segunda-feira, 29 de maio de 2017

O BRASIL FOI O ÚLTIMO BASTIÃO DE ESCRAVIZAÇÃO DO NEGRO NA AMÉRICA, VEJA COMO COMEÇOU ESSA HISTÓRIA:



A FORÇA DE TRABALHO ESCRAVIZADA INTRODUZIDA NO BRASIL PELOS EUROPEUS

            O comércio de escravos africanos iniciou-se em 1441, com os negros capturados pelo português Antão Gonçalves na região do Senegal. A princípio se restringia a Portugal, onde os cativos eram basicamente utilizados em serviços domésticos. Logo, porém, deslocou-se para as ilhas do Atlântico, atendendo às exigências da nascente lavoura açucareira, implantada pelo infante D. Henrique.
            O Brasil teria recebido os primeiros africanos por volta de 1538. Pouco depois, contudo, o trafico seria interrompido – apesar das inúmeras cartas dos colonos solicitando “negros da Guiné” para os canaviais.

A ESCRAVIZAÇÃO DO ÍNDIO


  
               O trabalho pesado nas plantações não constava do programa de vida dos colonos, que vinham para o Brasil mais na condição de empresários que de lavradores. A força de trabalho escrava era, para eles, a solução ideal porque, sendo relativamente barata e abundante, permitia multiplicar os lucros advindos da comercialização dos produtos tropicais.
            No início da colonização, recorreu-se à escravização do indígena, antes empregado como trabalhador livre na extração do pau-brasil. Essa alternativa mostrou-se tão vantajosa que, ainda no século XVI, uma das principais atividades econômicas de São Vicente era a captura do índio, vendido a seguir à grande lavoura. Durante toda primeira metade do século XVII as reservas de força de trabalho indígena organizadas nas reduções jesuíticas da bacia do rio Paraná foram sistematicamente pilhadas pelos bandeirantes paulistas.  O índio era então o “negro da terra”, em cuja defesa se levantaram não só os jesuítas, mas também a própria Igreja e muitos dos espíritos esclarecidos da Europa.
            Diante de tão vigorosos protestos, a Coroa portuguesa vacilou, assumindo sucessivamente posições contrárias, até que fixou na justificativa da “guerra justa”. Tratava-se do combate ao indígena em legítima defesa do colono – resultando em grande número de prisioneiros que acabavam “justamente” escravizados. A medida – que na verdade não passava de uma tentativa de legitimar a escravização do índio – desencadeou uma nova série de protestos, questionando-se, no mínimo, a “justiça” dessa guerra.

A FORÇA DE TRABALHO AFRICANA


            Se, apesar de suas limitações, a escravização do índio fazia fortuna de muitos colonos, não chegava, porém a constituir uma empresa tão lucrativa, para a Metrópole, quanto o tráfico negreiro.
            Assim, paralelamente à “caça do índio”, organizou-se uma corrente de fornecimento de africanos para as zonas canavieiras. Os preços eram altos, mas a rentabilidade da agroindústria açucareira e a complementaridade entre o tráfico negreiro e as plantações compensavam o investimento – realizado antes que o escravo passasse a produzir. Indispensável à grande lavoura de exportação, a mão de obra negra rapidamente se difundiu por toda a Colônia, concentrando-se nas regiões de maior dinamismo econômico (o Nordeste açucareiro e, depois, a zona da mineração). No fim do período colonial, 1/3 da população brasileira consistia em cativos africanos ou de origem africana.

A AFRICA ESCRAVIZADA


            Os negros escravizados no Brasil e nas colônias espanholas vinham de um continente onde floresceram civilizações brilhantes, como o Império de Ghana, que atingiu o apogeu ainda no século VII – pelo menos trezentos anos antes de Afonso Henriques fundar a monarquia portuguesa.
            Havia uma grande diferença entre o escravismo existente nesses reinos africanos em relação a escravização imposta pelos europeus, esta detonou um processo de desarticulação dos Estados da África negra.


