao poder imperial.
E a população dos Estados Unidos que atitude tem diante desse remapeamento do mundo que dá ao seu presidente um poder sem limites e um domínio sem igual?
O historiador Paul Kennedy mostra que há um distanciamento muito grande entre os políticos e intelectuais conservadores e o estadunidense comum. As amostragens de opinião, realizadas ao longo de 2002, indicam, cada vez mais, um público prudente e internacionalista. Por sua vez, as pesquisas de deliberação, feitas com pessoas que se reúnem durante um fim de semana para debater em pequenos grupos assuntos internos e externos, com assessoria de especialistas e leituras previamente preparadas, apresentam um resultado ainda mais desfavorável aos planos imperialistas e neocoloniais da Casa Branca. Entrevistados antes e depois de sua reunião prolongada, os dados mudam completamente. Se antes apenas 20% dos inquiridos eram favoráveis a que os Estados Unidos prestassem ajuda externa aos países pobres, depois esse número alcança a cifra de 53%; se antes os participantes defendiam uma política estreita, isolacionista e unilateral, depois passaram a votar por soluções internacionalistas. Nas palavras do professor James Fishkin - da Universidade do Texas e criador desse método -, as pessoas começam o final de semana como cidadãos estadunidenses e terminam como cidadãos globais.
Kennedy, com base nesses estudos, chega a três conclusões: a) os Estados Unidos, apesar de se autointitularem a capital do conhecimento universal, dispõem de sistemas educativos, assim como de meios de comunicação, que não passam para o homem e a mulher comum o que acontece no mundo; b) o autoritarismo da Casa Branca enfraquece o direito internacional e abre perigosos precedentes para que outros governos resolvam seus problemas por meio de ações unilaterais; c) a democracia tende a se enfraquecer cada vez mais.
Tudo isso leva o mundo a incertezas quanto a seu futuro, já que se fica à mercê de guerreiros belicosos e fundamentalistas religiosos que nada mais vêem do que o poder e o lucro. As políticas ultra-imperialistas enunciadas na doutrina Bush são uma verdadeira ameaça para toda a humanidade, já que procedem da mesma lógica hitleriana: modificar, por meio da violência militar, as relações econômicas e sociais em favor do herrenvolk (direito de um povo superior a escravizar outro racialmente inferior) do momento.
Razão tem a escritora estadunidense Susan Sontag quando diz que loucos existem nos Estados Unidos e no Brasil. No entanto, com uma grande diferença, "já que os nossos chegaram ao poder".

Waldir José Rampinelli é professor da UFSC, com doutorado em ciências sociais pela PUC/SP.




sábado, 25 de fevereiro de 2017

RUSSIA: UMA REVOLUÇÃO LIBERAL ATINGE SEUS 100 ANOS.











A Revolução de Fevereiro na Rússia



    A Revolução de Fevereiro de 1917 inaugurou a primeira fase da Revolução Russa de 1917. Seu resultado imediato foi a abdicação do czar Nicolau II. Ela ocorreu como resultado da insatisfação popular com a autocracia czarista e com a participação do país na Primeira Guerra Mundial. Ela levou a transferência de poder do czar para um regime republicano e democrático-liberal, surgido da aliança entre liberais e socialistas que pretendiam conduzir reformas políticas.


A Rússia na Primeira Guerra Mundial
    A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial teve efeitos catastróficos para o país. Após alguns sucessos iniciais contra a Áustria-Hungria em 1914, as deficiências russas — particularmente a falta de equipamentos e o uso de armas obsoletas — se tornaram cada vez mais evidentes.
    Em 1915, a situação piorou drasticamente quando a Alemanha tomou a iniciativa contra as forças russas. As forças alemãs, muito melhor armadas com metralhadoras e artilharia pesada, foram terrivelmente eficazes contra as forças mal equipadas da Rússia. Ao final de 1916, a Rússia havia perdido entre 1,6 e 1,8 milhões de soldados em batalha, com um adicional de dois milhões de soldados feitos prisioneiros e um milhão de desaparecidos, o que teve um efeito devastador sobre o moral do exército. Motins começaram a ocorrer, e em 1916 começaram a surgir informações sobre fraternização com o inimigo. Os soldados estavam famintos e careciam de sapatos, munições, e mesmo de armas.
    Confrontado com essa situação, Nicolau decidiu tomar pessoalmente o comando do exército em 1915, deixando a administração pública nas mãos de sua esposa, a czarina Alexandra, e dos ministros de Estado. Notícias sobre corrupção e incompetência no governo imperial, e a influência cada vez mais intensa do místico Grigori Rasputin nos negócios do governo, intensificaram ainda mais a insatisfação popular.
    Então, em Novembro de 1916, a Duma advertiu o czar de que um desastre se abateria sobre o país caso uma forma constitucional de governo não fosse instituída. Mas Nicolau ignorou-os.

