A Revolução
de Fevereiro de 1917 inaugurou a primeira
fase da Revolução
Russa de 1917. Seu resultado imediato foi a abdicação do czar Nicolau
II. Ela ocorreu como resultado da insatisfação
popular com a autocracia czarista e com a participação do país na Primeira Guerra Mundial. Ela levou a transferência de poder do czar para um
regime republicano e democrático-liberal, surgido da aliança entre liberais e socialistas que pretendiam conduzir reformas políticas.
A Rússia na Primeira Guerra Mundial
A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial teve efeitos catastróficos para o
país. Após alguns sucessos iniciais contra a Áustria-Hungria em 1914, as deficiências russas —
particularmente a falta de equipamentos e o uso de armas obsoletas — se
tornaram cada vez mais evidentes.
Em 1915, a situação piorou drasticamente quando a Alemanha tomou a iniciativa contra as forças
russas. As forças alemãs, muito melhor armadas com metralhadoras e artilharia
pesada, foram terrivelmente eficazes contra as forças mal equipadas da Rússia.
Ao final de 1916, a Rússia havia perdido entre 1,6 e 1,8 milhões de soldados em
batalha, com um adicional de dois milhões de soldados feitos prisioneiros e um
milhão de desaparecidos, o que teve um efeito devastador sobre o moral do
exército. Motins começaram a ocorrer, e em 1916 começaram a surgir informações
sobre fraternização com o inimigo. Os soldados estavam famintos e careciam de
sapatos, munições, e mesmo de armas.
Confrontado com essa situação, Nicolau decidiu tomar
pessoalmente o comando do exército em 1915, deixando a administração pública
nas mãos de sua esposa, a czarina Alexandra, e dos ministros de Estado.
Notícias sobre corrupção e incompetência no governo imperial, e a influência
cada vez mais intensa do místico Grigori Rasputin nos negócios do governo,
intensificaram ainda mais a insatisfação popular.
Então, em Novembro de 1916, a Duma advertiu o czar de que um desastre se
abateria sobre o país caso uma forma constitucional de governo não fosse
instituída. Mas Nicolau ignorou-os.
O Governo Provisório
À uma hora da tarde do dia 27
de fevereiro, um mar de soldados e trabalhadores com trapos vermelhos em suas
roupas invadiu o Palácio Tauride,
onde a Duma se reunia. Kerensky, um
jovem advogado socialista, conhecido e respeitado pelo povo, e deputado, os
recebeu. Durante a tarde, dois comitês provisórios se formaram em salões
diferentes do palácio. Um, formado por deputados moderados da Duma, se tornaria
o Governo Provisório Russo. O
outro era o primeiro Soviete de
Petrogrado, o mesmo que havia se formado na Revolução
de 1905. O soviete elegeu um comitê executivo permanente
formado por representantes de todos os agrupamentos socialistas. Os bolcheviques tinham dois membros de um total de
quatorze. O soviete decidiu publicar seu próprio jornal diário, chamado Izvestia.
Na manhã do mesmo dia Nicolau recebeu um telégrafo anunciando
que apenas um punhado de suas tropas permanecia leal. O estado de sítio foi proclamado, mas inutilmente, pois
não havia tropas leais para colocá-lo em prática. Naquela noite, agitadores e
políticos, dormiram no Palácio
Tauride, temendo uma reação do czar. O grão-duque Miguel Alexandrovich Romanov ordenou que as tropas leais baseadas
no Palácio de Inverno fossem retiradas, temendo que um
choque delas com a população fizesse repetir os acontecimentos que dispararam a
Revolução de 1905.
Na terça-feira 28 de fevereiro, a cidade era dos amotinados.
Embarcado em um trem que rumava em direção ao Palácio
de Alexandre, o czar foi obrigado a retroceder 90 milhas, já que a estação
seguinte estava em poder dos rebeldes. O trem parou na Estação de Pskov, onde
em 2 de março, Nicolau assinou sua abdicação.