EM 1888, O BRASIL FOI O ÚLTIMO PAÍS DA AMÉRICA À ABOLIR A ESCRAVIDÃO 

FRASES CURTAS, PORÉM GENIAIS DO COMPANHEIRO GEORGE HERBERT...ALGUMAS JÁ OUVIMOS, MAS NÃO SABÍAMOS QUEM ERA O AUTOR

 George Herbert

Nasceu em Montegomery no País de Gales em 3 de abril de 1593, foi um poeta, orador e sacerdote Anglo-galês.
Era membro de uma família aristocrática, estudou em Westminster School e no Trinity College em Cambridge. Em 1618 foi considerado Fellow(companheiro ou irmão) da Universidade de Cambridge, instituição onde foi orador entre 1620 e 1628.
Toda a sua obra foi publicada a título póstumo, da qual se destacam: The Temple: Sacred Poems and Private Ejaculations (1633), Herbert compilou o livro Outlandish Proverbs (1640), A Priest to the Temple (ou The Country Parson) (1652).
Faleceu em Wiltshire em 1.º de Março de 1633.


Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores do que o teu silêncio, e lembre-se que alto deve ser o valor de suas idéias, não o volume de sua voz. Falar sem pensar é disparar sem apontar.

Amor e tosse, impossível ocultá-los.

Quem sabe o que se pode ganhar num dia jamais furta.

A gula mata mais do que a espada.

Quem se livra das dívidas enriquece.

Um pai vale mais do que uma centena de mestres-escola.

Quem ganha jogou sempre bem.

Há males que só se curam com desprezo.

Aquele que não sabe nada, não duvida de nada.

Quem nada sabe de nada dúvida.

Aquele que não perdoa destrói a ponte sobre a qual ele mesmo deve passar.

Ousa dizer a verdade: nunca vale a pena mentir. Um erro que precise de uma mentira acaba por precisar de duas.

Não se associe aos maus, pois eles podem crescer em número.

Por falta de um prego, perdeu-se uma ferradura. Por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo. Por falta de um cavalo, perdeu-se um cavaleiro. Por falta de um cavaleiro, perdeu-se uma batalha. E assim, um reino foi perdido. Tudo por falta de um prego.

Boas palavras valem muito e custam pouco.

domingo, 28 de maio de 2017

51 ANOS BEM VIVIDOS. AGRADEÇO A TODOS E TODAS QUE LEMBRARAM DESTE HUMILDE SER HUMANO!

Ontem, dia 27 de maio, completei 51 anos. Acredito que já devo ter passado pela metade da minha vida, embora, meu avô Toninho Moreau tenha vivido até os 101. Se for para manter minhas faculdades mentais (principalmente para a leitura e escrita) espero ultrapassá-lo. Às vezes não!

Agradecendo os que lembraram da data (e o Facebook nos ajuda muito) fiz uma pequena fotobiografia, espero que sirva de homenagem para vocês:

Maffei Ano Zero:



Mamys and Papas
Dona Maria Jonadyr (dona do óvulo) e Seo Otávio (dono do CARA!)
E seo Otávio casa-se com dona Maria Jonadyr...


Alice Mantovani (avó materna) e seo Toninho Moreau (Avò Materno)
Essa é uma parte da família do meu pai Otávio, começando pelo seu padrasto Sr. Mario Nicolau, minha Tia Kike (horror dos bebês Jonhsons, pois ela adorava morder criancinhas fofinhas), minhas primas Gilsa e Sônia,  minha grande (grande mesmo, em todos os sentidos) avó Hermelinda Michetti, aos seu lado minha querida tia Cassilda e de cócoras Valter Maffeis das Neves, meu primo Ico)

Maffei Bebê:
Por uma questão técnica (eu tinha um problema no intestino, provavelmente intolerância a lactose, que não foi diagnosticada) minha mãe não levou fazer aquelas famosas fotos de bebê, mas como minha mãe dizia que eu parecia com o modelo do Bebe Johnson da década de 60, eu deveria ser meio assim:



Inclusive, eu usei em abundância toda a linha da Johnson, principalmente o talco para assaduras.

(*)Uma curiosidade, engraçado uma coisa tão simples hoje, como a lactose, ser um problema quase indecifrável para a medicina da época (pelo menos, no Brasil e particularmente em Porto Feliz).