O Governo Provisório
    À uma hora da tarde do dia 27 de fevereiro, um mar de soldados e trabalhadores com trapos vermelhos em suas roupas invadiu o Palácio Tauride, onde a Duma se reunia. Kerensky, um jovem advogado socialista, conhecido e respeitado pelo povo, e deputado, os recebeu. Durante a tarde, dois comitês provisórios se formaram em salões diferentes do palácio. Um, formado por deputados moderados da Duma, se tornaria o Governo Provisório Russo. O outro era o primeiro Soviete de Petrogrado, o mesmo que havia se formado na Revolução de 1905. O soviete elegeu um comitê executivo permanente formado por representantes de todos os agrupamentos socialistas. Os bolcheviques tinham dois membros de um total de quatorze. O soviete decidiu publicar seu próprio jornal diário, chamado Izvestia.
    Na manhã do mesmo dia Nicolau recebeu um telégrafo anunciando que apenas um punhado de suas tropas permanecia leal. O estado de sítio foi proclamado, mas inutilmente, pois não havia tropas leais para colocá-lo em prática. Naquela noite, agitadores e políticos, dormiram no Palácio Tauride, temendo uma reação do czar. O grão-duque Miguel Alexandrovich Romanov ordenou que as tropas leais baseadas no Palácio de Inverno fossem retiradas, temendo que um choque delas com a população fizesse repetir os acontecimentos que dispararam a Revolução de 1905.
    Na terça-feira 28 de fevereiro, a cidade era dos amotinados. Embarcado em um trem que rumava em direção ao Palácio de Alexandre, o czar foi obrigado a retroceder 90 milhas, já que a estação seguinte estava em poder dos rebeldes. O trem parou na Estação de Pskov, onde em 2 de março, Nicolau assinou sua abdicação.
    A contagem oficial de mortos foi de 1224, o equivalente a poucas horas de combate na guerra que ainda rugia. Assim, considera-se que a Revolução de Fevereiro foi um acontecimento praticamente pacífico. Entretanto, Petrogrado tinha agora dois governos paralelos: o Governo Provisório Russo, dominado pela classe média e favorável à continuação da guerra, e o Soviete de Deputados dos Trabalhadores e Soldados, que queria instituir a jornada de 8 horas de trabalho, terra para os camponeses, um exército com disciplina voluntária e oficiais eleitos democraticamente, o fim da guerra, e separação da Igreja do Estado.