A contagem oficial de mortos foi de 1224, o equivalente a poucas
horas de combate na guerra que ainda rugia. Assim, considera-se que a Revolução
de Fevereiro foi um acontecimento praticamente pacífico. Entretanto, Petrogrado
tinha agora dois governos paralelos: o Governo Provisório Russo, dominado pela
classe média e favorável à continuação da guerra, e o Soviete de Deputados dos
Trabalhadores e Soldados, que queria instituir a jornada de 8 horas de trabalho, terra para os camponeses,
um exército com disciplina voluntária e oficiais eleitos democraticamente, o
fim da guerra, e separação da Igreja do Estado.
A Revolução Branca foi a
primeira fase da revolução que ocorreu de março a novembro de 1917.
O czar, receoso da saúde do herdeiro do trono, o hemofílico
czarevith Alexei Romanov, resolveu
abdicar em favor do seu irmão, o grão-duque Miguel
Alexandrovich Romanov, mas este recusou a coroa. Em face desta situação, a Duma proclamou
a república, pondo-se fim à
monarquia imperial e à dinastia
Romanov. O governo provisório elegeu o príncipe Georgy Lvov, que era latifundiário,
para primeiro-ministro, tendo Aleksandr Kerenski como ministro da guerra e colocou o antigo
czar e a família imperial sob sua custódia, em prisão domiciliária. Já em 1 de março, o Soviete de Petrogrado contestava o poder desse governo, ao
aprovar a "Ordem n° 10". Nesta, o soviete ordenava ao exército que
lhe obedecesse, em vez de obedecer ao Governo
Provisório Russo.
Durante todos esses acontecimentos, Lênin estava exilado em Zurique, na Suíça. As notícias da queda do
czarismo, a princípio, o deixaram muito animado. Entretanto, Lênin acreditava
que o potencial Revolucionário ainda não havia se esgotado. Ele acreditava que
"O povo quer paz. O povo quer pão e terra. E eles lhes dão guerra, fome, e
a terra continua nas mãos dos latifundiários Assim, Lênin regressa à Rússia (abril de 1917), pregando a formação
de uma república dos sovietes, bem como a nacionalização dos bancos e da
propriedade privada. O seu principal lema era: "Todo o poder aos
sovietes". Durante esse período, as ordens do governo eram discutidas nos
sovietes e nem sempre cumpridas. Trotsky chegaria em maio, vindo de Nova Iorque, onde vivia após escapar
de um exílio perpétuo na Sibéria.
Kerensky, ministro da guerra, tornou-se, após a renúncia de
Lvov, primeiro-ministro, em 21 de julho, mantendo a participação da Rússia na
Primeira Guerra Mundial, no que era extremamente criticado pelos socialistas.
Entretanto, o processo de desintegração do estado russo continuava. A comida
era escassa, a inflação bateu a casa dos 1.000 %, as tropas desertavam do
front matando seus oficiais, propriedades da nobreza latifundiária eram
saqueadas e queimadas, e operários trabalhavam bêbados de álcool de cozinha,
verniz ou qualquer outro substituto para a bebida. Assim como o governo do
czar, o novo governo provisório não procurou solucionar os problemas que
causavam a desgraça do povo e o levavam a se insurgir. Não havia como fazê-lo
imediatamente respeitando os limites aos quais se obrigou a respeitar, isto é,
a liberdade individual, direito à propriedade, o país na guerra e com a mesma
constituição social. "O
poder estava suspenso no ar", esperando que alguém com uma plataforma
ainda mais radical o tomasse. Eram enormes as perdas humanas sofridas pela
Rússia na guerra, que os socialistas usaram como propaganda favorável a sua
plataforma, por dizerem só interessar às potências capitalistas.
O caminho para a Revolução de
Outubro estava aberto, só que desta vez seria uma Revolução Socialista – a primeira
no Mundo!
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