Tá bom! Tá bom! Como historiador eu tenho que comprovar com documentos que eu era parecido com o bebê Johnson, só lembre-se, naquela época fotos coloridas eram uma raridade, logo não poderão ver meus lindos olhos azuis de bebê Jonhson:


Pois cá está a prova, meu irmão Clóvis é o "carçudinho" da esquerda, seguido pelo meu pai Otávio e minha mãe Maria Jonadyr em seus colos o bebê Jonhson, que por questões técnicas da época (fotos p&b e contra o sol, devido a isso fiquei com a carra um pouco marruda. Mas que eu era fofinho eu era!)

Maffei criança:

De agora em diante, deixo de ser um bebê Jonhson e passo a ser uma criança, por sinal um gordinho invocado e, que continua marrudinho!


Foto 1 - Eu, gordinho invocado e meu irmão Clóvis (sim, aquele "carçudinho"); Foto 2 - Minha mãe Jonadyr, Eu, um pouco mais simpático, meu pai, o operário do Engenho Central, e meu irmão Clóvis ("carçudinho"); Foto 3 - Meu irmão Clóvis, sim aquele mesmo, Eu, razoavelmente simpático e meu paizão; Foto 4 - Meu primeiro cachorro de estimação o PINGO e eu simpatissísimo e; Foto 5 - A cegonha trouxe um novo irmãozinho o Eduardo, na cadeira, meu irmão Clóvis do lado direito (agora ex-"carçudinho") e Eu, que ganhei o posto de "carçudinho".
Já no posto de "carçudinho" oficial, estou no meio do meu irmão Clóvis e de meu pai Otávio, um Gigante, não só nesta foto mas para a vida inteira! No fundo o rio Tietê, não muito sujo.

Doce adolescência":

1.ª Comunhão, olhe que cara de santo!

Turma do Colegial, digo 2.º Grau, digo Ensino Médio, puxa como esse negócio muda, pois as fotos da escola Monsenhor Seckler são de 1983!

A foto central é da Turma de 1983 da escola Monsenhor Seckler se encontrando depois de 33 anos.
Transição, a vida na Caserna:
Nesta foto na direita com os colegas de Porto Feliz da 11.ª Bateria Antiaérea no Vietnam  - Pirapitingui em 1985

Faculdade e Namoro:

Comecei a fazer História em 1986 em 1987 encontrei o amor da minha vida, a mulher mais linda e adorável deste mundo: Sara Patrícia.

1.º Casamento:
Nosso casamento aconteceu no dia 6 de fevereiro de 1988, na Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens e foi celebrado pelo Padre Chico que infelizmente faleceu nesta semana (24/05/2017).


Só alegria:


Meu avô Toninho com minha avó Alice, meu pai e minha mãe, o noivo Jonhson e a Noiva Barbie, a avó Judith da noiva e a mãe da noiva Marlene.
1988 - 2016
Desta feliz união apareceu o Luiz Otávio:



Luiz Otávio e Eu com Berto Belo, com a vereadora Miraci e com a Mamãe e Papai.

Como nos casamos muito cedo muito cedo nos separamos, 1992-1993, e assim fui viver a vida de solteirão...


Com Luiz Otávio na casa de praia da Tia Cassilda
Muitas e muitas aventuras... Como por exemplo no grupo de direitos humanos Solidariedade Popular.

Foto 1 -Com o historiador Jonas Soares de Souza no Engenho Vassoural em Itu; Foto 2 no caminho de Cocorobó até Canudos na Marcha dos 100 anos do nascimento do Arraial; Foto 3 - Com dom Pedro Casaldaliga em Rio Maria - PA e; Foto 4 - com meu aluno e hoje também professor de História Noraldino em Monte Santo - BA.

2.º Casamento (sem comentários), de bom a pequena e linda Luíza:






Em 2004  povo de Porto Feliz me deu a honra de ser seu prefeito por dois mandatos (2005 -2012):

Neste conjunto de seis fotos procuro demonstrar algumas das atividades como prefeito participando de eventos, despachando e planejando no gabinete dando entrevistas ao meu amigo Décio Fernandes "a voz de Porto Feliz, a Terra das Monções", em uma atividade com alunos na Escola Municipal vereador Carlinhos, desfilando como Monçoeiro na Semana das Monções e participando de debates regionais e nacionais.
Mas continua as aventuras:
Em 2009 tornei-me Radioamador, primeiramente Classe C e hoje sou Classe A PY2AAE na foto meu rádio ic 718 hf, abaixo na pedreira de Varvitos contemplando o vagar do tempo e à esquerda acompanhado da Luíza à noite, vendo os andamentos da reforma da Gruta do Parque das Monções.