    A Revolução Branca foi a primeira fase da revolução que ocorreu de março a novembro de 1917.
    O czar, receoso da saúde do herdeiro do trono, o hemofílico czarevith Alexei Romanov, resolveu abdicar em favor do seu irmão, o grão-duque Miguel Alexandrovich Romanov, mas este recusou a coroa. Em face desta situação, a Duma proclamou a república, pondo-se fim à monarquia imperial e à dinastia Romanov. O governo provisório elegeu o príncipe Georgy Lvov, que era latifundiário, para primeiro-ministro, tendo Aleksandr Kerenski como ministro da guerra e colocou o antigo czar e a família imperial sob sua custódia, em prisão domiciliária. Já em 1 de março, o Soviete de Petrogrado contestava o poder desse governo, ao aprovar a "Ordem n° 10". Nesta, o soviete ordenava ao exército que lhe obedecesse, em vez de obedecer ao Governo Provisório Russo.
    Durante todos esses acontecimentos, Lênin estava exilado em Zurique, na Suíça. As notícias da queda do czarismo, a princípio, o deixaram muito animado. Entretanto, Lênin acreditava que o potencial Revolucionário ainda não havia se esgotado. Ele acreditava que "O povo quer paz. O povo quer pão e terra. E eles lhes dão guerra, fome, e a terra continua nas mãos dos latifundiários Assim, Lênin regressa à Rússia (abril de 1917), pregando a formação de uma república dos sovietes, bem como a nacionalização dos bancos e da propriedade privada. O seu principal lema era: "Todo o poder aos sovietes". Durante esse período, as ordens do governo eram discutidas nos sovietes e nem sempre cumpridas. Trotsky chegaria em maio, vindo de Nova Iorque, onde vivia após escapar de um exílio perpétuo na Sibéria.
    Kerensky, ministro da guerra, tornou-se, após a renúncia de Lvov, primeiro-ministro, em 21 de julho, mantendo a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, no que era extremamente criticado pelos socialistas. Entretanto, o processo de desintegração do estado russo continuava. A comida era escassa, a inflação bateu a casa dos 1.000 %, as tropas desertavam do front matando seus oficiais, propriedades da nobreza latifundiária eram saqueadas e queimadas, e operários trabalhavam bêbados de álcool de cozinha, verniz ou qualquer outro substituto para a bebida. Assim como o governo do czar, o novo governo provisório não procurou solucionar os problemas que causavam a desgraça do povo e o levavam a se insurgir. Não havia como fazê-lo imediatamente respeitando os limites aos quais se obrigou a respeitar, isto é, a liberdade individual, direito à propriedade, o país na guerra e com a mesma constituição social. "O poder estava suspenso no ar", esperando que alguém com uma plataforma ainda mais radical o tomasse. Eram enormes as perdas humanas sofridas pela Rússia na guerra, que os socialistas usaram como propaganda favorável a sua plataforma, por dizerem só interessar às potências capitalistas.

    O caminho para a Revolução de Outubro estava aberto, só que desta vez seria uma Revolução Socialista – a primeira no Mundo!




O PAÍS MAIS JOVEM DO MUNDO - GUERRA E FOME! FRUTO AINDA DAS CONSEQUÊNCIAS DO IMPERIALISMO?

O imperialismo do século XIX que levou os países da Europa dividirem em 1884/1885 (Conferência de Berlim) a África tem consequências até os dias atuais!


Sudão do Sul: como o país mais novo do mundo mergulhou num caos de guerra e fome.
Independente desde 2011, com uma guerra civil iniciada em 2013, o país de 12,5 milhões de habitantes tem uma das piores situações humanitárias do mundo.

Situação humanitária desastrosa

Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do país em busca de proteção desde que começou o conflito armado.
O Sudão do Sul se transformou "na maior crise de refugiados da África" e "na terceira do mundo" após as de Síria e Afeganistão, segundo a Acnur, que lembrou que, adicionalmente, 2,1 milhões de pessoas estão deslocadas dentro do país.
O Unicef, por sua vez, calcula que 270 mil crianças sul-sudanesas estão gravemente desnutridas.



Atrocidades


Um informe confidencial da ONU vazado este mês dá conta de que a guerra alcançou "proporções catastróficas para os civis" e que as milícias podem se tornar incontroláveis e alimentar os combates por vários anos.
O secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, escreve nesse informe que os civis fogem das cidades e aldeias "em um número recorde" e que o risco de que se cometam atrocidades em massa "é real".
"Nossas visitas ao Sudão do Sul sugerem que está sendo levado a cabo no país um processo de limpeza étnica em várias regiões por meio do uso da fome, dos estupros coletivos e de incêndios", disse, no fim do ano passado, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da ONU para o país, Yasmin Sooka.
Atrocidades como o assassinato de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na região.
Em maio de 2015, a Unicef denunciou o assassinato de 26 de crianças - algumas de apenas 7 anos - e o sequestro de dezenas de outras em ataques realizados por grupos armados, formados homens e meninos armados, vestidos de militares ou civis, no estado de Unidade.
A ONU ainda acusou militares do exército sul-sudanês de estuprar e queimar vivas mulheres e meninas que estavam em suas casas no mesmo estado, segundo depoimentos de vítimas e testemunhas.



