O imperialismo do século XIX que levou os países da Europa dividirem em 1884/1885 (Conferência de Berlim) a África tem consequências até os dias atuais!
Sudão do Sul: como o país mais novo do mundo mergulhou num caos de
guerra e fome.
Independente desde 2011, com uma
guerra civil iniciada em 2013, o país de 12,5 milhões de habitantes tem uma das
piores situações humanitárias do mundo.
Situação humanitária desastrosa
Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur),
mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do país em busca de proteção desde que
começou o conflito armado.
O Sudão do Sul
se transformou "na maior crise de refugiados da África" e "na
terceira do mundo" após as de Síria e Afeganistão, segundo a Acnur, que
lembrou que, adicionalmente, 2,1 milhões de pessoas estão deslocadas dentro do
país.
O Unicef, por
sua vez, calcula que 270 mil crianças sul-sudanesas estão gravemente desnutridas.
Atrocidades
Um informe confidencial da ONU
vazado este mês dá conta de que a guerra alcançou "proporções
catastróficas para os civis" e que as milícias podem se tornar
incontroláveis e alimentar os combates por vários anos.
O
secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, escreve nesse informe que os civis
fogem das cidades e aldeias "em um número recorde" e que o risco de
que se cometam atrocidades em massa "é real".
"Nossas
visitas ao Sudão do Sul sugerem que está sendo levado a cabo no país um processo
de limpeza étnica em várias regiões por meio do uso da fome, dos estupros
coletivos e de incêndios", disse, no fim do ano passado, a presidente da
Comissão de Direitos Humanos da ONU para o país, Yasmin Sooka.
Atrocidades como o assassinato de
crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na
região.
Em maio de
2015, a Unicef denunciou o assassinato de 26 de crianças - algumas de apenas 7
anos - e o sequestro de dezenas de outras em ataques realizados por grupos
armados, formados homens e meninos armados, vestidos de militares ou civis, no
estado de Unidade.
A ONU ainda
acusou militares do exército sul-sudanês de estuprar e queimar vivas mulheres e
meninas que estavam em suas casas no mesmo estado, segundo depoimentos de vítimas
e testemunhas.
Independência recente
O Sudão do Sul conquistou sua
independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo
realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a
favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou
décadas de guerra civil.
As diferenças
étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de
conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada
por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia
discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria
muçulmana, e que tentava impor a lei islâmica na região.
O governo de
Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão
tranquila.
Confronto de facções
Mas a aparente tranquilidade não
durou. A guerra interna no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, com
combates entre duas facções do exército, dividido pela rivalidade entre o
presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Machar. Diferentes milícias se uniram
a cada um dos lados, com confrontos marcados por massacres de caráter étnico.
O confronto
teve início quando Kiir destituiu Machar, acusando-o de tramar um golpe de
Estado. Os dois políticos pertenciam ao mesmo partido -- o Exército de
Libertação do Povo Sudanês.
"Algumas
horas mais tarde, os militares se dividiram e começamos a escutar tiros em Juba
(a capital)", contou à BBC Mundo o brasileiro Raimundo Rocha dos Santos,
um padre brasileiro que trabalha como missionário Naquele país.
A disputa
política somou-se à tensão étnica. O grupo dos dinka, ao qual pertence Salva
Kiir, e que representa cerca de 15% da população do país, se opôs ao grupo dos
nuer, do qual faz parte Machar e que equivale a cerca de 10% dos habitantes.
Economia em frangalhos
O fator econômico também é
importante para entender o caos no país africano. Há uma inflação anual de
800%. Há um ano, US$ 1 valia cerca de 3 libras sudanesas. Atualmente, a
proporção é de 1 para cerca de 120.
A economia no
país piorou muito desde 2012, quando o governo decidiu fechar a produção de
petróleo -- até então a commodity correspondia a 98% da receita pública do país
-- após discordâncias com o Sudão, que tinha toda a infraestrutura para a sua
comercialização, como oleodutos, refinarias e portos do Mar Vermelho. A maior
parte do país vive em uma economia de subsistência.
Em 2015, as
facções fizeram um acordo de paz que previa a volta de Machar ao governo, como
vice de Kiir. Três meses depois, contudo, Machar foi novamente expulso do
governo e o conflito foi retomado, em julho de 2016.
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