Também estreei um programa de TV pela TV Convenção chamado diálogos:


De volta às aulas em 2012: Escola Estadual Monsenhor Seckler em Porto Feliz/SP e Escola Municipal Flávio de Souza Nogueira em Sorocaba/SP:



Neste período alguns animais se incorporaram à família:


Pepita (Dalmata), Miete (Siamês), Juju (Vira-lata a única gata fêmea), Galileu (Brasilian Shorthair), Tigrão (Angorá) e os dois cachorrinhos da raça Shitzu Bolota e Rabito.

3.º e volta ao legítimo casamento. Em 2015 eu e a Sara resolvemos nos casar novamente, é meio difícil explicar, mas ficou assim, meu terceiro casamento foi com a primeira esposa novamente, entendeu? Não? Deixa pra lá, veja as fotos elas falam por si mesmo:



Bem vou ficando por aqui agradecendo a todos e a todas que expressaram quanto gostam de mim, espero que vocês gostem desta pequena foto-biografia e para terminar:


Um abraço a meus irmão Clóvis (isso mesmo o "carçudinho') e Eduardo e nesta foto a única tia que sobrou do lado do meu pai minha querida Tia Cassilda, uma verdadeira mãe para nós três.
Puxa fiquei mais cansado em fazer essa foto-biografia que durou essa tarde de domingo inteira do que quando "corri" na 90.ª São Silvestre.


Acho que esqueci de falar em algum momento meu amor pelos livros e pela escrita, fica para o final

Despeço-me com meus grandes amores:







Tchau:


Cláudio Maffei = 28/05/2017 = 18:45

DIA DA MORTE: COINCIDÊNCIA NA VIDA DE CERVANTES E SHAKESPEARE


CERVANTES E SHAKESPEARE



         Cervantes nasceu em Henares, Espanha e após estudos feitos ao acaso devido as deslocações de seu pai, um médico pobre, abraçou a carreira militar. Em 7 de outubro de 1561 foi ferido na batalha de Lepanto, no decorrer da qual a frota dos cristãos destruiu a dos turcos, ferimento esse que lhe inutilizou a mão esquerda.
         Mais tarde, feito prisioneiro pelos piratas, Cervantes ficou cativo em Argel durante cinco anos. Voltando à Espanha, escreveu um livro que o tornaria célebre: Dom Quixote de La Mancha, história de um pobre cavaleiro que percorria o país com o seu criado, Sancho Pança, para vingar as injustiças.
         Cervantes morreu em Madrid em 23 de abril de 1616, e, por coincidência no mesmo dia morria William Shakespeare, em Stratford-on-Avon, Inglaterra.


         Quando William chegou à idade de 16 anos, o pai quis empregá-lo no seu estabelecimento, mas o jovem apaixonado pela leitura e pela escrita foi para Londres, onde representou pequenos papéis de comediante.
         Encontrando-se em breve à frente de uma companhia, como autor e ator, William apresentava-se perante um público onde se misturavam aristocratas, burgueses e artesãos. Para todos os seus espectadores escrevia obras muito variadas, peças históricas, comédias e tragédias, criando personagens inesquecíveis.


Assim, desapareceram há mais de três séculos, dois dos maiores nomes da literatura num mesmo dia!