Independência recente


O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.
As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçulmana, e que tentava impor a lei islâmica na região.
O governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão tranquila.

 

Confronto de facções


Mas a aparente tranquilidade não durou. A guerra interna no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, com combates entre duas facções do exército, dividido pela rivalidade entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Machar. Diferentes milícias se uniram a cada um dos lados, com confrontos marcados por massacres de caráter étnico.
O confronto teve início quando Kiir destituiu Machar, acusando-o de tramar um golpe de Estado. Os dois políticos pertenciam ao mesmo partido -- o Exército de Libertação do Povo Sudanês.
"Algumas horas mais tarde, os militares se dividiram e começamos a escutar tiros em Juba (a capital)", contou à BBC Mundo o brasileiro Raimundo Rocha dos Santos, um padre brasileiro que trabalha como missionário Naquele país.
A disputa política somou-se à tensão étnica. O grupo dos dinka, ao qual pertence Salva Kiir, e que representa cerca de 15% da população do país, se opôs ao grupo dos nuer, do qual faz parte Machar e que equivale a cerca de 10% dos habitantes.



Economia em frangalhos


O fator econômico também é importante para entender o caos no país africano. Há uma inflação anual de 800%. Há um ano, US$ 1 valia cerca de 3 libras sudanesas. Atualmente, a proporção é de 1 para cerca de 120.
A economia no país piorou muito desde 2012, quando o governo decidiu fechar a produção de petróleo -- até então a commodity correspondia a 98% da receita pública do país -- após discordâncias com o Sudão, que tinha toda a infraestrutura para a sua comercialização, como oleodutos, refinarias e portos do Mar Vermelho. A maior parte do país vive em uma economia de subsistência.
Em 2015, as facções fizeram um acordo de paz que previa a volta de Machar ao governo, como vice de Kiir. Três meses depois, contudo, Machar foi novamente expulso do governo e o conflito foi retomado, em julho de 2016.



Fonte:



CANADÁ: UMA RICA HISTÓRIA DE CONVIVÊNCIA DOS DIFERENTES. A UNIDADE NA DIVERSIDADE.


A HISTÓRIA DO CANADÁ

        Acredita-se que os aborígenes tenham chegado da Ásia há 30 mil anos por uma faixa de terra entre a Sibéria e o Alasca pelo estreito de Bering. Alguns ficaram no Canadá, enquanto outros continuaram sua marcha em direção ao sul. Quando os exploradores europeus chegaram, o Canadá era povoado por uma série de povos aborígenes que, dependendo do meio ambiente, viviam de maneira nômade ou se assentavam e construíam um estilo de vida e se dedicavam à caça, pesca ou ao cultivo da terra.

         O primeiro contato entre os nativos e europeus provavelmente ocorreu há cerca de 1.000 anos, quando os Vikings da Islândia fixaram-se por pouco tempo na Ilha de Terra Nova. Mas só depois de outros 600 anos a exploração europeia efetivamente se iniciou.

As primeiras colônias

        Na procura de um novo caminho para os ricos mercados do oriente, os exploradores franceses e ingleses navegavam pelas águas da América do Norte. Construíram vários postos - os franceses ficavam, na sua maioria, às margens do Rio São Lourenço, Grandes Lagos e Rio Mississipi. Os ingleses, por sua vez, ficavam em torno da Baía de Hudson e na costa atlântica. Embora exploradores como Cabot, Cartier e Champlain jamais tenham encontrado o caminho para a China e para a Índia, encontraram algo tão valioso quanto o que procuravam: ricas águas piscosas e abundantes populações de castores, raposas e ursos, todos valiosos por sua pele.

         A colonização permanente dos franceses e ingleses começou no limiar dos anos 1600 e cresceu durante todo o século. Junto com os povoados veio a atividade econômica, mas as colônias de Nova França e Nova Inglaterra permaneciam economicamente dependentes do comércio de peles e política e militarmente dependentes de suas metrópoles.