            

sábado, 27 de maio de 2017

CANUDOS UMA HISTÓRIA, UMA VIAGEM E UM LIVRO


Vai ser meio difícil explicar, mas em 1993, por prestar serviços voluntários num grupo de direitos humanos chamado Solidariedade Popular, tive a oportunidade de estar no sertão da Bahia. Metido a besta e a poeta, neste mesmo ano escrevi um livro de poesias, chamei-o de Palavras do Sertão, por que foi de lá que essas palavras vieram. Em 2001, ajeitei todo o material, inclui alguns textos explicativos do livro, do sertão e sobre Canudos, a obra estava realmente pronta, me senti um Homero das Caatingas, mas só em 2011, dez anos depois, reuni condições de editá-lo. Aqui o texto explicativo sobre a luta do Antônio Conselheiro:



UTOPIA DO SERTÃO
 Cláudio Maffei

O ano de 1993 foi festejado com muita reverência no norte da Bahia, principalmente em Canudos, cuja fundação completou um século. Foi ali que floresceu a utopia criada pelo Bom Jesus – como o povo do sertão chamava Antônio Vicente Mendes Maciel -, conhecido pela História como Antônio Conselheiro.

Maffei em 1993 durante Romaria dos 100 anos da Construção de Canudos


Hoje, a Canudos (ex-Belo Monte) de Conselheiro repousa irrequieta sob o açude de Cocorobó, construído pelo governo militar em 1968, numa tentativa de apagar a memória da guerra e da ferrenha resistência do povo do sertão.

Localização da cidade de Canudos no sertão Baiano

Escreve Edmundo Moniz, autor que bem retratou a verdadeira História de Canudos: “A primeira expedição contra Canudos foi comandada por um tenente; a segunda, por um major; a terceira, por dois coronéis que perderam a vida; a quarta, por quatro generais, numerosos coronéis, majores, capitães e tenentes. A primeira expedição compunha-se de 100 soldados; a segunda, de 600; a terceira, de 1.200; a quarta de cerca de 10 mil, num exército de 20 mil”. Continua Moniz: “A primeira, a segunda e a terceira foram abatidas em combates de horas; a quarta durou quatro meses e, por várias vezes, esteve prestes a ser destroçada. Salvou-se graças ao grande reforço que recebeu quando se achava em perigo, o que representou, pode-se dizer, uma quinta expedição. Entre a preparação das expedições e as batalhas travadas, a campanha de Canudos durou de 4 de novembro de 1896 a 6 de outubro de 1897. Não se tratava de uma simples insurreição de sertanejos, e sim, uma guerra civil.”

Atacantes de Canudos descansam já perto do arraial

Como puderam os sertanejos vencer ou enfrentar metade do Exército brasileiro? O que Antônio Conselheiro tinha que fascinava os sertanejos? Por que o interesse em destruir Canudos?


Conselheiro nasceu em Quixeramobim, no Ceará. Seu pai era comerciante, sua mãe faleceu quando ele tinha seis anos e três irmãs menores. O pai se casou novamente e o pequeno Antônio sofreu muito com a madrasta autoritária e agressiva. De gênio quieto, aprendeu a ler e começou a ter aulas com o professor Manuel Antônio Ferreira Nobre, aprendendo, com afinco, matemática, geografia, francês e latim. Sua educação foi muito importante para seu futuro fascínio. Quando estava com 27 anos, Antônio Maciel perdeu o pai, assumindo a tutela das irmãs e dos negócios, cuja dívida deixada o levou à falência. Casou as três irmãs e mais tarde fez o mesmo, mas foi infeliz no casamento. Depois de muitas mudanças, empregando-se como advogado, professor, juiz, entre outros, em cidades do Ceará, foi acometido de tremendo desgosto quando sua mulher, Brasilina, fugiu com um sargento.
Cenas do filme Canudos. Conselheiro é protagonizado por José Wilker

A partir daí, Conselheiro tornou-se peregrino e passou a vestir-se como ficou conhecido: bata azul, cabelos e barbas longas, com um bordão na mão sempre a caminhar e pregar, construindo e reformando igrejas, capelas e cemitérios.
Capelinha construída pelo Conselheiro na subida do Monte Santo (BA)

Em suas prédicas mostrava ser um grande intelectual, contrariando a historiografia conservadora que o chamava de demente e ignorante. Conhecia Santo Agostinho e a Utopia de Thomas More, Homero e Campanela, entre outras obras e autores, das quais provavelmente não tinham conhecimento os militares que o atacavam.


Após várias perseguições por parte das autoridades, tanto civis e militares quanto religiosas, já peregrinando pelo norte da Bahia e com um grande séquito de seguidores, Conselheiro decidiu construir a Utopia. Sabia, de antemão que não o deixariam em paz pelas suas pregações populares, anti-latifúndio e anti-injustiças cometidas pela República que acabava de ser proclamada.