         Inevitavelmente, a América do Norte tornou-se o foco de amargas rivalidades entre a Inglaterra e a França. Após a queda da Cidade de Quebec, em 1759, o Tratado de Paris concedeu à Inglaterra todo o território francês a leste do Mississípi, com exceção das ilhas de Saint Pierre e Miquelon, próximas à Ilha de Terra Nova. Sob o governo inglês, os 65 mil habitantes de língua francesa do Canadá tinham um único objetivo: guardar suas tradições, língua e cultura. Em 1774, a Grã-Bretanha aprovou o Ato de Quebec, que reconhecia oficialmente os direitos civis franceses e garantia liberdade religiosa e linguística.


         Um grande número de colonos de língua inglesa, chamados Legalistas porque queriam se manter fiéis à Coroa Britânica, procurou refúgio no Canadá, depois que os Estados Unidos da América tornaram-se independentes, em 1776. Estabeleceram-se principalmente nas colônias de Nova Escócia e Novo Brunswick e às margens dos Grandes Lagos.

         O aumento da população levou à criação, em 1791, do Alto e Baixo Canadá, hoje Ontário e Quebec, respectivamente. Ambos foram autorizados a ter suas próprias instituições governamentais representativas. As rebeliões no Alto e Baixo Canadá, em 1837 e 1838, levaram os ingleses a reunir as duas colônias, formando assim o Província do Canadá. Em 1848, a colônia unida foi autorizada a ter um governo autônomo, exceto no que se referia às questões de relações exteriores. O Canadá ganhava maior autonomia, mas continuava sendo parte do Império Britânico.

Nasce um país

         As colônias britânicas norte-americanas, Canadá, Nova Escócia, Novo Brunswick, Ilha do Príncipe Eduardo e Terra Nova, cresceram e prosperaram independentemente. Mas, com a ascensão dos Estados Unidos, agora mais poderosos com o fim da Guerra Civil, alguns políticos acharam que a união das colônias inglesas era o único modo de afastar eventuais possibilidade de anexação. Em 1º de julho de 1867, o Canadá Leste e o Canadá Oeste, a Nova Escócia e a Novo Brunswick uniram-se sob os termos do Ato da América do Norte Britânica e tornaram-se o Domínio do Canadá. 


       O governo do novo país baseava-se no sistema parlamentarista britânico, com um governador geral (representante da Coroa) e um Parlamento que consistia da Câmara dos Comuns e do Senado. O Parlamento recebia o poder de legislar sobre assuntos de interesse nacional (impostos e defesa nacional, por exemplo), enquanto que às províncias eram outorgados poderes sobre assuntos de interesse local (propriedade, direitos civis, educação).

A expansão para o oeste

         Logo após a Confederação, o Canadá começou a se expandir para o noroeste. A Terra de Rupert, uma área que se estendia pelo sul e oeste, por centenas de quilômetros a partir da Baía de Hudson, foi comprada pelo Canadá da Companhia da Baía de Hudson, que havia ganhado o vasto território do Rei Carlos da Inglaterra, em 1670.

         A expansão para o oeste não se deu sem dificuldades. Em 1869, Louis Riel liderou uma insurreição dos Métis na tentativa de defender seus direitos ancestrais pela terra. Chegou-se a um consenso em 1870 e uma nova província, Manitoba, foi delineada a partir da Terra de Rupert.

         A Colúmbia Britânica, colônia da Coroa desde 1858, decidiu juntar-se ao Domínio em 1871, com a promessa de uma ferrovia que a ligasse com o resto do país. Em 1873, foi a vez da Ilha do Príncipe Eduardo. Em 1898, o território de Yukon, ao norte, foi oficialmente estabelecido a fim de assegurar a jurisdição canadense sobre a área durante a corrida do ouro de Klondike. Em 1905, duas novas províncias se formaram a partir da Terra de Rupert: Alberta e Saskatchewan. O que sobrou tornaram-se os Territórios do Noroeste. Terra Nova preferiu continuar como colônia inglesa até 1949, quando se tornou a décima província do Canadá. 


        A criação de novas províncias coincidiu com um aumento na imigração do Canadá, em especial para o oeste e atingiu o seu pico em 1913, com 400 mil pessoas teriam vindo para o Canadá. Durante o período pré-guerra, o Canadá lucrou com a próspera economia mundial e se estabeleceu como uma potência industrial e agrícola.

A maturidade de uma nação

         A contribuição substancial do Canadá durante a Primeira Guerra Mundial fez com que recebesse uma representação distinta da Grã-Bretanha na Liga das Nações, após a guerra. A sua voz independente tornou-se cada vez mais articulada e, em 1931, a autonomia constitucional do Canadá foi confirmada com a aprovação do Estatuto de Westminster.

         No Canadá, como em qualquer outro lugar, as consequências da Grande Depressão de 1929 trouxeram tempos difíceis. Um em cada quatro trabalhadores estava desempregado e as províncias de Alberta, Saskatchewan e Manitoba estavam arrasadas pela seca. Ironicamente, foi a necessidade de servir às Forças Aliadas, durante a Segunda Guerra, que fez o Canadá sair da Depressão. O país emergiu da guerra como a quarta maior potência industrial.

         Desde a Segunda Guerra, a economia do Canadá tem se expandido. Este crescimento, combinado a programas sociais do governo, tais como ajuda de custo às famílias, aposentadoria, assistência e seguro- desemprego, tem dado aos canadenses um alto padrão de vida e uma qualidade de vida invejável.


         Mudanças visíveis têm ocorrido nas correntes de imigração do país. Antes da Segunda Guerra, a maioria dos imigrantes vinha das Ilhas Britânicas ou do leste europeu. Desde 1945, um número crescente de pessoas do sul da Europa, da Ásia, da América do Sul e também das ilhas do Caribe tem enriquecido o mosaico multicultural do Canadá.

         No cenário internacional, a reputação e a influência do Canadá acompanharam o seu desenvolvimento e maturidade. O Canadá tem participado das Nações Unidas desde a sua criação e é a única nação a participar das mais importantes operações da ONU em prol da paz mundial. É também membro da Comunidade Britânica, da la Francophonie, do Grupo dos Sete países industrializados, da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD).

Uma nova federação a caminho 

        O último quarto de século assiste ao país se debatendo novamente com questões sobre a sua identidade nacional. O descontentamento entre muitos quebequenses de língua francesa levou a província, em 1980, a um plebiscito. A questão era se Quebec deveria ou não tornar-se mais politicamente autônoma em relação ao Canadá. A maioria decidiu manter a atual situação da província.

         Em 1982, o processo sobre a reforma constitucional culminou na aprovação do Ato Constitucional. Segundo o Ato, o Ato da América do Norte Britânica, de 1867, e suas várias emendas tornaram-se os Atos Constitucionais 1867-1975. A Constituição, a sua Carta de Direitos e Liberdades e a sua fórmula geral de emendas estão redefinindo as funções e poderes dos governos federal e das províncias e estabelecem os direitos individuais e os dos grupos étnicos. 

        Dois grandes esforços foram feitos no sentido de se reformar o sistema constitucional: o Acordo do Lago Meech, de 1987, que não foi implementado por não obter anuência legislativa de todas as províncias e o Acordo de Charlottetown, de 1991. Este teria reformado o Senado e feito grandes mudanças na Constituição. Foi decisivamente rejeitado pelos canadenses em um plebiscito nacional em 26 de outubro de 1992.

         Por ter sido colonizado por dois povos rivais, enriquecido por várias culturas, línguas e religiões e marcado por uma geografia altamente diversificada, o Canadá não poderia deixar de ser uma terra de concessões. "Unidade na diversidade" poderia ser o seu lema. O espírito de modernização e tolerância caracterizam a federação canadense e asseguram a sua sobrevivência.

Fonte:

http://www.canadainternational.gc.ca/brazil-bresil/about_a-propos/history-histoire.aspx?lang=por   acessado em 24/02/2017



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O Nome da Rosa de Umberto Eco: Análise da Obra O Nome da Rosa  é um livro de 1980 escrito pelo italiano Umberto Eco. Em 1986 foi lançado o...

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