Antiga Capela de Belo Monte (Canudos) inundada pelo Açude de Cocorobó

O ascetismo e a promessa de construção do Reino de Deus na terra fascinava o homem do sertão que vivia deserdado pela sociedade. Os que seguiam Conselheiro eram sertanejos pobres, jagunços estropiados, caboclos, negros ex-escravos, enfim, os sem-terra que sofriam humilhações e eram explorados pelos coronéis proprietários do latifúndio – até hoje o grande problema do Nordeste e do Brasil.


Em Belo Monte, todos eram bem acolhidos, todos eram irmãos, os que chegavam despojavam-se da ganância e, quando tinham alguma coisa doavam para ser repartida pela sociedade. Uma cidade assim no Nordeste só poderia ser vista como um paraíso para os filhos do sertão. Logo, o pequeno arraial passou a ser a segunda cidade da Bahia, com 30 mil habitantes, só atrás da capital, Salvador. Sua economia baseava-se principalmente na criação de cabras, cuja pele era exportada até para a Alemanha.

Retrato da seca e da morte na caatinga

Exemplo único de justiça no sertão, Canudos incomodava a ordem político-religiosa estabelecida pela República. Assim como Cuba hoje, Canudos era, para as elites, um mau exemplo que poderia ser seguido e, por isso, tinha que ser destruído.

Por onde o exercito passava não ficava pedra sobre pedra

As autoridades religiosas invejavam Conselheiro (ele continuou respeitando a religião católica, seus dogmas e sua hierarquia, sem nunca se autoproclamar ou servir como sacerdote), que arrebanhava mais ovelhas que os pastores da Igreja.
As autoridades políticas, insufladas pelos latifundiários e envolvidas com os interesses dos militares no jogo da sucessão presidencial, viram em Canudos uma chance de realçar as atitudes heroicas do Exército, demonstrando superioridade sobre os Casacas – termo que o general Floriano Peixoto usava para designar os civis. Derrotar um bando de sertanejos “fanáticos” e mal armados seria uma oportunidade para destacar-se daí um líder em condições de assumir o poder.

Sertanejo, neto de moradores de Belo Monte

O engano foi gigantesco. Canudos resistiu, desbancando vários chefes militares arrogantes, mostrando-se Conselheiro um estrategista militar que não tinha comparação com os melhores alunos da academia. A pretensa superioridade das forças da legalidade foi batida por uma estratégia superior: a guerra de guerrilhas na caatinga.

Crianças sertanejas e o meio inóspito do sertão

O total conhecimento do terreno e seu conseqüente aproveitamento, a utilização da superioridade tática em detrimento da superioridade estratégica possuída pelo Exército e seus canhões levaram Conselheiro a uma concepção de guerra que deixou estarrecidos os coronéis, majores e generais. A “fraqueza do governo”, como gritavam os sertanejos aos soldados, demonstrou a importância da utilização da guerra psicológica. Canudos não se rendeu, foi esmagada pela superioridade técnica e quantitativa do Exército que a combateu.

Secura da terra e ao fundo o açude de Cocorobó que cobriu Belo Monte de Conselheiro

A exemplar resistência do sertanejo, a viabilidade de uma sociedade justa, sem classes, em pleno sertão nordestino e a concretização da utopia conselheirista são a prova mais fiel da mentira que as elites colocam nas costas dos brasileiros:  a de que somos um povo pacífico e acomodado. A utopia de Canudos é a negação desta mentira e a afirmação da resistência popular do povo brasileiro, que sempre lutou e continuará a lutar por sua libertação.

Conselheiro depois de morto, foi desenterrado e sua cabeça foi levada para Salvador


Artigo publicado na revista Cadernos do Terceiro Mundo n.º 169 de Janeiro de 1994 pp. 21 e 22.
  

Veja também:

O NOME DA ROSA

O Nome da Rosa de Umberto Eco: Análise da Obra O Nome da Rosa  é um livro de 1980 escrito pelo italiano Umberto Eco. Em 1986 foi lançado o...

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